Representantes da Comissão de atingidos(as) de Itatiaiuçu visitam as obras da Estrutura de Contenção a jusante (ECJ)

Representantes da Comissão de Atingidos e Atingidas de Itatiaiuçu, acompanhados por algumas assessoras(es) da Assessoria Técnica Independente da Aedas, visitaram as obras da Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ) no sábado, 15 de outubro de 2022. A ECJ está sendo construída pela ArcelorMittal como medida para tentar barrar a lama de rejeitos em caso do rompimento da barragem. A estrutura também vai possibilitar a descaracterização da barragem com mais segurança. A visita foi uma solicitação da Comissão, que desde maio tentava esse agendamento com a mineradora. A Comissão queria entender a construção da ECJ e tirar dúvidas em relação aos impactos da construção para as comunidades atingidas.
Esta não foi a primeira vez que a Comissão solicitou para ver as obras da ECJ. Nos meses de maio e agosto de 2022 , a Comissão, juntamente com a Assessoria Técnica da Aedas, já havia solicitado à mineradora permissão para acompanhar a visita da Segunda Auditoria Independente da Geoestável às obras da ECJ, entretanto a ArcelorMittal não permitiu a presença da Aedas nem de representantes da Comissão. Em setembro de 2022 a Comissão enviou, novamente, ofício solicitando o acompanhamento da visita da auditoria independente da barragem, que foi negada. Entretanto, dessa segunda vez, foi permitida a visita da comissão em dia diferente da visita da auditoria da barragem.
Durante a visita, representantes da Comissão puderam conhecer a obra, conversar com o engenheiro responsável, e tirar algumas dúvidas que as pessoas atingidas têm em relação à construção da ECJ e os impactos nas comunidades. A atingida e representante da Comissão, Luzia Soares, contou como foi a visita. “Fomos fazer a visita na ECJ, conhecido como Dique, eu e algumas pessoas da Comissão que puderam ir. A visita foi boa, poder ver realmente o que estava acontecendo, como está sendo feito o trabalho. Na visita fizemos perguntas, como quantos minutos chegaria a lama da barragem, caso rompesse, até a ECJ, e seriam dois minutos, o que é um tempo muito curto, a gente sabe que não dá tempo pra nada. Fomos bem recebidos, algumas perguntas foram esclarecidas e outras não”.
Ainda na visita, representantes da Comissão visitaram a sala de monitoramento da barragem e tiraram dúvidas sobre como é feito o monitoramento. A Arcelor explicou que o monitoramento é feito 24h, 7 dias por semana e conta com algumas câmeras e sensores para acompanhar possíveis mudanças na estabilidade da barragem. “A gente viu que a barragem é monitorada 24h, mas sabemos que vivemos no risco 24h, porque o que foi passado pra gente é que nosso risco continua sendo iminente, não tem dia nem hora, a barragem pode romper a qualquer momento, pode ser acionada a sirenes pra gente poder sair correndo”, desabafou a atingida.
Luzia lembrou e questionou durante a visita que algumas comunidades não tem sinalização correta e que falta mais informações para as comunidades sobre a barragem e a obra. “Infelizmente tem lugares que ainda não tem rota de fuga, não tem ponto de encontro”, reafirmou.
Outro ponto perguntado pelos atingidos na visita foram os intensos barulhos de bombas na região. “Questionamos sobre as bombas que tem atingido muito as pessoas, principalmente no Retiro colonial, que tem mais de 50 casas com rachadura e já temos casa interditada. A Arcelor falou que não são as bombas da empresa que estão fazendo isso. Estamos muito preocupados, é um barulho intenso, com a obra da ECJ é bate estaca, é explosivo”. A Comissão solicitou que a mineradora fizesse um monitoramento nas comunidades na hora em que tiver usando as bombas para que eles possam entender os impactos disso nas casas e comunidades.
A assessora em geologia da Aedas, Daniela Cordeiro, que acompanhou a visita às obras da ECJ, expressou que foi importante para os atingidos e atingidas verem e entenderem a dimensão da construção da ECJ. “A visita foi uma atividade muito importante fruto da luta contínua da comissão representativa dos atingidos para garantir o acesso às informações sobre as obras da ECJ, uma obra necessária para a descaracterização da barragem. A visita possibilitou entender a dimensão que a ECJ-Dique que terá, quando finalizada, uma altura aproximadamente de 45m o que equivalente a prédio de 15 andares e uma largura de 200 metros no comprimento do leito do córrego Motta”, finalizou.
O início da obra de construção da estrutura de contenção a jusante (ECJ) foi confirmado no mês de maio de 2022 após uma visita da Segunda Auditoria Independente e tem previsão de conclusão para setembro de 2025. A obra foi iniciada mesmo sem autorização dos órgãos de fiscalização ambiental, o que também vem sendo questionado pela comunidade.











