Pessoas atingidas no Leste de Minas entregam documento sobre danos deixados por rompimento de Fundão à Comissão da ALMG
Entre os aspectos levantados está um problema enfrentado em Itueta Rural (norte), onde, após o rompimento da barragem de Fundão, o transporte de pessoas foi prejudicado.

Pessoas atingidas em municípios do Leste de Minas participaram, nesta segunda-feira (6), da reunião da Comissão Interestadual Parlamentar de Estudos para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia do Rio Doce (Cipe Rio Doce) realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Belo Horizonte. Para dar apoio técnico aos representantes da Comissão Territorial de Resplendor e Itueta (Território 7), a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social, Aedas, esteve presente na atividade realizando também o acompanhando dos debates a respeito de tema “Os Impactos e a Revitalização da Bacia do Rio Doce”, que guiou todo o debate público.
Reunindo deputados de Minas Gerais e Espírito Santo, representantes de municípios atingidos, movimentos sociais e assessorias técnicas independentes, a reunião da Cipe Rio Doce teve início com o coordenador regional da Comissão, deputado Leleco Pimentel (PT), recebendo documentos que iriam nortear os estudos do grupo.
Três representantes da Comissão Territorial 7, Rudio Pieper, representante da Vila Nietzel, norte do município de Itueta; e Renem Ramesia e Isac Pereira, lideranças da sede do município, aproveitaram a oportunidade para a entrega de um documento com demandas dos municípios atingidos de Itueta e Resplendor. Entre os aspectos levantados está um problema enfrentado em Itueta Rural (norte), onde, antes do rompimento da barragem de Fundão, o transporte de pessoas era comumente feito através de uma balsa sobre o rio para que a população chegasse até a área central do município, mas depois do rompimento, o rio ficou assoreado e a travessia ficou prejudicada.
Segundo relatos dos atingidos de Itueta, localizado no Leste de Minas, a construção de uma ponte ajudaria o município a recuperar o trânsito comercial, garantiria o bem-estar da população e até recuperaria a identidade da região. Isso porque a convivência com os danos profundos deixados pelo rompimento da barragem de Fundão mostra que a execução de projetos estruturantes, de impacto coletivo e de longo prazo, ainda é uma grande lacuna para a reparação aguardada pelas comunidades atingidas.
Além desse tipo de documento, a Cipe ainda recolheu das mãos das pessoas atingidas amostras de água coletadas de suas regiões, como Governador Valadares, zona rural de Timóteo, entre outros, para mostrar aos presentes a qualidade da água do Rio Doce atualmente. A maioria das amostras tinham sido coletadas no dia anterior a reunião, elas apresentavam cor barrenta e com sedimentos que repousavam nos fundos das garrafas.

“Estas são as tristes realidades a que submeteram nosso povo a partir do crime da Vale/ BHP e Samarco. Esta denúncia é de um crime que continua desde 5 de novembro de 2015. Esta impunidade não pode continuar. A presença dos atingidos marca a Cipe Rio Doce nesta retomada, porque repactuação sem atingido, não”, destacou o deputado Leleco Pimentel (PT) durante o ato simbólico da entrega das águas às autoridades.
Qualidade da água do Rio Doce
A reunião seguiu com explanações sobre a situação que os impasses acerca da reparação trazem às pessoas atingidas. Entre as exposições, se destaca a do pesquisador e doutor em Antropologia Social, Marcos Cristiano Zucarelí, que após falar sobre relações sociais e relações de poder em torno da reparação nas vidas das pessoas atingidas, destacou:
“Até o momento, a gente pode afirmar que esse empenho conciliador, dessas alternativas de resolução de conflito, caminha a passos largos em direção da segurança jurídica para o empreendimento. Não é à toa que a Samarco obteve, em outubro de 2019, a licença ambiental corretiva que permitiu no retorno da operação da empresa e, por outro lado, arrasta-se até hoje a reparação integral do direito das vítimas, que continuam a viver em casa provisórias, com adiamentos constantes de entrega definitiva e mesmo assim em situações socioambientais completamente distintas.”
Segundo o técnico da equipe da Área Temática Socioambiental (SAM) da Aedas, Ginno Pérez, a Assessoria Técnica, por meio da suas equipes, tem acompanhado de perto os debates que amplificam a voz das pessoas atingidas no relato sobre os danos que sofreram e veem sofrendo desde o rompimento da barragem de Fundão.

– Foto: Ginno Pérez
“A nossa equipe está acompanhando o debate crítico sobre os impactos e revitalização da bacia do rio Doce que, com os diversos atores participantes (Instituições de Justiça, poder público estadual e federal, universidades e IFs, movimentos sociais), estão se construindo. A importância desse acompanhamento vem porque coletar informações e dados sobre os problemas relacionados a água da Bacia, como qualidade, abastecimento, contaminação do solo e os impactos ambientais e sociais que o crime da Vale gerou, é fundamental para a construção de peças técnicas para assessorar as pessoas atingidas dentro do processo de reparação”, explica.
A realização da audiência foi registrada com a ausência da Fundação Renova, empresa responsável por gerir os programas de reparação dos impactos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, em 2015.
Texto: Mariana Duarte – equipe de Comunicação da Programa Aedas Médio Rio Doce