Primeira edição da Feira Sociocultural da Ocupação de Itueta consolida laços comunitários no município

Em uma sexta-feira à noite, no primeiro dia do mês de agosto, se concretizou um dos sonhos das irmãs Marluce Vieira de Almeida e Marília Vieria de Almeida, moradoras da ocupação de Itueta, uma comunidade do município de Itueta localizado no Leste de Minas. A Feira Sociocultural da Ocupação é resultado do edital “Promoção e Defesa de Direitos Humanos na Bacia do Rio Doce” que selecionou 20 propostas de associações, coletivos e grupos de 16 municípios reconhecidos como atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2024. Em Itueta, a comunidade contou com o assessoramento técnico da Aedas no processo de inscrição do edital.
Com objetivo de consolidar laços comunitários das famílias da ocupação, promover capacitação e fortalecimento feminino em defesa dos direitos das famílias, a atividade foi realizada pelas mulheres da comunidade. O grupo busca também o direito ao reconhecimento enquanto usuários das políticas públicas e na conquista de suas moradias. A Ocupação de Itueta existe desde 2016, e é formada por 47 famílias.

Alegria como referência de conquista
Com exposição de artesanatos, diversas barraquinhas com comidas preparadas por moradoras da ocupação, cama elástica para as crianças se divertirem, e um forró arrumado para o povo dançar a noite toda, os moradores de Itueta e Quatituba fizeram nascer a primeira edição da Feira Sociocultural Mulheres Ocupa.
Marília conta que a grande maioria das lideranças das famílias da ocupação são de mulheres, e que ocupação nasceu em 2016 da necessidade de moradia. Ela lembra que parte das pessoas da ocupação já haviam sido atingidas pela construção da usina hidrelétrica de Aimorés, que inundou toda “Itueta Velha”, trazendo a necessidade de realocação da população. Em 2015, com o rompimento da barragem de Fundão, a população de Itueta foi duplamente atingida, o que agravou ainda mais a situação de vulnerabilidade das pessoas.
“E a nossa intenção, hoje, é fortalecer mais ainda esse vínculo com as pessoas. A questão da tradição, da família, que vem se perdendo ao longo do tempo também com a mudança que teve da hidrelétrica, com o desastre de Mariana, que também separou famílias e distanciou vizinhos por questões até de desigualdade na parte de ser reparado. Então, a nossa intenção é juntar essas pessoas aqui em Itueta que, pós hidrelétrica tem 20 anos, pós rompimento que tem 10 anos, para ver se a gente volta a ter a cultura que a gente tinha na antiga Itueta. Muita coisa se perdeu, mas a gente tem lembranças muito boas que a gente quer que nossos filhos tenham para contar também”, afirma Marília.

Foto: Camila Quintana/Aedas
Cleidiane de Freitas, presidente da Associação da Ocupação, conta que enfrentaram muitas dificuldades para permanecer no local e que, hoje, vivem a realização de um sonho, morando em suas próprias casas em um local com iluminação, coleta de lixo e reconhecimento do poder municipal.
“A gente passou inúmeras coisas, foi muito difícil. Tivemos ameaças de que seríamos tirados daqui, de que viriam com trator derrubar tudo, mas a gente permaneceu… E as nossas raízes estão cada vez mais cravadas aqui. Porque são nove anos, né? Então a gente já tem uma história. Hoje, a gente tem agente de saúde e coleta de lixo. Quando a gente começou aqui, passamos 15 dias sem energia, então a gente teve que correr atrás mais a fundo foi onde a conseguimos com a prefeitura quatro postes para atender dez casas cada. Foi uma luta, mas hoje cada um tem o seu padrão de energia, o seu padrão de água, foi conquistas em cima de conquista, lutas, mas muitas conquistas.”

Marluce destacou a importância desta Feira Sociocultural na consolidação da Ocupação como parte da comunidade de Itueta.
“Para a comunidade, por muitos anos, isso aqui foi considerado “invasão” e para a gente conseguir tirar esse estigma de invasão, de que não é invasão, é ocupação, foi difícil. E hoje está aí a primeira feira! Saber que a comunidade do nosso município participou e apoiou… foi o melhor ganho em nove anos que a gente tem orgulho de falar!”
Marcela Nunes, coordenadora da equipe de mobilização do território 7, Itueta e Resplendor, destaca importância de celebrar as conquistas na ocupação.
“Hoje é dia de celebração. Marília e Marluce, que desde que chegamos ouvimos falar das “gêmeas da ocupação”, são duas sonhadoras, mas também concretizadoras. São mulheres de muita luta, muita garra, que sempre acreditaram que isso aqui seria possível. O rompimento da barragem tirou muita coisa dessa comunidade, e poder ver com os próprios olhos que essa luta e essa garra podem transformar tanta dor em alegria é uma grande satisfação. Nosso assessoramento técnico está lado a lado das demandas e conquistas dessas comunidades”, conclui.

Fundo Brasil de Direitos Humanos
A realização da feira foi possível com o apoio de um edital do Fundo Brasil lançado para “Promoção e Defesa de Direitos Humanos na Bacia do Rio Doce” em 2024. O edital observou como temas prioritários o direito das mulheres, sobretudo negras, indígenas e quilombolas, e de suas comunidades e povos; combate ao racismo ambiental; direito à saúde e à segurança alimentar; comunicação para a luta por direitos; formação para a incidência política; direitos das juventudes e combate ao genocídio das juventudes negras na Bacia do Rio Doce. Prioridade, nesse caso, não significa exclusividade – o edital também contemplou propostas que tratavam de outras pautas de defesa de direitos.
A segunda edição da feira já está sendo preparada para o fim deste ano. Para o futuro, as gêmeas vislumbram melhorias em relação as documentações das escrituras das casas da ocupação e o desenvolvimento de projetos comunitários a partir das possibilidades que estão para vir com a repactuação.









Texto: Camila Quintana – Equipe de Comunicação do Programa Médio Rio Doce da Aedas