Nas RDs o tema trabalhado é “Água e Saúde”, resultado do trabalho de organização das demandas que chegam à Equipe de Situações de Vulnerabilidade – SIV.

Quando não há água de boa qualidade saindo das torneias de uma casa, há desrespeito à dignidade da pessoa humana. Partindo deste princípio básico, diversas comunidades entre o Vale do Aço e Leste de Minas participam das “Rodas de Diálogo (RDs) de Vulnerabilidade: Vozes do Médio Rio Doce”. Os espaços participativos são organizados pela Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) junto às pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão, que acontecem entre 23 de abril a 8 de maio. 

RD de Vulnerabilidade em Periquito-MG. Foto: Mariana Duarte

O objetivo deste espaço participativo é discutir com as comunidades assessoradas as demandas que as próprias pessoas atingidas pelo rompimento da barragem do Fundão indicam para troca de informações confiáveis, trocas de experiências e sugestões para resolução de problemas.  

Com o tema “Água e Saúde”, o início das RD’s aconteceu pelos territórios do Vale do Aço, inicialmente, no distrito de Ilha do Rio Doce (Caratinga) e Belo Oriente. O tema é resultado do trabalho de organização das demandas que chegam à Equipe de Situações de vulnerabilidade – SIV do Programa Aedas Médio Rio Doce, a partir dos formulários que as pessoas atingidas respondem, como o Registro Familiar, ou quando o próprio interessado deseja registrar uma demanda que se vincula com o rompimento da barragem.  

Mística da RD de Vulnerabilidade de Santana do Paraíso-MG. Foto: Aedas Médio Rio Doce

Na RD do município de Periquito, a qualidade da água que abastece a cidade é uma pauta de extrema importância, isso porque, segundo vivências e relato dos moradores, a má qualidade tem gerado problemas de saúde e muitas desconfianças. “A gente participa das reuniões, leva as demandas, reclama, chora, grita. Nós estamos num deserto. [..] Nós estamos tomando banho contaminando com a água. E o que tem de resposta? Nada. Infelizmente nós estamos morrendo”, desabafa Cleuma Rosa da Silva, atingida de Pedra Corrida e membra da Comissão de Atingidos(as) de Periquito. 

Técnica do Médio Rio Doce, Julia Gomes, da SIV, durante exposição na RD de Vulnerabilidade de Periquito-MG. Foto: Mariana Duarte

Segundo a Brenda Ferreira, assistente social e coordenadora da equipe de Situações e Vulnerabilidade, o espaço promove um importante espaço de escuta das pessoas atingidas para se pensar de forma coletiva. “As tratativas e encaminhamentos dos casos de vulnerabilidade é imprescindível para a garantia da participação efetiva do povo uma vez que as situações são vivenciadas e sentidas na pele, por isso, compreendemos que as pessoas atingidas são os atores centrais para se pensar a resolução dos seus problemas. O foco central das Rodas de diálogo de vulnerabilidade e a deliberação de propostas de encaminhamentos dos casos que se repetem nos municípios a partir da escuta e do diálogo”, destaca. Vários relatos de indignação, cansaço, desconfiança sobre o tema da água permearam as discussões do espaço, mas um indicativo ganha destaque: a população ainda mantém a esperança na resolução dos problemas, por meio de uma busca conjunta.  

Pessoas atingidas que participaram da RD de Vulnerabilidade de Periquito-MG. Foto: Mariana Duarte

“Reclamação, ligar, isso não funciona. Ela [Copasa] sabe que a água está imprópria para consumo, é só para a pessoa perder tempo ficar ligando. O que funciona é a ação humana. É se organizar e ir para a luta”, conclama Moisés Gomes, do Assentamento Liberdade e membro da Comissão de Atingidos(as), durante sua fala na RD de Periquito.  

Para a coordenadora da SIV da Aedas no Vale do Aço, Andressa Santos, o tema destas RDs proporcionam oportunidades das pessoas atingidas de mostrar a realidade sobre os danos nas suas comunidades, mas também entender as dimensões destes danos.  

“Nós dialogamos de maneira mais enfática nestes espaços sobre as questões de Água e Saúde, sabemos que todo o território atingido foi impactado pelo rompimento, que gerou graves consequências e diversas perdas e danos, danos estes que agravam situações de vulnerabilidade nos territórios. Entretanto percebe-se um agravo sobretudo em relação às dimensões da segurança alimentar, da água e da saúde, e que inserem as famílias em condição de risco social, quando as situações de vulnerabilidades sociais se agravam”, afirma Andressa Santos. 

Temas aparecem de forma transversal 

No Leste de Minas, as RDs, que iniciaram na quarta-feira (24), tem foco em saúde física e mental a partir dos danos deixados pelo rompimento de Fundão. Isso porque as pessoas atingidas têm mostrado à assessoria técnica que é indispensável e urgente lutar pela qualidade e distribuição da água que chega às torneiras da população. Uma realidade compartilhada de forma coletiva, já que o aumento de casos de diarreia, febre, problemas de pele e até casos de depressão e ansiedade, entre outras questões complexas que perpassam pela perda da renda, lazer e tradições culturais, são realidades em diferentes comunidades desde o rompimento da barragem de Fundão.

RD de Vulnerabilidade de Aimorés-MG. Foto: Aedas Médio Rio Doce

Segundo a bióloga Juliana Boechat, técnica da Equipe de Vulnerabilidade da Aedas Médio Rio Doce, os temas são reflexo das demandas mais pulsantes nos municípios assessorados nesta região.   

 “Após analisarmos as demandas vindas dos atingidos e atingidas, entendemos que a temática da saúde física e mental são prioritárias e que existem possibilidades de encaminhamento. Para nos concentrar nestes temas e construir pautas qualificadas, que poderão ser encaminhadas às Instituições de Justiça, se for de interesse das comunidades, precisaremos da participação das pessoas nestes espaços. A participação é muito importante, pois as pessoas poderão narrar suas experiências, preocupações e vivências e buscados coletivamente a solução para as questões levantadas” explica Juliana. 
 
As RDs de Vulnerabilidade são apenas um dos espaços participativos promovidos pela assessoria técnica Aedas como metodologia no processo de participação e escuta ativa e qualificada das pessoas atingidas na luta por uma reparação integral e justa. 

Calendário

Veja abaixo as datas das Rodas de Diálogo de Vulnerabilidade: Vozes do Médio Rio Doce: 

No Vale do Aço   

Ilha do Rio Doce: 23/04 (terça-feira)   

Belo Oriente: 23/04 (terça-feira)  

Periquito: 24/04 (quarta-feira)   

Santana do Paraíso: 24/04 (quarta-feira)   

Iapu (São Sebastião da Barra): 25/04 (quinta-feira)   

Naque: 25/04 (quinta-feira)    

No Leste de Minas 

Aimorés: 24/04 (quarta-feira)  

Conselheiro Pena: 30/04 (terça-feira)   

Resplendor: 02/05 (quinta-feira)  

Itueta:  08/05 (quarta-feira) 


Texto: Mariana Duarte/ Equipe de Comunicação da Aedas Médio Rio Doce