Uma história contada nos espaços da Ciranda da Aedas
Foto: Freepik

Era uma vez um girassol amarelo, Amarelinho, Amarelão. Um girassol em um campo de outros girassóis. Todos amarelinhos, todos amarelões.

O girassolzinho era coberto por um zilhão de pétalas amarelinhas como o alegre sol de verão e grudadas nele um montão de folhinhas tão verdes quanto as asinhas dos besouros que pousavam nelas pra lhes fazer cócegas vez ou outra.

Ele amava aquele lugar e todos os girassóis dali. Gostava de conversar com um pezinho de girassol menor que vivia sorrindo de suas piadas bobas de girassol. Ele também adorou quando o girassol mais velho o ensinou a como fazer para dar um giro perfeito acompanhando o giro do sol durante o dia no céu. Foi perfeito aquele dia. Suas pétalas eram amarelas de pura felicidade.

Mas, o tempo passou e com ele passou também o lindo e luminoso tempo de sol. Agora tudo estava mais cinzento e frio: tinha chegada a época das chuvas.

Às vezes era só um sereninho, as vezes uma chuva grossa e gelada. Mas numa noite veio sobre aquele campo de girassóis um enorme temporal. Daqueles que quando vêm trazem consigo muitos trovões, raios, pingos pesados e muito, mas muito, vento forte e barulhento. Ao amanhecer tudo estava mudado com os girassóis. Alguns com as folhas murchas, outros de cabeça baixa ainda encharcada de tanta água.

O girassol amarelinho, meio torto e ainda amedrontado pela tempestade olhou, ao seu redor e já não conseguia ver o girassolzinho mais novo e muito menos o girassol mais velho. Dois de seus melhores amigos. Logo, sentiu um vazio por dentro. E se surpreendeu quando viu que o seu zilhão de pétalas agora estavam azuis. Azuis assim como o seu vazio por dentro. E de cabeça abaixada o girassol chorou um choro fininho e para dentro. Só que em vez de lágrimas, girassóis derramam pétalas. Pétalas de tristeza. E no meio daquele choro, tantas perguntas: por que foram embora meus amigos? Por que o senhor vento teve que soprar tão forte? Por que a senhora chuva teve que pingar tão pesado? Por quê? Por quê? Eram tantos

porquês… E um calor tomou conta de seu frágil corpo de girassol. Não um calor gostoso como aquele irradiado pelo sol da primavera, mas um calor abafado e sufocante como o de um incêndio. E as pétalas daquele girassol se tornaram vermelhas. Tão vermelhas quanto as asas das joaninhas matinais. O girassol começou a gritar bem alto: por que dona chuva?! Por que, por que seu vento?! E começou chorar pétalas vermelhas. Pétalas de raiva. Depois de dias revezando entre azuis e vermelhas, suas pétalas começaram a ficar cinzas. Também pudera, naquela tardinha se anunciava outra chuva e com ela a sensação de que toda aquela situação ruim poderia se repetir. Ele sentiu medo. Um sentimento que só passou quando viu que foi apenas mais uma chuva normal: boa e refrescante. O girassol dessa história não se reconhecia mais. Vermelho? Azul? Cinza? Estava tudo tão confuso em seu coração de girassol. Parecia que carregava o peso de mil pardais em cima da sua cabeça. E cabisbaixo ficou. Sem sol, sem amigos, sem o lindo amarelo de suas pétalas, até suas folhas, agora murchas, ameaçavam cair. Seria o fim do girassol Amarelinho, Amarelão?

A resposta é não! Pois ele não estava sozinho. Apesar do sentimento de solidão, ainda existiam muitos outros girassóis naquele campo querendo lhe fazer companhia. E assim, percebendo que ali estava alguém que precisava de atenção, um longo pé de girassol com um lindo lacinho amarelo que decorava seu tronco verde e de folhas grossas e pontudas lhe cutucou e perguntou o motivo dele estar assim daquele jeito. E se ofereceu para conversar. Queria ouvi-lo. Então lhe falou que era bom botar para fora, em palavras, choros e risos, tudo que estava guardado ali dentro de seu coração. E eram tantas as sensações que mal cabiam no peito do amarelão. Então ele resolveu conversar e a cada palavra que nosso girassolzinho falava uma pétala cinzenta, ou azul ou vermelha, voltava a ser amarelinha. Ao final daquela conversa cheia de emoção, o nosso triste girassol percebeu que falar sobre seus sentimentos nem sempre é fácil, mas vale muito a pena. Desabafar espantou todos os mil pardais que pareciam estar sobre sua cabeça. Se sentiu leve e alegre novamente. E agora pôde se erguer de novo e voltar a ver o lindo sol que brilhava no céu e que sempre esteve ali pronto a ser admirado, lindo, feliz e amarelinho tão amarelinho quanto as pétalas do nosso girassol amarelinho, amarelão.

Autor: Dheimes de Moura, pedagogo na Ciranda Aedas

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