Na busca por reparação justa e integral, atingidos e atingidas compartilham suas histórias de vida – forjadas na luta coletiva 

Nascido em Tarumirim (MG), Jandirinho encontrou em Periquito, município atingido do Vale do Aço, morada, amigos e seu lugar de militância. “Vim trabalhar na Cenibra, onde fiquei por cinco anos com trabalhos temporários. Depois, fui contratado e passei mais 16 anos lá. Foi nesse tempo que entrei na diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Extrativistas e comecei a lutar pelos direitos dos trabalhadores”, relembra. 

Sua atuação sindical o levou a representar trabalhadores em diferentes regiões e a consolidar seu compromisso com as causas populares/sociais. Mas foi com o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, que Jandirinho entrou na luta coletiva e organizada pela reparação integral dos danos causados pelas mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton. 

“Antes, o rio era vida: pescávamos, plantávamos, e as famílias tinham lazer aos fins de semana. Tudo isso desapareceu. Hoje, enfrentamos problemas de saúde, falta de renda e insegurança alimentar”, lamenta. Para Jandirinho, o desastre trouxe também uma enorme falta de reconhecimento dos direitos das pessoas atingidas, especialmente jovens e mulheres.

Jandirinho durante audiência pública em Belo Horizonte Foto: Acervo Aedas

Inicialmente, Jandirinho conta que hesitou em se envolver diretamente com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mas a realidade imposta o motivou a agir. “Ver o sofrimento das pessoas foi decisivo. Vi que precisava ajudar, me organizar e atuar ao lado do povo atingido. Desde então, participo de reuniões, manifestações e organizo nossas reivindicações dentro do MAB”, conta.  

Para além dos obstáculos impostos pela realidade deixada pelo rompimento de Fundão, Jandirinho celebra algumas vitórias. “Os primeiros pagamentos de indenizações foram um alívio para muitas famílias, apesar de insuficientes e desiguais. Conseguimos também que direitos fossem reconhecidos pelo Ministério Público. Mas a luta continua e não pode parar”, ressalta. Ele também destaca a necessidade de incluir todas as pessoas atingidas, sem exceção, nos programas de reparação e indenizações.

Jandirinho ao lado dos atingidos que integram a Comissão de Atingidos e Atingidas de Periquito Foto: Acervo Aedas

Hoje, à frente do Sindicato da Agricultura Familiar e figura permanente nos espaços participativos da Aedas, Jandirinho ajuda agricultores para que consigam comprovar suas atividades na agricultura no momento do rompimento da barragem de Fundão e lidera a distribuição de sementes para incentivar o plantio na sua comunidade para que recuperem suas rendas, atividades laborais e possam acessar seus direitos dentro do acordo de reparação de danos. 

“Atualmente, a falta de regularização fundiária é um grande entrave para que todos os agricultores sejam indenizados. Mas nós não vamos desistir. Defendemos que testemunhos dos atingidos e atingidas sejam aceitos para garantir os direitos de quem perdeu tudo a partir de 2015”, explica. 

Jandirinho durante entrega de ofícios na defesa dos direitos das pessoas atingidas Foto: Acervo Aedas

Para Jandirinho, continuar lutando, participando de reuniões e cobrando soluções para os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão são passos fundamentais para a união do povo atingido. Ao ser questionado sobre qual mensagem deixa para o povo atingido mais de 9 anos depois do rompimento da barragem de Fundão, ele é firme: 

“Minha mensagem é de união.  A força do coletivo é essencial para alcançarmos uma reparação justa e integral. Juntos, podemos reconstruir nossas vidas e trazer dignidade às nossas comunidades e famílias”, conclui. 

Texto: Thiago Matos – Assessor de Comunicação programa Médio Rio Doce da Aedas