Análise de dados é resultado de cenário pós-rompimento da barragem do Córrego do Feijão, na Bacia do Paraopeba.  

Estudo realizado na Região 2 revelou a potencialização de doenças após enchentes. São arboviroses, saúde mental e dermatites.
Foto: Agência Brasil

Um estudo contratado pela Aedas sobre os danos em saúde e necessidades emergenciais da população dos municípios de Betim, Igarapé, Juatuba, Mário Campos, Mateus Leme e São Joaquim de Bicas, revelou centenas de danos sofridos pelas pessoas atingidas nos referidos municípios, dentre os quais, o surgimento e/ ou agravamento de doenças crônicas não transmissíveis, doenças agudas, inflamatórias, danos ao sistema respiratório e ao sistema gastrointestinal, dermatites (doenças de pele), aumento dos casos de dengue, Zika, Chikungunya, depressão e uso de medicamentos psicotrópicos ou drogas psiquiátricas

Para os pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (CEPESC) e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), consultoria especializada em saúde contratada pela Aedas, os danos à saúde mental das pessoas atingidas dessa região são uma das maiores consequências do rompimento da barragem da Vale S/A. Assim, sentimentos como tristeza, ansiedade, síndrome do pânico, medo, desânimo, revolta e até pensamentos suicidas, foram identificados em todos os municípios pesquisados e com um agravante, a limitação de atendimentos voltados ao cuidado de saúde mental no serviço público de saúde. 

Destaca-se que os impactos do desastre sociotecnológico no sistema de saúde, causados sobretudo, pelo aumento expressivo e abrupto de pessoas adoecidas nos municípios atingidos,  evidenciou ainda mais as dificuldades enfrentadas pelo serviço público de saúde, como a insuficiência de profissionais da atenção primária e de profissionais especializados para o atendimento de pessoas atingidas por desastres, além da limitação na oferta de exames e de medicamentos, e da necessidade de melhorias da infraestrutura e dos serviços de saúde. 

Assim, a integração dos estudos quantitativo e qualitativo demonstrou que os danos à saúde da população atingida são profundos, complexos e de longa duração, inclusive em perspectiva geracional, pois se acentuam na condição de vida das mulheres, idosos, crianças e adolescentes. 

Como foi feito o estudo? 

A consultoria conversou com mais de 480 pessoas atingidas da Região 2, dentre os quais, lideranças dos Povos e Comunidade de Tradição Ancestral de Matriz Africana – PCTRAMA, através de entrevistas individuais e rodas de diálogo sendo possível identificar dezenas de danos à saúde física e mental, bem como os impactos do rompimento da barragem da Vale S.A no sistema de saúde e as necessidades emergenciais das pessoas atingidas. Todas as atividades ocorreram de forma remota devido a pandemia da Covid-19. O relatório técnico final foi concluído e entregue em dezembro de 2021. 

Qual o objetivo? 

A consultoria de saúde na Região 2 teve como objetivo realizar um estudo aprofundado, de forma quantitativa e qualitativa, sobre: I) os danos em saúde e necessidades emergenciais da população dos municípios desta região; II) os impactos do rompimento no sistema de saúde pública e; III) as necessidades emergenciais causadas pelo desastre sociotecnológico. Para tanto, foram levantados dados sobre os danos causados à saúde física e saúde mental das pessoas atingidas, por meio de entrevistas com pessoas atingidas, com profissionais de saúde e de educação, além de analisados diversos indicadores de saúde nas principais bases de dados do SUS. Destaca-se que o documento elaborado pela consultoria é fundamental para a luta pela reparação integral dos danos causados pelo rompimento da barragem da Vale S.A e para subsidiar o processo judicial podendo ser reconhecido como prova dos danos à saúde. 

Recomendações da Consultoria para a melhoria do atendimento a população atingida: 

Dentre as recomendações da Consultoria especializada em saúde destacam-se: 

  • Capacitação das equipes da Atenção Primária em Saúde/Estratégia Saúde da Família para o atendimento das pessoas atingidas; 
  • Investimento nos serviços e equipes de saúde locais;  
  • Ampliação das equipes da Rede de Atenção Psicossocial e equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família; 
  • Educação Permanente em Saúde das equipes de saúde mental; atuação intersetorial para o atendimento das demandas levantadas pela população atingida e qualificação dos serviços com a oferta de práticas e serviços não medicalizantes e com vistas à promoção da saúde. 

Texto: Equipe Temática de Saúde da Região-2