Atingidos e atingidas do Parque da Cachoeira/Parque do Lago, Alberto Flores e Tejuco, Zona Quente de Brumadinho, realizaram protestos pela garantia de direitos nesta sexta-feira (5). Entre as reivindicações, a população denunciou problemas com o abastecimento de água, obras de reparação, teste da sirene e o direito à Assessoria Técnica Independente.

A população cobrou, ainda, respostas da mineradora Vale S/A, responsável pelo desastre-crime, acerca, por exemplo, da reabertura da análise de alguns processos de indenização individual e da ausência de indenização pelo comprometimento da qualidade da água no Tejuco, que trava uma longa luta pela preservação de suas nascentes.

Os atos também celebraram o Dia dos Trabalhadores e homenagearam os trabalhadores que tiveram suas vidas terminadas no rompimento da barragem de rejeito. A iniciativa dos protestos foi de lideranças comunitárias da Associação de Defesa Ecológica da Serra Pico Três Irmãos e da Comissão de Atingidos do Parque da Cachoeira.

A atingida Camila Calazans, moradora do Tejuco, falou sobre a importância da atividade e do impacto da mineração na vida das pessoas. “Nosso protesto hoje é contra as mineradoras, principalmente a Vale. A gente gostaria que ela reconhecesse a gente de fato como atingido e olhasse por nós”, disse.

Atingidos realizam ato por direitos em Brumadinho – Foto: Lideranças Comunitárias

As manifestações aconteceram de forma pacífica, com interdição parcial e temporária de vias, durante o teste de sirene que ocorrem todo dia 05 de cada mês às 10h. O teste é motivo de mais sofrimento para as famílias, já que relembra a tragédia que matou 272 pessoas no dia 25 de janeiro de 2019, quando a sirene não tocou.

Técnicos representantes da Aedas acompanharam as mobilizações com o intuito de prestar assessoria jurídica e contribuir para que a integridade dos participantes dos atos fosse resguardada.

Bloqueio parcial de via durante protesto de atingidos em Brumadinho – Foto: Lideranças Comunitárias

Água é direito humano

De acordo com os moradores do Parque da Cachoeira, a comunidade vive uma intensa crise de abastecimento de água desde que os poços, de onde era extraída a água para consumo humano e outros usos, foi soterrado por lama. A cachoeira símbolo do bairro foi destruída e os cursos d’água contaminados. Ainda segundo os atingidos, a água mineral entregue pela Vale em fardos apresentam lacre violado, turbidez e qualidade duvidosa. Ademais, segundo as lideranças, a COPASA informou em reunião que um poço, localizado no bairro Alberto Flores, deveria ser interditado em razão da presença de urânio na análise de água realizada pela Companhia.

No Tejuco, a preocupação com a qualidade da água também é latente. A Associação de Defesa Ecológica da Serra Pico Três Irmãos afirma não aceitar que a COPASA seja a operadora do sistema de abastecimento. Em manifesto escrito por lideranças, elas ressaltam a necessidade da água potável e abundante, bem como a preservação das nascentes como urgente.

“Necessitamos de água de qualidade e em quantidade suficiente. Nossa demanda também é por isenção das taxas abusivas da COPASA por tempo indeterminado, até que sejam construídas medidas duradouras de maneira participativa para o abastecimento seguro da nossa comunidade”, diz a carta dos atingidos.

A sirene

Atingidas e atingidos pedem que o teste de sirene realizado todo mês seja revisto e cancelado, ao menos da forma com que ocorre atualmente, uma vez que tem ampliado danos psicológicos na população. Na ocasião dos atos desta sexta-feira, houve uma conversa com o Corpo de Bombeiros, que sinalizou a possibilidade de revisão do teste. Uma reunião entre a corporação e as lideranças comunitárias será agendada.

Reparação?

Os participantes dos atos manifestaram o desejo e necessidade de se discutir também os impactos das obras de reparação, entre eles, como o cronograma. Os atingidos reafirmaram, ainda, a Assessoria Técnica Independente, desempenhada pela Aedas, como direito fundamental para que a reparação seja justa e integral.