Chamada de Espaço 2, atividade reuniu propostas que serão inseridas no esboço da proposta definitiva a ser apresentada no próximo encontro 

Mais de 50 pessoas atingidas das comunidades e distritos de Brumadinho participaram do Espaço 2 com a Entidade Gestora no sábado (20). O encontro debateu os temas principais da Proposta Definitiva, que está em construção, para gestão dos Projetos de Demandas das Comunidades (Anexo I.1): governança, plano participativo e fluxo de projetos e crédito e microcrédito, e programa de crédito e microcrédito. O momento foi realizado em formato presencial no centro Cultural Casa do Camilo, em Brumadinho. 

O espaço foi aberto com um minuto de silêncio em homenagem e memória às 272 vítimas fatais do rompimento em Brumadinho. Em seguida, a Cáritas apresentou os conceitos gerais presentes na proposta básica de gestão do Anexo I.1. Nesse momento, foram tratados os eixos e instâncias do modelo de participação, decisão e controle a serem feitos pelas pessoas atingidas de toda a Bacia do Paraopeba e Represa de Três Marias 

Após a explicação geral, as pessoas atingidas se dividiram em grupos durante dois momentos. Na parte da manhã, um primeiro momento para debate de sugestões e desafios para a construção do modelo de governança e plano participativo. 

No segundo momento, no turno da tarde, o foco foi no debate sobre crédito e microcrédito. Nesse momento, algumas perguntas estimularam as reflexões e posicionamentos: como o crédito e microcrédito pode favorecer a reparação coletiva? Como o microcrédito deve ser facilitado para alcançar populações mais necessitadas? E sobre a criação de fundos rotativos e bancos comunitários na Bacia do Paraopeba.  

Os conceitos e informações estão detalhados no Manual das Comunidades, produzido pela Entidade Gestora

A coordenadora do Anexo I.1, Anna Crystina Alvarenga, comentou sobre o objetivo principal do Espaço 2. 

“É o momento da gente dizer o que a Entidade Gestora tem para o Anexo I.1. A construção dessa sugestão vem calcada, baseada, em vários documentos e construções que as próprias pessoas atingidas vêm construindo nesses últimos anos. A ideia é que a gente coloque para as pessoas atingidas para que elas entendam se aquilo está de acordo, se não está de acordo, o que tem que ser melhor, o que tem que ter mais prioridade. Enfim, fazer todas as sugestões possíveis para serem agregadas à proposta definitiva”, explicou. 

Quem mora conhece 

A defesa do controle social e da participação das comunidades são pautas reforçadas pelos atingidos nos projetos comunitários. Marta Rodrigues, de São José do Paraopeba, defende que as pessoas atingidas têm total condição de estarem à frente da execução e implementação desses projetos. 

“Eu acho que melhor para conhecer as comunidades são quem mora. Porque quem vem de fora, eles vão ver o que está acontecendo, mas eles não tão vivendo aquele momento, não sabe o que passa, não sabe o que a gente faz nas comunidades da Zona Rural”, pontuou a atingida. 

Marta faz parte da Cooperativa Alimentícia do Distrito de São José do Paraopeba, que produziu os lanches servidos na atividade. Salgadinhos, palitinhos, pão de queijo e outros lanches alimentaram os presentes e são exemplos da capacidade produtiva que os atingidos de Brumadinho têm de implementar inciativas coletivas de geração de renda. 

“A gente depende de recurso para estar levando pra frente e dando oportunidade a outras pessoas para estar trabalhando com a gente. O intuito da cooperativa é para surgir serviço para o povo da Zona Rural, pra não precisar sair de suas casas, vim pra Sede para trabalhar e gastar condução e tudo”, contou Marta sobre a necessidade de autonomia das comunidades rurais. 

Para ela, o acesso à internet e a falta, inclusive, de energia elétrica em algumas localidades da Zona Rural são grandes obstáculos que ainda precisam ser vencidos e solucionados por outros programas de reparação. “Em questão de energia e de internet, nós estamos de pé e mão quebrados”, disse.  

Projetos que saiam do papel  

Talys Henrique Batista, de São Conrado, trabalha com mecânica e manutenção. Ele compartilhou a sua preocupação sobre os recursos e sua suficiência para atender às demandas de todas as comunidades. 

“Eu acredito que pode mudar muita coisa quando esses projetos saírem do papel. Porque inúmeras pessoas têm vários projetos. Como a gente estava conversando hoje, um grupo tem um projeto X, outro tem um projeto Y, outro tem um projeto Z. A gente vê falar nos projetos e a gente vê falar em reparação de danos. Quando essa verba vier, ela vai ser suficiente pra fazer tudo isso?”, refletiu o mecânico. 

Para Talys, é preciso que seja respeitada a expectativa das pessoas atingidas, passados mais de cinco anos do rompimento. 

“Então, assim, a gente espera que seja o quanto antes porque a gente esperou 5 anos e até agora nada foi feito. Quem garante que nesses dois anos seguintes que tá sendo falado que vai se começar a aplicar esses projetos, vão mesmo fazer isso? Nesses dois anos que tem por aí vai mesmo sair do papel ou vai continuar no papel e vai mais cinco anos, seis, depois mais dois. A gente espera que seja o quanto antes”, afirmou.  

Espaços preparatórios 

Durante este período de 90 dias de construção da Proposta Definitiva, a Aedas tem dado suporte às comunidades oferecendo espaços preparatórios com a assessoria técnica antes dos momentos com a Entidade Gestora. Nos espaços preparatórios, a proposta básica e o Manual das Comunidades são debatidos com as pessoas atingidas abordando temas como governança, Plano Participativo, fluxo de projetos e fluxo de crédito e microcrédito. 

“Todo esse processo que a Aedas vem fazendo desde fevereiro foi muito importante pra conseguir aprofundar mais sobre esses temas e também sistematizar, organizar, as principais dúvidas e também propostas que já vão sendo construídas nesses espaços”, explicou Juliana Funari, coordenadora na Aedas da equipe que acompanha o Anexo I.1.  

Entrega de documento 

Um dos papeis da ATI nesse processo dos 90 dias é auxiliar no processo de formulação das propostas das comunidades junto com a Entidade Gestora. No sábado, foi entregue pela Aedas um documento com propostas e questões da Região 1 para diálogo com a Entidade Gestora

“Um documento organizado com as propostas das pessoas atingidas da Região 1, tanto sobre o plano, como sobre a governança e fluxo de projetos e microcrédito. Entendo que isso facilita na construção dos encaminhamentos aqui no espaço e também no processo de tratamento dessas informações pós-Momento 2, em que a Entidade Gestora vai trabalhar o que saiu de propostas nas regiões e esses documentos ajudam a organizar essas propostas”, informou Juliana Funari, da Aedas. 

Próximos passos 

Técnicas e técnico da Cáritas e Aedas fazendo a relatoria das propostas e encaminhamentos do espaço.

O Espaço 2, de aprofundamento da Proposta Definitiva, também está marcado para ocorrer na Região 2 no próximo sábado, 27 de abril.  

No dia 4 de maio, está indicado o Espaço 4 em Brumadinho. Nesse momento, será feito o debate do rascunho da proposta definitiva e preparação para o Encontro Inter-regional, a assembleia geral que vai reunir atingidos de todas as regiões atingidas. Essa assembleia está indicada para ocorrer no dia 18 de maio.  

A coordenadora do Anexo I.1 explicou com mais detalhes o objetivo do Espaço 4.  

“O próximo passo é a gente pegar as sugestões de todas as 5 regiões, de todas as especificidades, e construir o primeiro rascunho da proposta definitiva, com todos os dissensos, com todos os consensos em relação a cada ponto, a cada tema. Vamos submeter, ainda em âmbito regional, à R1 por exemplo, essa proposta definitiva. Para que, no Momento 5, que estamos chamando de Assembleia Geral, a gente faça uma grande assembleia, um grande momento de debate democrático em cada ponto que não tem consenso”, informou Anna Alvarenga, da Cáritas.  

Como encaminhamento, foi pedido que a Aedas realize espaços preparatórios presenciais antes do Espaço 4 com a Entidade Gestora. 

Ciranda 

Para garantir a participação das crianças, a Ciranda contou com muitas brincadeiras e atividades. Durante o Espaço 2 em Brumadinho, foram feitas oficinas de colagem e de massinhas de modelar e também o Cine Aedinhas, com filmes educativos. A Ciranda é articulada pela equipe de Pedagogia da Aedas com o apoio de técnicos e técnicas de outras equipes. 

Texto e fotos: Valmir Macêdo