5ª rodada de RIs consolida junto às comunidades atingidas as bases para os Projetos de Demandas das Comunidades

Foram realizadas 23 reuniões com agrupamentos de comunidades das duas regiões | Foto: Diego Cota/Aedas

A Governança Popular do Anexo I.1 segue em construção nas comunidades de Brumadinho e dos municípios da Região 2, atingidos pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. Entre os dias 19 e 29 de julho, as lideranças das comunidades participaram de mais uma rodada de Reuniões Intercomunitárias (RIs), desta vez para definir a composição dos Conselhos Locais e Regionais da estrutura de governança. As RIs são realizadas com o apoio técnico e metodológico da Aedas.

Além da indicação pelas lideranças da composição dos conselhos, foi entregue pela ATI o material com a proposta inicial do regimento interno, construído coletivamente em reuniões anteriores. Questões como estruturação, composição e funcionamento dos Conselhos Locais são abordados no documento. A construção é fruto de uma intensa dedicação das lideranças, junto à Aedas, em elaborar as bases da governança localmente para a execução do Anexo I.1.

A coordenadora da equipe do Anexo I.1 da Aedas, Juliana Funari, explicou sobre o trabalho de assessoramento da ATI nessa rodada de RIs. “O papel da Aedas é apoiar as pessoas atingidas, sistematizar as regras, organizar e estruturar o espaço para que as pessoas atingidas possam tomar a decisão de quem serão os conselheiros e conselheiras, tanto em nível local quanto regional”, disse.

No município de Brumadinho, Região 1 da Bacia do Paraopeba, as RIs foram realizadas nos dias 19, 22 e 23 de julho. Ao todo foram 11 encontros, sendo 10 presenciais e 1 virtual. Já na Região 2, as reuniões aconteceram nos dias 26 e 29 de julho. Foram 12 encontros presenciais com agrupamentos de seis municípios atingidos.

Os Conselhos Locais e Regionais da Governança Popular, que foram definidos pelas lideranças atingidas nessa rodada de Reuniões Intercomunitárias, serão inaugurados junto à Entidade Gestora do Anexo I.1 entre agosto e outubro deste ano, conforme cronograma divulgado no início de julho: Inauguração dos Conselhos e Setores Regionais: 30 de agosto a 6 de setembro; Inauguração dos Conselhos e Setores Locais: 20 de setembro a 18 de outubro.

Em Brumadinho, lideranças constroem as bases para a reparação pelo Anexo I.1

No sábado (19/07), primeiro dia da 5ª rodada de Reuniões Intercomunitárias (RIs), foram realizados três encontros no município de Brumadinho, mobilizando lideranças atingidas de quatro agrupamentos das comunidades de Piedade do Paraopeba, Casa Branca e do Distrito Sede. Dois deles se reuniram no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário, no bairro Santa Cruz.

Foto: Diego Cota/Aedas

Já são mais de seis anos do rompimento e de anseio pela reparação no território. O Anexo I.1, tão aguardado pelas atingidas, começa a tomar forma e ter definidas suas diretrizes locais e regionais. Izadora Solha, atingida residente na Cohab, lembra das marcas que o desastre-crime deixou e o desejo em transformar o Anexo I.1 em algo positivo para as comunidades.

“Não é fácil para a gente estar aqui, principalmente quando lembramos de tudo o que aconteceu. [O Anexo I.1] é uma coisa que a gente está tentando transformar em coisa boa. Então eu acho que é o que a gente tem feito. Está sendo um processo vagaroso, mas está sendo construído. Foi muito rápida a destruição que a tragédia causou e impactou na nossa vida, na nossa comunidade, mas mesmo esse processo de construção sendo difícil, ele está caminhando”, afirmou.

Nessa rodada, as lideranças tiveram a oportunidade de indicar os representantes locais e regionais de cada agrupamento, dando corpo às instâncias da Governança Popular, algo que tem sido construído por meio das RIs junto com a Aedas. “A gente consegue hoje ter uma expectativa melhor de alcançar alguma coisa com o Anexo I.1, porque a gente tem conseguido construir através desses encontros. Estamos conseguindo criar os parâmetros certos para que a gente alcance essa reparação de forma menos dura, menos sofrida”, concluiu Izadora.

Reunião realizada na comunidade do Aranha | Fotos: Douglas Keesen/Aedas

Atingido do povoado Colégio Martins, Gilmar Matozinhos destacou a importância do conselho para os futuros projetos de reparação. “A expectativa é que esse processo seja conduzido realmente por nós atingidos e a decisão parta de nós conselheiros. O conselho local é muito importante, porque ele está na base da pirâmide que somos nós atingidos. Com sua criação, vamos poder debater os projetos para atender a todos”, disse.

O atingido participou da RI realizada na terça-feira (22/07), na Associação Comunitária do Aranha, que reuniu dois agrupamentos da Região 1.

Sônia Machado, atingida da comunidade Massangano, que também participou na terça-feira, reforçou que o conselho é uma forma de trazer o protagonismo para quem sofre diariamente com os danos do desastre-crime. “Eu creio que é um sonho que está começando a ser concretizado, é uma realidade que está saindo do papel, porque a gente já vem esperando por muito tempo a composição desses conselhos e a gente quer ter voz nessa reparação”, afirmou.

RI com lideranças das comunidades quilombolas de Brumadinho foi realizada no dia 23 de julho | Fotos: Lucas Jerônimo/Aedas

Conselhos Locais e Regionais são temas de debate com comunidades da Região 2

Já no dia 26 de julho, foi realizada a quinta rodada das Reuniões Intercomunitárias (RIs) em Juatuba, na Região 2. O encontro reuniu cerca de 20 lideranças atingidas, incluindo representantes dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa de Matriz Africana (PCTRAMA), com o objetivo de validar os nomes indicados para os futuros Conselhos Locais e Regionais, no âmbito da governança popular do Anexo I.1.

RI realizada em Juatuba | Foto: Felipe Cunha/Aedas

Babá Edvaldo, liderança atingida do Ilê Axé Alá Tooloribi, localizado em Francelinos (Juatuba), esteve presente na Reunião Intercomunitária e compartilhou suas expectativas em relação aos conselhos: “Espero que eles [conselhos] sejam, de fato, espaços de decisão da população. Temos observado que, desde 2021, o acordo tem contado com pouca participação popular, essa é uma das principais críticas, a forma como ele vem sendo executado, sem ouvir as pessoas atingidas. Então, espero que esses conselhos sejam espaços reais de participação, onde possamos criar nossos próprios modelos e ocupar os espaços, sem a tutela dominadora. Que os conselhos tenham força para se opor a isso, com base nas informações que temos sobre os danos sofridos e sobre como devemos ser reparados”.

Sobre as RIs que ele vem participando, Babá Edvaldo avaliou: “O debate tem sido maduro. As pessoas estão falando, participando. O que menos queremos é que os atingidos sejam submetidos a um modelo opressivo. E há, sim, essa maturidade no grupo, é isso que nos faz estar aqui, discutindo, dialogando, dizendo que as coisas não podem vir prontas. Estou achando tudo isso muito bom. Fico muito feliz com a participação do coletivo do qual faço parte, o PCTRAMA. Que esses conselhos nos tornem sujeitos coletivos de decisão, que lutem contra as formas de servidão. Somos sujeitos”.

Lideranças de São Joaquim de Bicas em RI realizada em 29 de julho | Fotos: João Dias/Aedas

Giselle Cristina, liderança atingida da comunidade Francelinos, em Juatuba, participou da RI e falou do que espera para o Anexo I.1: “Espero que os projetos cheguem às comunidades atingidas, que o povo atingido seja reparado e que os projetos realmente beneficiem quem precisa”.

Giselle avaliou positivamente o espaço de discussão sobre os conselhos em sua comunidade: “É um trabalho bom. Agora, vamos decidir o que realmente vamos trazer para a nossa comunidade, o que ela está precisando e o que realmente podemos fazer por ela”.

No dia 29 de julho, Tatiana Rodrigues, liderança atingida da comunidade Vale do Sol, em São Joaquim de Bicas, participou da Reunião Intercomunitária realizada em sua comunidade, que também discutiu a formação dos conselhos da Governança Popular. Na ocasião, Tatiana falou sobre a expectativa pela reparação.

“Estou com a expectativa de nossas comunidades, que foram atingidas pelo crime da Vale, serem reparadas com esse Anexo I.1, já que é o único anexo em que as nossas comunidades vão poder ver e ter seus danos reparados. A expectativa está enorme de todas as comunidades poderem entrar nesse anexo, inclusive a que ainda não foram elegíveis e a gente sabe que essas comunidades precisam entrar nesse anexo”, disse.

Além de Juatuba e São Joaquim de Bicas, a Aedas realizou no mês de julho a quinta rodada de reuniões intercomunitárias, com pauta sobre conselhos locais e regionais, nos demais municípios assessorados pela ATI da Região 2, sendo Betim, Mário Campos, Igarapé e Mateus Leme.

Com a definição das conselheiras e conselheiros, as lideranças atingidas agora aguardam o encontro com a Entidade Gestora para inauguração dessas instâncias da Governança Popular do Anexo I.1.

Reportagem: Diego Cota, Douglas Keesen, Felipe Cunha, João Dias e Lucas Jerônimo