Relatos colhidos pelos assessores técnicos da Aedas durante as Rodas de Diálogos serão utilizados na elaboração de pareceres comunitários

Atingidas e Atingidos da Vila Crenaque, em Resplendor, participam de Roda de Diálogo de Vulnerabilidade Foto: Thiago Matos

Dando continuidade à rodada de Rodas de Diálogo de Vulnerabilidade, atingidos e atingidas dos municípios de Conselheiro Pena e Resplendor, no Leste de Minas Gerais, assessorados pela Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) dentro do programa Médio Rio Doce, participaram das Rodas de Diálogo de Vulnerabilidade. Durante os espaços, foram debatidos os danos recorrentes à saúde física e mental aprofundados após o rompimento da barragem de Fundão. 

As RDs acontecem nos territórios atingidos assessorados pela Aedas desde o dia 23 de abril, com início por municípios do Vale do Aço. Este ciclo será encerrado nesta quarta-feira (8), no município de Itueta. 

Ao longo dos dias, dezenas de pessoas participaram dos espaços participativos que são essenciais para praticar a escuta e a fala qualificadas, massificar informações importantes sobre os danos sofridos e sobre o processo de reparação, além de contribuir para a construção de documentos técnicos para encaminhamento de situação coletivas de vulnerabilidade. 

No Leste de Minas, os debates sobre danos de acesso à água de qualidade e prejuízos à saúde física e mental das pessoas ganharam destaque. Para Soledade Conceição Rodrigues Lopes, a vida ficou mais triste depois que a lama com rejeitos de minério ‘correu pelo rio Doce e encontrou o mar’.  

“A vida ficou muito triste depois que a Renova passou por aqui e pagou somente uns e outros não. Deu confusão! Até hoje temos confusão. Só uns que receberam. Para que essa palhaçada? Para dar confusão entre os vizinhos? Nós somos uma comunidade. A relação da gente com os vizinhos mudou bastante depois do rompimento da barragem”, desabafa.

Soledade Conceição Rodrigues Lopes, atingida pelo rompimento da barragem de Fundão Foto: Thiago Matos

Moradora da Vila Crenaque, distrito de Resplendor, há mais de 20 anos, dona Soledade afirma ainda que “o único bem que nós tínhamos aqui, era o rio e os peixe para pescar e comer”. Agora, segundo ela, pouco restou da vida que acontecia antes do desastre-crime. “Depois do rompimento da barragem a saúde ficou pior. Não temos água tratada, falta um posto de saúde; e como não temos ambulância é preciso gastar com táxi ou arrumar algum vizinho que possa nós levar até a sede – aumentando despesas com a saúde e dificultando o acesso à saúde dos moradores da Vila”, conclui. 

Maria da Glória Rodrigues, nascida e criada ao longo do rio Doce e moradora de Resplendor, completa 70 anos no próximo mês de julho e afirma que as condições de saúde foram agravadas após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Diabética, passou a sofrer também com crises alérgicas e asma. “Eu não tinha isso agora eu tenho uma falta de ar que quase morro”, afirma.

Maria da Glória Rodrigues, atingida pelo rompimento da barragem de Fundão Foto: Thiago Matos

Assim como dona Maria da Glória, cerca de 92,6% das pessoas atingidas assessoradas pela Aedas pontuam que houve surgimento de algum agravo nas condições de saúde após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. O dado faz parte do Registro Familiar, levantamento de informações realizado para qualificar o perfil e a intensidade dos danos que as pessoas atingidas dos territórios assessorados sofreram após o rompimento da barragem de Fundão. 

Juliana Boechat, assessora técnica da equipe de Vulnerabilidades, explica que os relatos colhidos pelos assessores técnicos da Aedas durante as Rodas de Diálogos serão utilizados na elaboração de pareceres comunitários. “Estes documentos serão encaminhados com as demandas das pessoas atingidas às esferas de poder responsáveis para devidas providências e ajustes”, finaliza. 

Texto: Thiago Matos – Equipe de Comunicação Programa Médio Rio Doce da Aedas