Territórios sem violências, mulheres livres! Aedas lança cartilha sobre protagonismo das mulheres atingidas
Cartilha é fruto da auto-organização de mulheres da Bacia do Paraopeba e é lançada no dia internacional de Luta pelo Fim da Violência contra a mulher.

O dia 25 de Novembro é dedicado ao Dia internacional de Luta pelo Fim da Violência contra a mulher. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 1999, em homenagem às irmãs Mirabal (Pátria, Minerva e Maria Teresa), assassinadas pela ditadura de Leônidas Trujillo, na República Dominicana.
Em alusão à data, a Aedas lança a cartilha “O Protagonismo das Mulheres na Luta Pela Reparação Integral”. O material foi produzido a partir dos danos debatidos pelas mulheres atingidas em espaços auto-organizados de partilha, escuta e discussão coletiva e aborda temas como: quem são as mulheres atingidas, desigualdades de gênero, danos à vida das mulheres e o protagonismo das mulheres no processo de construção da reparação.
“Nesta cartilha buscamos retratar o protagonismo das mulheres atingidas em sua luta pela reparação integral, bem como trazer a reflexão sobre a violência e as desigualdades sociais e de gênero enfrentadas historicamente pelas mulheres”, comentou Cristiane Dias, coordenadora da equipe de gênero na região 1.
“A reflexão sobre a violência e as desigualdades sociais e de gênero enfrentadas historicamente pelas mulheres“
Cristiane Dias – Aedas R1

Maioria nos espaços participativos
As mulheres são maioria nos espaços participativos, sendo também o maior grupo que aciona a assessoria com demandas relacionadas a água, alimentação, realojamento, dentre outros. 51% da população é de mulheres e meninas, dessas, cerca de 59% se declaram pretas e pardas, segundo os dados coletados nos registros familiares.

“A cartilha lançada é um material muito importante para qualificação do nosso trabalho e de reconhecimento sobre o papel das mulheres na luta dos/das atingidas. Para a equipe de relações étnico-raciais é fundamental, já que a maior parte das mulheres atingidas são mulheres negras”, destacou Cecília Godói, coordenadora da equipe de relações étnico-raciais.
“A maior parte das mulheres atingidas são mulheres negras“
Cecília Godói – Aedas R2

Aumento da violência em territórios atingidos
O material traz ainda o debate sobre violência contra a mulher, com atenção especial aos tipos de violência e os serviços de atendimento disponíveis para as mulheres no estado de Minas Gerais. A violência interpessoal e autoprovocada é o triplo para mulheres em relação aos homens nos anos após o rompimento.
Nos últimos anos houve um desmonte das políticas públicas de combate à violência contra a mulher, a pandemia de covid-19 que manteve muitas famílias em casa, mesmo quando essa convivência não era segura para a mulher. Nos municípios da região dois, houve aumento no número de casos de violência contra a mulher.
Em Brumadinho, a taxa de estupro no ano de 2021 dobrou em relação ao estado de Minas Gerais. Na região 2, houve crescimento de 19,10% nos casos de violência doméstica contra a mulher em Igarapé, após 2019 e 1.060 casos de violência contra a mulher em Juatuba por ano.
Diante do aumento da violência no território é necessário o comprometimento coletivo para combater esse sistema de funcionamento. Este é um documento desenvolvido por várias mãos (ATI e as mulheres atingidas), que reúne os grandes temas de danos à vida das mulheres, servindo como um instrumento de apoio e consulta para as mulheres em situação de violência, por isso que se articula com o dia 25 de Novembro.
“A cartilha é uma ferramenta na mão das mulheres atingidas para que elas possam se fortalecer enquanto sujeito coletivo, enquanto mulheres e fortalecer a luta pela reparação justa e integral”, destacou Iridiane Seibert, coordenadora da equipe de monitoramento de gênero.
“Em Brumadinho, a taxa de estupro no ano de 2021 dobrou em relação ao estado de Minas Gerais. Na região 2, houve crescimento de 19,10% nos casos de violência doméstica contra a mulher“
Um rompimento Quantos Direitos Atingidos?
A campanha social e educativa “Um rompimento – quantos direitos atingidos?”, realizada pela Aedas, tem o objetivo de combater e enfrentar a violência e a discriminação nos territórios atingidos.
Na campanha, um dos eixos temáticos é o Direito à Participação das Mulheres. Sem a garantia da participação das mulheres na construção da reparação, com ações e políticas que levem em consideração a realidade e os principais problemas das atingidas, toda a sociedade sai prejudicada.

