Mães, viúvas, filhas e irmãs protagonizam a atuação da Avabrum

Os Dossiês Temáticos das Mulheres Atingidas, elaborados e divulgados recentemente pela Aedas, apontam, além da diversidade de perfis das atingidas, a importância da participação dessas mulheres no processo de reparação integral. Entre os familiares de vítimas fatais, por exemplo, é evidente o esforço protagonizado pela organização de mulheres na disputa pela memória e justiça.
Fundada em agosto de 2019, a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum) cumpre um papel fundamental nessa disputa, e são as mulheres que, desde então, assumem a liderança dessa associação.
Representação da família
Mãe de Priscila Elen Silva, uma das 272 vítimas do desastre-crime da Vale, Maria Regina da Silva compõe a diretoria da Avabrum e avalia que há um fundamento para as mulheres estarem mais à frente nos espaços de participação e reivindicação.
“São as mulheres que chefiam essas famílias. Eu, por exemplo, criei a Priscila e outros filhos sozinha. Na maioria dos casos, as mulheres estão sozinhas nessa luta representando uma família toda”, relatou.
Justiça é uma luta diária

Atualmente, a diretoria da Avabrum é composta por dez mulheres. Elas são mães, viúvas, filhas e irmãs que, diariamente, alimentam a coragem de outros familiares e amigos das vítimas fatais, simbolicamente chamadas de joias.
“Neste momento, temos mais irmãs na luta porque os outros parentes adoeceram em quatro anos de sofrimento. Nossa realidade, agora, é lutar todos os dias buscando justiça e a reparação que precisa vir em todos os âmbitos”, contou Maria Regina.
Esperança e memória
A luta construída pela Avabrum é acompanhada do luto e da memória. É também uma luta que se alimenta de esperança, exigindo força das mulheres atingidas. De acordo com Maria Regina, a organização das mulheres entre os familiares de vítimas fatais continua até conquistar a justiça e defender a memória das joias.
“Essa dor nos mantém em pé para seguir lutando. Precisamos encontrar outras três pessoas vítimas da tragédia, não podemos deixar que os familiares continuem adoecidos como estão e precisamos exigir a punição dos culpados. Enquanto eu estiver viva, vou seguir lutando e presente em todos os espaços, brigando pela justiça”, declarou.
Texto: Rafael Donizete

Veja essa e outras matérias na 16ª edição do Jornal Vozes do Paraopeba