Além das vozes das pessoas atingidas, o momento contou com a presença de representantes da educação, partidos, sindicatos, associações e assessorias técnicas independentes
Seminário teve presença de pessoas atingidas dos municípios de Ipatinga, Naque, Timóteo, Caratinga, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso

O auditório do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) – Campus Ipatinga recebeu, na noite da última quarta-feira (2), as discussões em torno das pautas de interesse das pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, de responsabilidade da Samarco (Vale e BHP Billiton) no “Seminário Regional Vale do Aço: a repactuação que queremos!”. Além das vozes das pessoas atingidas, o momento contou com a presença de representantes da educação, partidos, sindicatos, associações e assessorias técnicas independentes. A ação de debate foi organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Com a expectativa da assinatura da repactuação, o novo acordo que deve destinar recursos e ações estratégicas para as regiões atingidas, as pessoas atingidas se posicionam por mais participação neste processo. É por isso que um documento que reúne as principais reivindicações ao longo da Bacia do Rio Doce foi lido na abertura do Seminário. As pautas organizadas são fruto do acúmulo dos mais de sete anos em que a busca por direitos ceifados ou ignorados pelas mineradoras se tornou compromisso na vida das milhares de pessoas atingidas em toda a Bacia.

Documento reúne principais pautas de reivindicação na Bacia do Rio Doce Fotos: Glenda Uchôa/Aedas

Entre vários destaques, o tema da educação foi um dos pontos intensificados no espaço do Instituto Federal. O professor Alex de Andrade, diretor do Instituto no campus Ipatinga, lembrou que a instituição conta apenas com 20 professores e cerca de 400 alunos para uma realidade de milhares de jovens que não conseguem acessar o espaço pela pouca oferta de cursos. “A gente quer e precisa de um atendimento maior na educação do Instituto Federal e da educação superior nessa repactuação”, defende.

Alex de Andrade, diretor do IFMG – Campus Ipatinga
Professores e coordenadores do Educafro Ipatinga

Outras vozes se somaram ao discurso, como é o caso de Jessica Fernandes, da equipe de coordenação do Educafro, um pré-enem comunitário que conta com uma das sedes em Ipatinga.  “Se é dinheiro público então é destinado à população. Então esse dinheiro da repactuação também tem que ser investido no Instituto Federal. Digo mais, a Universidade Federal que tem que ser criada aqui! (…) Universidade Federal do Vale do Aço”, afirmou.

Thiago Alves, coordenador do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), lembra que a organização popular, somadas à presença inédita de integrantes do Governo Federal que percorreram as regiões atingidas e a atuação das assessorias técnicas independentes permitem “uma chance histórica de garantia dos direitos dos atingidos”, destaca.

Pautas como a ampliação do combate à fome e do aumento da pobreza, criação de um fundo para a gestão de projetos comunitários da reparação com a participação das pessoas atingidas, realização de indenização individuais e quebra da quitação final; e ações voltadas reparação do meio ambiente são temas já consolidados entre as reivindicações documentalmente organizadas.

Um rio doce limpo, vivo e sem fome

A Aedas, enquanto Assessoria Tecnica Independente que atua em onze municípios do Vale do Aço e quatro do Leste de Minas, participou do Seminário para reforçar a atuação do seu corpo técnico de profissionais ao lado do povo atingido na busca pela garantia dos direitos.

Franciene reforça que a atuação dos profissionais da Aedas é ao lado do povo atingido para a busca pela garantia de direitos

“A gente tem na nossa equipe essas pessoas que são contratadas para quê? Para poder transformar essas pautas aqui em dados técnicos. Nosso papel é produzir dados técnicos que o povo vem trazer pra gente, porque a gente não tem resposta dentro do nosso bolso. O povo sabe as suas respostas”, destaca Franciene Vasconcelos, Coordenadora Institucional da Aedas.

Respostas que vem de conhecimentos adquiridos e também elaborados através de vivências. É o caso do químico Carlos André, que afirma que, desde 2015, acompanha as questões técnicas deixadas pelo rompimento da barragem de rejeitos e expõe uma preocupação: a areia retirada do Rio Doce e utilizada para diversos fins, principalmente no campo da construção civil, se apresenta como um produto de risco para contaminação.

“O rio não traz só peixe para a economia, mas também um subproduto de contaminação: o areial do Rio Doce. O que acontece com essa areia? Vai pra mão do trabalhador com resquícios de chumbo, cobre e outros metais”, considera.

Como uma das representantes políticas no espaço a ouvir todos os relatos, a vereadora Cida Lima, do Partido dos Trabalhadores (PT) de Ipatinga, se disponibilizou a estar junto no reforço da cobrança pelos direitos das pessoas atingidas.

“Precisamos dos recursos em educação, pesquisa e ciência para a gente poder não somente reivindicar os direitos, mas também estudar todos esses impactos. É até difícil falar em reparação justa, não é? Lembro do padre Ernesto que dizia não pode existir um salário justo, mas podia existir um salário digno, né? Porque não é justo você trabalhar tanto e ter apenas um salário. Então, não sei se tem uma repactuação justa, mas pelo menos digna. Para devolver um pouquinho da dignidade das pessoas.”, finaliza.

Outros temas foram levantados como o combate à privatização do sistema de água em Ipatinga através da presença de integrantes do Comitê de Defesa da Água e também cobrança por investimentos na área da saúde.

Ao total, cerca de 100 pessoas participaram do espaço com presença de atingidos e atingidas dos municípios de Ipatinga, Naque, Timóteo, Caratinga, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso.

Texto: Glenda Uchôa/Equipe de comunicação Aedas Médio Rio Doce