Atos ocorreram nesta quarta-feira, 25 de janeiro.

Centenas de pessoas participaram nesta quarta-feira (25) dos atos que marcaram os quatro anos do rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, ocorrido na mesma data em 2019.  O desastre crime, um dos maiores da história do Brasil, matou 272 pessoas e devastou a bacia do Rio Paraopeba e Lago de Três Marias. Três joias ainda não foram encontradas.

As atividades da IV Romaria Pela Ecologia Integral a Brumadinho tiveram início por volta das 7h30 com a acolhida dos participantes nas dependências da igreja matriz de São Sebastião e uma coletiva de imprensa com lideranças atingidas, organizadores, movimentos populares e Assessorias Aécnicas Independentes (ATIs), como a Aedas.

Leila da Silva, do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), representando as ATIs, destacou na entrevista coletiva o cenário de insegurança hídrica causada pelo rompimento:

A reparação ambiental não é só urgente como necessária para interromper esse ciclo de morte. Esse crime se repete no dia a dia para essas famílias em sua alimentação, nas suas criações, no solo. A gente tem constatado, por exemplo, que aqui em Brumadinho, mais de 44% da água para consumo humano possui elementos químicos como ferro e manganês em níveis de alteração, elementos que compõem os rejeitos.

Os pobres sempre foram criminalizados, e, hoje, a natureza é criminalizada: a culpa é da chuva, a culpa é do rio, que cospe essa lama tóxica, contaminada que tem nome: é rejeito. Tem responsáveis: os criminosos. Só haverá justiça se os atingidos e as atingidas forem ouvidos, participarem efetivamente das tomadas de decisões, para que de fato possamos anunciar esperança. Águas para a vida, águas para todos!

Também participaram da entrevista coletiva Dom Vicente Ferreira, da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), Maria Regina da Silva, da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (AVABRUM), Cacica Célia Angohô, liderança indígena da Aldeia Katurama, Mãe Indoloyá, do Terreiro Nzo Atim Kimbé Loyá de Esmeraldas, Valéria Antônia Carneiro, agricultora assentada da reforma agrária e atingida, Frei Rodrigo Peret, da Rede Igrejas e Mineração, Marcelo Barbosa, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e José Geral do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Uma missa presidida por Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, foi celebrada na Praça da Matriz. Os atingidos usaram faixas para reivindicar direitos e girassóis para homenagear as joias. Em seguida, os “romeiros” seguiram em caminhada até o letreiro de Brumadinho, onde ocorreu um ato público organizado pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo rompimento (AVABRUM).

“Nós só vamos experimentar cristo se a gente não abandonar nossos irmãos que foram triturados por um crime hediondo. Se eu não enxergar Deus em Brumadinho, não enxergaremos em nenhum outro lugar” – Dom Vicente Ferreira

De acordo com a coordenação da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), organizadora do evento, a Romaria é “um clamor profético de anúncio e denúncia amparado em eixos que tratam do cuidado com o planeta e duas criaturas”: memória pelas joias, justiça contra a impunidade dos responsáveis e esperança de novas alternativas de cuidado com os mais pobres.

Ato no Letreiro


Caminhada e encontro no letreiro: ato por Justiça em memória das vítimas fatais, as joias. Após a missa, os romeiros seguiram em caminhada para o encontro com o ato em homenagem às joias, realizado pela Avabrum. O ato acontece todo dia 25 de cada mês no letreiro de Brumadinho, como forma de marcar a luta e a esperança por justiça.

Além dos familiares das joias, estiveram presentes autoridades públicas e representantes de organizações populares como o ministro das minas e energia, Alexandre Silveira, os deputados federais Rogério Correia (PT), Padre João (PT), Célia Xacriabá (PSOL), e a deputadas estaduais Beatriz Cerqueira (PT) e Bella Gonçalves (PSOL). Também estiveram o procurador geral de justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Junior, o vereador de Brumadinho Guilherme Morais e Gabriel Parreiras, e um representante da prefeitura do município.

Às 12h28, familiares e romeiros se reuniram no abraço simbólico ao letreiro e lançaram aos céus balões que simbolizaram cada vida ceifada.

Devastação

A avalanche de rejeito de minério da barragem da Vale, após matar 272 pessoas, percorreu cerca de 600km ao longo da Bacia do Rio Paraopeba espalhando destruição por onde passou mudando para pior a vida de milhares de pessoas com danos ao meio ambiente, à saúde, além de agravar os níveis de violência no território.

Um exemplo é a qualidade da água para consumo humano que, segundo pesquisa contratada pela Aedas, em 44% das amostras coletadas há contaminação por elementos como alumínio, arsênio, bário, chumbo, cobalto, cromo total, ferro, manganês, níquel, selênio, zinco, vanádio, lítio e urano.

“Hoje, estamos aqui em uma mistura de sentimentos. Estamos aqui pelas pessoas que foram moídas por aquela avalanche de minério, muitas delas, das vítimas, estavam com o prato na mão para o horário sagrado do almoço. A Vale sabia que isso ia acontecer. E hoje, ela segue matando, dia a dia. Por que uma justiça tão demorada?” – Maria Regina Silva (AVABRUM)

Justiça

Há quatro anos, a população atingida pelo rompimento da barragem da Vale busca pela reparação integral dos danos, a recuperação dos municípios impactados e, destacadamente, a punição dos possíveis culpados pela tragédia que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), tem fortes indícios de crime.

Nesta terça-feira (24), a Vale, a Tüv Sud e mais 16 pessoas se tornaram rés por homicídio qualificado em denúncia apresentada pelo MPF e aceita pela Justiça Federal. Além de homicídio, os acusados responderão por crimes contra a fauna, a flora e crime de poluição.

“Hoje é um dia de memória, de tristeza, mas também de luta por direitos e justiça. Lutamos para que sejam encontradas as três joias ainda não encontradas, pela restauração do meio ambiente e responsabilização dos culpados.  De concreto para a vida dos atingidos, até hoje, quase nada aconteceu, sofrem sem água, sem alimento de qualidade. Nós queremos que os culpados sejam julgados por um júri popular” – José Geraldo (MAB)

Córrego do Feijão, epicentro do desastre-crime

25 é todo dia! Para que não se esqueça. Para que não mais aconteça!

Missa em Memória às 272 joias e por suas famílias no Córrego do Feijão | Foto: Felipe Cunha


Todo dia 25 de cada mês, desde o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, acontece uma missa na Igreja Nossa Senhora das Dores, localizada na comunidade epicentro do desastre-crime da Vale S.A.

No dia de hoje, dia de luto e de luta, ano que se completa 4 anos do rompimento, houve uma celebração de caráter especial e religioso.

O encontro no Córrego contou com várias comunidades da região, com a presença de atingidos e atingidas dos quilombos de Brumadinho, do distrito de São José do Paraopeba, Melo Franco, Colégio e Martins, além dos moradores e ex-moradores do Córrego do Feijão, com cerca de 100 pessoas.

O dia amanheceu com reza do Terço às Mães que oram pelos Filhos, em seguida, houve Celebração em Memória às 272 joias e por suas famílias.

Às 12h28 – hora que há 4 anos atrás rompia a barragem localizada na comunidade do Córrego – o Sino da Igreja tocou 272 vezes em homenagem às joias, com um coro de “Presente” em cada nome clamado no altar da igreja.

A comunidade

O Córrego do Feijão é uma comunidade rural, de modos de vida tradicional, e em virtude das obras de reparação, os moradores denunciam danos ao sítio arqueológico e do muro centenário de pedras devido ao aumento de tráfego de caminhões e maquinários pesados que circulam no território.

Grande parte da comunidade se mudou e teve suas casas compradas pela empresa poluidora-pagadora.

Dentre as vítimas do rompimento, dezenas de pessoas viviam no Córrego do Feijão e trabalhavam na Pousada Nova Estância ou na Mina Córrego do Feijão.

Devido à proximidade com a mina, muitos trabalhadores mantinham relações de amizade na comunidade, o que gerou um luto coletivo.

Para Carmem Sandra, moradora do Córrego do Feijão:

“Hoje é um dia de luta e temos que construir pontes, e não muros. Cobrar por justiça e para que o desastre-crime não caia no esquecimento”.

AedasAtos ocorrem nesta quarta-feira, 25 de janeiro. Centenas de pessoas participam nesta quarta-feira (25) dos atos que marcam os quatro anos do…

Ciranda

Durante a manhã, na entrevista coletiva, as crianças Alice e João Vitor, respectivamente, fizeram a leitura dos textos “Canetada da Morte” e “Carta das Crianças” sobre os impactos do rompimento na vida das pessoas da região e especialmente para as crianças. “O crime da Vale continua todos os dias impactando nas nossas brincadeiras, na nossa alimentação, na escola e no caminho para a escola e na nossa relação com a natureza”, disseram. Veja abaixo as cartas:

Semana de Luta e de Luto

Do dia 22 a 25 de janeiro, uma série de atos e manifestações foram realizados clamando por justiça, memória e encontro de todas as joias do desastre-crime da Vale S.A, ocorrido em 25 de janeiro de 2019.

Dentro da programação de atividades dos 4 anos do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, também aconteceram:

Dia 22: Dia da Memória: familiares e ciclistas percorreram Brumadinho com nomes das 272 vítimas fatais.

Dia 23: “Ato Pelos Rios, Pelas Águas e Pela Vida”, em São Joaquim de Bicas.

Dia 24: Seminário Cidades Impactadas pela Mineração e Carreata por Justiça, ambos em Brumadinho.

Dia 25: Atos “Indenização Justa Já!” e “Pela Reparação Integral dos Crimes nas Bacias do Rio Doce e Paraopeba”, em Belo Horizonte.