Danos à biodiversidade: confira primeiros resultados de consultoria da Aedas em Brumadinho
Aedas divulga resultados da primeira fase do diagnóstico dos danos ambientais e seus impactos nos serviços ecossistêmicos e na qualidade de vida em Brumadinho.

Como reflexão ao dia da Biodiversidade, a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) traz resultados relativos ao trabalho da primeira consultoria contratada, com o intuito de elucidar a gravidade dos danos socioambientais à qualidade de vida das pessoas atingidas. A consultoria contratada fez uma sistematização de relatórios e dados efetuados pelos órgãos ambientais e universidades, e também uma análise integrada desses danos e seus agravantes na manutenção dos modos de vida de comunidades rurais e urbanas de Brumadinho.
O agrônomo Daniel Santos, da equipe Socioambiental da Aedas, explica que os estudos da consultoria são um passo importante para a construção da Matriz de Danos, documento indispensável para a reparação integral dos danos.
“Sabemos que mesmo com as ações e estudos realizados por várias instituições, muitos dos danos socioambientais ainda precisam ser investigados, documentados e reparados integralmente. Assim, este estudo é um subsídio para os próximos trabalhos a serem realizados”, complementa Daniel.
Dia 22 de maio é o dia mundial da Biodiversidade. A data é um lembrete diante das diversas ameaças que a ação humana traz ao equilíbrio da natureza e busca conscientizar a população sobre a importância da diversidade biológica. O dia da Biodiversidade foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 22 de maio de 1992, em homenagem ao dia em que foi aprovado o texto final da Convenção da Diversidade Biológica.
Sobre a consultoria
A consultoria escolhida foi a Geoeng Engenharia e Consultoria Ambiental (www.geoeng.com.br). A consultoria atuou, via Termo de Referência, entre 17 de novembro de 2020 e 17 de março de 2021, e neste período trabalhou no levantamento de informações e análises sobre o território de Brumadinho.
Dois produtos já foram entregues pela consultoria:
1) Diagnóstico e Levantamento de Danos Ambientais e
2) Análise Integrada dos Danos Sobre a Biodiversidade e os Serviços Ecossistêmicos.
No (1) Diagnóstico e Levantamento de Danos Ambientais foram estudados centenas de relatórios de diversas entidades, órgãos estaduais, federais, universidade entre outros, feitos antes e após o rompimento.
Na (2) Análise Integrada dos Danos Sobre a Biodiversidade e os Serviços Ecossistêmicos, foi apresentada uma série de informações que relacionam a gravidade dos danos sob a disponibilidade de serviços ecossistêmicos.
Diagnóstico e Levantamento de Danos Ambientais
Nesse documento, a consultoria levantou centenas de relatórios já disponíveis sobre o meio ambiente de Brumadinho: relevo, nascentes, animais, plantas e demais informações sobre o meio físico e biótico (relacionado aos seres vivos). São dados secundários, ou seja, produzidos antes da atuação da consultoria em Brumadinho, mas que, reunidos, formam um importante levantamento que subsidiará as coletas de dados nas comunidades. Em breve, haverá a atuação de novas consultorias para análise da qualidade de água subterrânea e superficial, qualidade do solo e qualidade do ar.
Com a sistematização desses estudos, é possível visualizar um diagnóstico dos danos do rompimento a diversas áreas como: danos sobre a estrutura de cursos d’água, a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, contaminação dos solos, alterações de microclimas, remoção da vegetação, alteração de microbiota aquática, proliferação de vetores e doenças, biodisponibilização de metais pesados, aumento de particulados na atmosfera (poeira) e emissão de maus odores, dentre outros.
No mapa abaixo podemos visualizar os diversos usos e ocupação da área antes de serem atingidas pelo rompimento da barragem, o que evidencia a perda de biodiversidade imediata e de diferentes serviços ecossistêmicos, inviabilizando assim os potenciais de uso e ocupação do solo como eram antes do rompimento.

O levantamento traz ainda dados sobre a destruição de áreas protegidas, como a APA Sul, Zona de amortecimento do Parque Estadual Rola Moça, os danos relacionados aos animais silvestres e domésticos e às plantas, incluindo também as cultivadas. Outro ponto abordado foi a proliferação de vetores, como mosquitos, e doenças, bem como sua relação com o rompimento da barragem de rejeitos.
Análise Integrada dos Danos Sobre a Biodiversidade e os Serviços Ecossistêmicos
“A qualidade da água que bebemos, da terra em que plantamos, dos alimentos que consumimos e do ar que respiramos depende diretamente da boa saúde da natureza”, explica Marta Santana, bióloga da equipe Socioambiental da Aedas.
Na Análise Integrada dos Danos Sobre a Biodiversidade e os Serviços Ecossistêmicos, a Aedas, por meio da consultoria, analisou o impacto dos danos ao meio ambiente e a oferta de serviços ecossistêmicos, condição que afeta a disponibilidade de bens naturais com qualidade e prejudica a manutenção de atividades produtivas e dos modos de vida da população atingida. Explica-se também a gravidade dos danos na vida das pessoas a partir dos atributos de renda, saneamento, produção agrícola, o que delimita diferentes impactos dos danos a partir de gênero, raça e classe social.
A Análise Integrada correlaciona os dados obtidos no levantamento dos impactos ambientais causados pelo rompimento com informações como a disponibilidade de alimentos e água para consumo, produtividade do solo e regulação do clima. O valor do meio ambiente enquanto espaço de cultura também foi analisado com pontos como a recreação, valores culturais, espirituais e apreciação.

(Área de alagamento com presença de rejeitos. Registro de acompanhamento de campo realizado pela equipe técnica da Aedas na sub-bacia do Ferro Carvão).
As informações apresentam uma análise dos danos e seus impactos na disponibilidade dos serviços ecossistêmicos às comunidades, que demonstram perdas de relação cultural, socioeconômica e de variadas formas de relação com os ecossistemas.
Lucas Roman, engenheiro ambiental da Geoeng, conta que algo que chamou atenção na análise integrada foram as informações interligadas entre o meio ambiente e as diferentes realidades de bairros e localidades de Brumadinho.
“Conseguir interpretar como os impactos no meio ambiente afetaram cada região, cada bairro, por conta da dependência desse bairro com o meio ambiente. Um bairro que tem bastante serviços agrícolas foi afetado de forma diferente de um bairro que tem mais dependência de água, por ter mais escassez. Além da análise dos bairros distribuídos por renda, em que os impactos também são diferentes”, diz o engenheiro ambiental da Geoeng.
Na análise, o território de Brumadinho foi organizado em Zona Quente (próxima ao local do rompimento e percurso da lama de rejeitos), Montante (parte mais acima do trecho do rio) e Jusante (trecho já próximo a Mário Campos).
“A Zona Quente concentra as maiores significâncias gerais, o que indica os efeitos dos diversos danos relacionados ao espalhamento e deposição de lama na região”, diz trecho do documento.
De acordo com a Análise Integrada, as áreas rurais foram afetadas em todas as regiões de Brumadinho por estarem mais ligadas ao fornecimento de serviços ecossistêmicos, resultando em efeitos sobre a oferta de serviços ecossistêmicos nessas áreas.
Também foram calculadas as significâncias gerais dos danos por tipo específico de ocupação do solo: renda, intensidade agropecuária e saneamento (água, esgoto e resíduos sólidos).
“Os setores que apresentaram maior vulnerabilidade perante os danos e em relação à perda de serviços ecossistêmicos foram os de baixa renda. A consultoria também conseguiu identificar que houve uma sensibilidade maior em relação à categoria de negros e negras, que sentiu os danos de uma maneira diferenciada, assim como as mulheres. Sobretudo, pelo remanejamento de rejeitos e disposição inadequada em localidades com maioria composta por esses setores, o que agravou a condição de vulnerabilidade destes setores no território”, destaca Daniel Santos.
Próximos passos
O próximo trabalho será o Levantamento de Danos de Danos Relativos aos Aspectos Ambientais (Fase 2), que apresentará resultados a respeito da qualidade de água de poços, cisternas, nascentes, córregos e água para consumo humano e dessedentação animal, além de apresentar dados relativos à qualidade do solo e do ar na região de Brumadinho.
Em paralelo a este levantamento, será realizado também um estudo sobre as Áreas Degradadas em decorrência do rompimento da barragem, com o foco na construção de um Programa de Recuperação de áreas degradadas, construído em conjunto com as comunidades.