Os danos à educação nos territórios atingidos devem ser considerados na construção da reparação.

É na escola, inclusive, que são abrigadas as famílias em situação de extrema vulnerabilidade. Em Brumadinho, 12 escolas estaduais viraram abrigos com as chuvas de 2022 Crédito: Antônio Cruz/ABr.
É na escola, inclusive, que são abrigadas as famílias em situação de extrema vulnerabilidade. Em Brumadinho, 12 escolas estaduais viraram abrigos com as chuvas de 2022 Crédito: Antônio Cruz/ABr.

Os espaços de educação são ambientes de acolhimento e por isso a eles chegam as demandas e os problemas enfrentados pelas famílias e comunidades atingidas. São muitos os relatos de educadoras e educadores que contam o aumento nos desafios diários, que vieram ou que ganharam mais força com o rompimento da barragem.

Elania Aparecida de Assis, educadora e atingida da região de Brumadinho, relembra a sobrecarga vivida pelos profissionais. “Os brumadienses são vítimas e a gente na escola era vítima tendo que acolher vítima. Então isso foi massacrante, isso foi assim, os profissionais da educação passaram por uma etapa muito complicada. A gente era psicólogo, era pai, era vítima,” contou.

Por serem áreas de atuação muito importantes, a Educação e os Serviços Socioassistenciais têm uma equipe específica na assessoria técnica da Aedas em Brumadinho e nos municípios da Região 2. O objetivo é levantar e compreender os danos sofridos e organizar propostas de reparação.

O diálogo com as profissionais atingidas evidenciou a ausência da educação contextualizada e preventiva no currículo escolar. Também se constatou que os danos causados pelo rompimento afetaram diretamente a realidade educacional dos munícipios e os métodos do ensino aprendizagem.

“Muitos de nós abordamos esse assunto na sala até mesmo para sondar nossos alunos, se tinha algum deles que estava em situação mais vulnerável, as vezes algum que perdeu algum familiar… questão nesse sentido. Então, foi mais uma iniciativa do próprio professor com sua turma. Mas, nada formal, nada a nível institucional em projeto organizado”, contou Isabel Cristina de Oliveira, educadora de São Joaquim de Bicas.

Ranúzia Netta, da equipe da Aedas, reforça a importância de reconhecer os danos no cotidiano da educação e da escuta e participação das pessoas atingidas que atuam nessa área.

“Destacamos como importante nesse processo o reconhecimento da violação que está direcionada à educação e de como se consolida nas ações e práticas educativas. Pois, pensar a reparação integral, é também pensar na educação formal, informal que compõem as relações sociais, apontando construções e metodologias para a não repetição”, destacou.

LEVANTAMENTO DE DANOS E PROPOSTAS PARA A EDUCAÇÃO

Propostas para a área de educação foram reunidas na Matriz de Medidas Reparatórias Emergenciais, que aponta ações para fortalecimento da merenda e da qualidade da água, acompanhamento psicopedagógico e direito à juventude, dentre outros.

Além disso, a equipe da Aedas auxiliou as comunidades no processo de identificação dos danos à educação no Plano de Ação Comunitário e na elaboração de propostas de projetos de fortalecimento das políticas públicas, previstos nos Anexos 1.3 e 1.4 do Acordo.

Esses levantamentos organizados são prova de que as educadoras e educadores têm propostas para a reparação nos seus territórios e que devem ser considerados nesse processo.

“A gente tem a consciência também que os trabalhadores precisam ser atendidos nas suas individualidades, nas suas discussões, nas suas relações humanas, nos seus direitos humanos”, afirma Lilian Paraguai, professora atingida de Brumadinho.