O acionamento do Plano de Ação em Itatiaiuçu completa um ano e famílias atingidas esperam reparação integral

08 de fevereiro de 2019 é acionado o Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) pela ArcelorMittal em Itatiaiuçu. Por volta de duas da manhã, famílias são tiradas de suas casas com gritos: “a lama está chegando”, “Você quer morrer?”, “Saia de casa, corre”. Crianças, jovens, adultos, idosos (as) saem como podem, do jeito que estavam, saem levando o medo de deixar suas coisas, mas pensando em salvar suas vidas e a dos entes queridos.
Choro, angustia, incertezas e desespero. Todos estes sentimentos se misturam na Pracinha de Pinheiros, um lugar seguro na comunidade, quando as famílias começam a chegar. Troca de olhares, o silêncio da voz traz todas as palavras no olhar das pessoas. A lama, cadê a lama? A lama não veio. A barragem não rompeu. Mas ela ainda existe. A lama está no imaginário de cada pessoa de Pinheiros, de Lagoa das Flores, de Vieiras. Cada família que teve que sair de casa sonha com a lama chegando. E não só as que saíram de casa, mas as pessoas que vivem nas comunidades atingidas.
A lama, cadê a lama?

“Eu olho pro quintal e vejo a lama, quero sair correndo, chamo o Cruz, quero chamar os vizinhos, aí vejo que não é real” – Dona Lia, Pinheiros. “Mãe, quem vai ficar de vigia hoje à noite? Meu filho me pergunta isso todas as noites, ele só dorme se eu ou o pai dele ficar acordado para vigiar se a lama vai chegar”. – Sandra Maria, Lagoa das Flores. “Achei que a lama estava chegando, achei que ia morrer, escutávamos a sirene e peguei o que pude” – Saimon Lucas, 10 anos, Pinheiros. “Eu acho que eu cheguei perto de sentir um pouco da dor daquele pessoal de Brumadinho. No dia do acionamento eu não estava aqui em casa, minha mulher ligou para mim no desespero. Na minha cabeça, a barra em estava descendo, então eu já comecei a projetar na minha mente imagens do que eu já tinha visto, e entrei em pânico, dirigi de maneira irresponsável para chegar aqui rápido pra dar apoio a ela, saber o que tinha acontecido, sempre ligando, dirigindo, dirigindo e ligando pra ela, para saber. O meu medo era de estar assim… chegar aqui e minha família estar debaixo da lama” – Ezequiel Matias, Pinheiros.
É, a lama está aí, na cabeça, no sonho, na conversa do dia a dia e no comprimento do vizinho (a) na rua. E falo de novo: a lama não veio, a barragem não rompeu. Mas há risco.
08 de fevereiro de 2020: um ano do acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) da ArcelorMittal.Não houve rompimento da barragem Serra Azul da Arcelor, mas a lama invisível continua assustando as famílias que vivem buscando uma Reparação Integral. Com o acionamento do PAEBM, 52 famílias tiveram que sair de suas casas e outras 96 recebem auxilio emergencial já que não podem acessar suas residências ou postos de trabalho. No total, são 148 famílias que estão na zona de autossalvamento (ZAS), segundo o estudo de dam break (mancha da lama) realizado pela ArcelorMittal.
Mas são mais as pessoas atingidas! Moradores e moradoras de Pinheiros, Lagoa das Flores e Vieiras sentem o medo de um possível rompimento, sofrem com a incerteza do que vai acontecer e questionam: E agora?

O acesso a algumas áreas das comunidades estão proibidas, o comércio perdeu vendas, as famílias já não compartilham com os parentes porque existe o medo de ir a Itatiaiuçu. As pessoas não tem tranquilidade para passar o fim semana nos sítios. A vida está em pausa, na espera do que vai acontecer. Na vida provisória, as famílias sonham com a reparação integral e o retorno à vida que tinham antes.
O que esperar de 2020? Reparação Integral? Retorno a suas vidas? Nada é certo. Mas há esperança e força para seguir na luta.
