Seminário Temático: mulheres quilombolas e o direito a participação informada
Os Seminários Temáticos de Mulheres marcam mais um ciclo de espaços participativos promovido pela Aedas junto às pessoas atingidas. O objetivo principal é promover momentos de discussão focados na participação informada das mulheres atingidas sobre o Anexo 1.1, que trata sobre governança popular, e na construção da Matriz de Danos e Reconhecimento.
Os seminários de mulheres foram iniciados no dia 22 de março e foram realizados até o dia 02 de abril. Foram 14 seminários, sendo seis na Região 1, no município de Brumadinho, com um exclusivo para as mulheres quilombolas. Na Região 2 foram realizados 8 seminários distribuídos em todos os municípios, e um exclusivo para as mulheres atingidas que fazem parte dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA).
Seminários Presenciais

No dia 02 de abril, na comunidade quilombola de Ribeirão, cerca de 14 mulheres e 15 crianças das comunidades quilombolas de Ribeirão, Rodrigues e Sapé participaram do seminário presencial. Os seminários estão dentro da metodologia dos Ciclos de Debate, que têm a proposta de debater os danos identificados para a construção da Matriz de Danos e Reconhecimento.
“O número de mulheres é maior, mas os homens é que falam mais”
Os Registros Familiares feitos pela Aedas entre 2020 e 2022 mostram que mais de 70% das mulheres são as referências familiares no território. Mesmo com esse dado expressando que a participação das mulheres é maior nos espaços participativos, ainda assim, em campo, as mulheres atingidas alegam que suas vozes ainda não recebem a atenção e acolhimento necessário.
Dona Maria Matuzinha Graças, quilombola, mulher negra atingida e referência comunitária, comentou que “o número de mulheres é maior, mas os homens é que falam mais”.
Estruturalmente, as mulheres foram afastadas dos espaços de decisão em nossa sociedade e o processo de empoderamento tem possibilitado que mais mulheres consigam superar as barreiras estruturais para integrar os espaços participativos juntamente com outras mulheres.
No caso das mulheres quilombolas, as dificuldades de acesso das comunidades, a sobrecarga de trabalho e os problemas para acessar a internet são alguns dos desafios que comprometem a participação nos espaços de diálogo sobre a reparação.

“O cotidiano das mulheres, negras e quilombolas nessa sociedade estruturada pelo racismo faz com que dores profundas sejam naturalizadas e silenciadas, para que essas vozes ecoem precisamos de espaços de formação e de escuta. A equipe de monitoramento de gênero deseja estar próximo dessas mulheres, construindo com elas esses espaços formativos”, pontuou Thacya Silva, da equipe de monitoramento de gênero da Aedas.
É importante ressaltar que os seminários marcam um ponto interessante no processo de construção da reparação. Apesar de ter um caráter mais introdutório, nos seminários é realizada uma síntese importante sobre os espaços participativos anteriores, demonstrando, através dos dados, como a presença e protagonismo das mulheres é uma constante na luta pela reparação dos danos.
Participação informada é um direito

Durante os Seminários Temáticos, algumas reflexões são conversadas com atenção, respeito e cuidado, como por exemplo, a necessidade de incluir as questões de raça e gênero na centralidade do processo de reparação integral. Essas questões são ainda mais importantes quando o assunto é a construção da Matriz de Danos e Reparação e a governança popular, por se tratar de momentos decisivos para toda a Bacia do Paraopeba. É a partir dos espaços de governança, por exemplo, que as pessoas atingidas terão mais autonomia para propor, gerir e fiscalizar os recursos e é indispensável que estejam preparadas e preparados para lidar com cada etapa desse processo.
“É um diálogo importantíssimo com as mulheres quilombolas, saber como elas foram e são afetadas com esse desastre e como elas desejam o processo de reparação. Exatamente porque 92% das mulheres desses territórios que são assessoradas pela Aedas afirmam não desejar sair dos quilombos. Esse sentimento de pertença e desejo de permanência é a força de luta dessas mulheres e é fundamental que elas estejam bem-informadas de todo o processo”, nos contou Thacya Silva, da equipe de monitoramento de gênero da Aedas.
Ciranda é a inclusão das crianças no processo de reparação
A Ciranda é um espaço de acolhimento e escuta ativa das crianças organizado pela equipe de Pedagogia da Aedas. Ao compreender as crianças como sujeitos de direitos com demandas específicas, se faz necessário possibilitar a participação delas nos processos e temas que dizem respeito sobre as suas vidas e experiências. Dessa maneira, as crianças Quilombolas são acolhidas seguindo o protocolo de consulta de suas comunidades.
“As metodologias utilizadas enfatizam a percepção das crianças inseridas no processo de reparação dos danos que, a partir do conteúdo proposto para ser trabalhado com a população adulta, a equipe realiza um planejamento sobre as mesmas temáticas com a linguagem específica voltada para a infância. Dizer sobre a reparação é também pensar na garantia de direitos delas enquanto crianças atingidas”, equipe de pedagogia.
A participação das crianças, respeitando as suas experiências e trajetórias, tem sido considerada uma das frentes da luta pela reparação integral.
“Geralmente eu vinha na reunião e ficava cochilando, e quando eu ficava em casa não tinha nada para fazer então eu gostei de vim pra essa Ciranda de hoje, foi bem legal mesmo”, contou Maria Clara Oliveira Cândido, criança atingida.
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