Vale e autoridades são pressionadas a esclarecer causas do ocorrido 

Foto da coleta dos peixes enviada por uma moradora de Francelinos, em Juatuba

No dia 12 de outubro, após chuvas intensas, pescadores e agentes da Defesa Civil encontraram centenas de peixes mortos às margens do Rio Paraopeba, na divisa entre os municípios de Betim, Juatuba e São Joaquim de Bicas. Esses municípios pertencem à Região 2 da Bacia do Paraopeba, uma área atingida pelo rompimento da barragem B-I da Mina Córrego do Feijão, ocorrido em janeiro de 2019, em Brumadinho e que lutam por reparação socioambiental há quase 6 anos.   

A denúncia foi encaminhada à Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que solicitou explicações da mineradora Vale, das prefeituras locais e do governo estadual. O deputado estadual Tito Torres (PSD), também presidente da Comissão de Meio Ambiente, declarou: “Hoje nós aprovamos requerimentos tanto a ser enviado à Vale, às prefeituras da região, ao Governo do Estado, para que nos dê uma explicação do que tem acontecido. Da noite pro dia a gente vê essa mortandade de peixes, é preocupante. E que a gente tem que detectar qual que é a razão dessa mortandade”.

Veja a seguir: Morte de peixes no Rio Paraopeba preocupa deputados – Assembleia Legislativa de Minas Gerais (almg.gov.br) 

Heleno Maia, presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica (CBH) do Paraopeba, afirmou: “Podemos observar que essas mortandades estão em uma área localizada, ela não está em toda a extensão do rio Paraopeba, sendo assim, há uma desconfiança enorme de que seja por contaminação, e não por falta de oxigenação. Então oriento toda comunidade que não se alimente desses peixes, que podem estar contaminado e trazer um dano muito maior”.

Consultoria dos danos socioambientais contratada pela Aedas

Os danos socioambientais continuam a atingir as comunidades atingidas e a Bacia do Rio Paraopeba, gerando preocupações sobre a contaminação das águas do rio por metais pesados oriundos do rejeito tóxico de minério de ferro despejado durante o rompimento da barragem B-I da Mina Córrego do Feijão. 

Episódios como a mortandade de peixes levantam questionamentos sobre a efetividade das ações de reparação ambiental previstas no Acordo Judicial de Reparação, como a dragagem do Rio Paraopeba, que segue com atrasos frente ao que era previsto e que, mesmo após quase 6 anos do rompimento, não concluíram a remoção do rejeito dos primeiros 2km, segundo a auditoria Aecom.    

Resultados das consultorias contratadas pela Aedas para o levantamento dos danos socioambientais nas Regiões 01 e 02 nos anos de 2021 e 2022, indicaram significativas alterações ambientais, identificando a presença de mais de 12 metais potencialmente prejudiciais à saúde humana e que violaram os valores de referência (VR) estabelecidos por regulamentações nacionais e/ou internacionais nas análises de Água Superficial, Sedimentos e Bioacumulação em Peixes.     

A tabela abaixo apresenta os elementos que violaram os valores de referência em número de vezes (x) acima do estabelecido, nos compartimentos ambientais:

Água SuperficialAlumínio (4x); Arsênio (4x); Chumbo (1x); Ferro (3x); Fósforo (3x); Fosfato (13x); Manganês (19x); Níquel (19x); Nitrato (1x) 
SedimentosArsênio (6x); Níquel (2x) 
Bioacumulação em PeixesArsênio (43x); Antimônio (11x); Cádmio (30x); Chumbo (3x); Cromo (189x) 

Além destes resultados dos ensaios de ecotoxicidade da água do rio Paraopeba e dos sedimentos, também chamam a atenção nos quais cerca de 56% das amostras apresentaram graus de toxicidade para o ecossistema aquático do rio Paraopeba. 

Angélica Moura, da comunidade de Nova Esperança, em Juatuba, município assessorado pela Aedas, relatou que a mortandade de peixes não foi um fenômeno inesperado “Já era algo que poderia acontecer, especialmente após o longo período de seca que enfrentamos (…) É um problema que deve ser investigado com cuidado, para que possamos identificar todos os fatores envolvidos e, principalmente, prevenir que tragédias ambientais como essa continuem se repetindo. Vamos continuar atentos e em busca de soluções para proteger nossos rios e toda a vida que depende deles”.  

A Aedas encaminhou às Instituições de Justiça um conjunto de imagens e vídeos enviados pelas pessoas atingidas que buscam respostas e demonstram preocupação, medo e insegurança quanto ao risco iminente direcionado aos danos à saúde, aos espaços de convivência e à alimentação. 

Confira abaixo alguns vídeos enviados pelas pessoas atingidas à Aedas