Protagonistas da Reparação
A reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão só avança porque as pessoas atingidas se mantêm organizadas, mobilizadas e presentes nos territórios e nos espaços de decisão. Na Aedas, partimos do entendimento de que as comunidades atingidas são protagonistas centrais na construção de caminhos para a reparação integral, justa e duradoura.
Desde 2015, homens e mulheres, povos e comunidades tradicionais, ribeirinhos, pescadores artesanais, agricultores familiares, quilombolas, povos indígenas, produtores rurais, trabalhadores urbanos e rurais têm transformado a dor, as perdas e as violações em luta organizada. É a partir da experiência vivida nos territórios que se constroem as pautas, se identificam os danos e se formulam as propostas que orientam a reparação.
O protagonismo das pessoas atingidas se expressa na criação e no fortalecimento de espaços coletivos de organização e participação, como os Grupos de Atingidas e Atingidos (GAAs), as Comissões Territoriais, os coletivos de Agentes Multiplicadores e demais instâncias construídas a partir da realidade local. Esses espaços são fundamentais para a circulação de informações, o debate qualificado, a tomada de decisões coletivas e a incidência política nos processos de governança da reparação.
Mulheres atingidas têm papel central nesse processo. Muitas vezes responsáveis pela organização comunitária, pelo cuidado com a família e pela defesa dos territórios, elas protagonizam lutas que ampliaram o reconhecimento de danos historicamente invisibilizados, especialmente aqueles relacionados à saúde mental, ao cuidado, à sobrecarga de trabalho e às desigualdades de gênero. Da mesma forma, povos e comunidades tradicionais afirmam seus modos de vida, seus saberes e seus direitos, reivindicando uma reparação que respeite a identidade, a memória e a relação com o território.
A Aedas atua para fortalecer esse protagonismo, garantindo assessoria técnica independente, informação qualificada, processos formativos e metodologias participativas que contribuam para a autonomia e a tomada de decisões informadas pelas pessoas atingidas. Nosso papel é apoiar, traduzir conteúdos técnicos, sistematizar demandas e ampliar as condições para que as comunidades incidam de forma ativa e consciente nos rumos da reparação.
Reconhecer as pessoas atingidas como protagonistas da reparação é afirmar que não há justiça possível sem participação, organização e escuta dos territórios. É reconhecer que a reparação não se limita a programas e indenizações, mas é um processo social, político e coletivo, construído a partir da luta cotidiana de quem segue defendendo a vida, os direitos e o futuro da bacia do Rio Doce.