Nos espaços participativos da Ciranda da Aedas, as crianças desempenham seu papel na luta por reparação, visando um presente e um futuro melhores

Foto: Felipe Cunha | Aedas

O Dia das Crianças é comemorado em 12 de outubro em todo o Brasil. Nesta data, além de celebrar a importância da infância, propomos uma reflexão sobre o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para as crianças atingidas da Bacia do Paraopeba, seu reconhecimento e direito à dignidade no processo de reparação integral.

A presença de metais pesados no solo e no ar, poluição das águas, enfermidades antes desconhecidas nas pessoas e em diversas espécies da fauna e flora. Esses são alguns dos impactos visíveis no dia a dia das comunidades atingidas. As consequências das frequentes crises climáticas, como o aumento das temperaturas, queimadas, enchentes entre outros fatores, agravam ainda mais o cenário da saúde e qualidade de vida dessas pessoas, principalmente das crianças e adolescentes atingidos.

Foto: Janaina Rocha | Aedas

Nos últimos anos, a Aedas tem viabilizado espaços em que as crianças e adolescentes sejam reconhecidas como sujeitas de direitos dignas de reparação, pois a luta não é só coisa de gente grande. Neles, as infâncias atingidas também são protagonistas, se reconhecem como sujeitos de direito e participam ludicamente expondo suas ideias e anseios por um presente melhor, nos ensinando a olhar para a reparação sob suas perspectivas, desejos e sonhos.

Em espaços participativos como a Ciranda Infantil, as crianças e adolescentes desenvolvem diversas atividades pedagógicas, com metodologias próprias para suas especificidades sociais, cognitivas, de acordo com suas faixas etárias, principalmente relacionadas com as pautas socioambientais. Elas também contribuem, pensando e se expressando criticamente mostrando que querem ser ouvidas.

Ter atenção com a natureza

“Assistimos a filmes e fazemos cartazes sobre os biomas e sobre o que está acontecendo com a natureza. Se a gente prestar atenção, as pessoas não estão cuidando dela, está tudo morrendo e poluído. O rompimento da barragem trouxe muito prejuízo para a natureza e para as pessoas. Além de perder familiares, muita gente perdeu o contato com a natureza”, diz Ana Luiza, da comunidade Boa Esperança em São Joaquim de Bicas.

Além da perda do meio ambiente ecologicamente equilibrado, as crianças atingidas também têm outros direitos violados. Faltam pautas que incluam as crianças e
suas necessidades, tais como os acessos às políticas públicas específicas nos âmbitos da saúde, educação, cultura e lazer. Em um efeito cascata, a vida social, a saúde mental e psicológica também são comprometidas, prejudicando a vivência da infância em sua plenitude pela perda de tudo o que um dia lhe foi cotidiano, como o ambiente ao seu redor, sua relação com a terra, com o rio e sua comunidade.

“A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processos de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis” (ECA, Art. 15.)

Somos o futuro, somos as sementes

Bryan Victor, morador da comunidade Ponte Nova em Juatuba conta que consegue ver as mudanças da natureza no território. “Muitos animais, como os peixes, sucuris e capivaras, são difíceis de encontrar agora e os que restam estão vivendo na poluição. Tinha gente que morava perto do rio, que pescava e nadava lá, e isso acabou”, contou. Ele também espera que a mineradora e as instituições de justiça cumpram o seu papel no processo de reparação. “Espero que a Vale e os responsáveis trabalhem juntos para tirar o rejeito do rio, façam barreiras de contenção para que ele não volte para as casas. Um presente que eu gostaria de ver para as crianças seria o ser humano parar de desmatar. Isso mudaria muito as coisas”, aponta.

Cuidar da natureza

Foto: Janaina Rocha | Aedas

Para Ana Luiza, o desejo é o de um futuro com saúde. “Que as crianças tenham muito tempo de vida e possam crescer em um ambiente saudável, para brincar e ser criança. Que os adultos cuidem mais do meio ambiente, não poluam, não joguem lixo, porque isso prejudica a todos nós. Cuidar da natureza é importante para
poder plantar e ter um ar melhor”.

O que fica para Bryan são as perguntas ainda sem respostas e o desejo latente pela garantia de direitos, com a esperança de dias melhores. “Até 2030, que mundo viveremos com desmatamento, aquecimento global e efeito estufa? O rompimento da barragem foi algo muito triste. E nós, crianças, seremos o futuro, somos as sementes”.

Dados da Ciranda

Desenhos feitos por crianças atingidas durante a Ciranda no Córrego do Feijão | Foto: Felipe Cunha – Aedas

Total de 299 participações de crianças e adolescentes nos 25 espaços de Ciranda
Distribuição por gênero: 59,5% meninas e 40,5% meninos
Destaque para a participação de crianças e adolescentes PCDs e neurodivergentes, totalizando 14,3 % nos nossos espaços
Autodeclaração racial: Brancos 24,08% – Pretos 23,08 % – Pardos 45,48% – Não declarados são 7,02%
janeiro à outubro de 2024

“Meu quintal era maior que o do mundo (…)”

Texto: Isis de Oliveira | Aedas


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