Tenho 4 filhos, passei por muitas dificuldades, fome e tudo. Vendia um pouco de tudo para não faltar nada pra gente. A reparação integral vai mudar nossas vidas e não vamos desistir de nossos direitos. – atingida G.P. 

No sábado, 8 de fevereiro de 2019, a vida das mulheres das comunidades de Pinheiros, Lagoa das Flores e Vieiras mudou drasticamente. Nesse fatídico sábado foi acionado o Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) da ArcelorMittal e centenas de pessoas tiveram que sair de suas casas devido ao risco de rompimento da Barragem Serra Azul. Desde o acionamento do Plano, as comunidades atingidas sofreram um aprofundamento das desigualdades entre homens e mulheres.

No diagnóstico realizado pela Assessoria Técnica Independente da Aedas, em Itatiaiuçu, diversas mulheres relataram um aumento do trabalho doméstico, da violência, da insegurança e fortes danos à saúde. “Estou em tratamento psicológico, ando tendo umas crises de insegurança, de não conseguir manter minha família. O medo é constante”, confidencia a atingida G.P..  “Escuto um estrondo, dessas dinamites aí e não sei se é barragem rompendo, é desesperador, não consigo ficar tranquila quando saio de casa e deixo meus filhos”, desabafa a atingida S. M.  

São diversos relatos de angústia e incertezas desde o acionamento do PAEBM em Itatiaiuçu. O medo constante agora faz parte do dia a dia das mulheres, das crianças, das idosas. Cada uma tem uma história para contar e um novo medo para superar. Mas, mesmo com todo este medo, essa angústia, as mulheres atingidas de Itatiaiuçu têm desempenhado um papel importante na luta pela reparação integral. São elas as protagonistas dos espaços participativos, na construção de uma reparação justa e para todos e todas. “Sem a participação das mulheres, não há reparação justa”, entoa a atingida L.S.

As mulheres percorrem as comunidades, vão de porta em porta mobilizando e chamando o povo para a luta de seus direitos, a luta por uma reparação justa. “Eu cheguei em Itatiaiuçu há 32 anos, vim para cá buscando uma vida melhor para mim e para meus filhos, não queria viver mais na violência. Aqui escolhi viver, encontrei meu lar, e se, para manter meu lar, preciso lutar por meus direitos, irei fazer isso!”, conta a atingida M.S.

Mas todo esse trabalho de mobilização não é fácil. É preciso união, força e parceria. A atingida M.S. conta que teve de falar grosso em diversos momentos e que já pensou em desistir da reparação. “Tive que rasgar o verbo, o povo não acreditava na gente, que não íamos conseguir nada. Hoje temos a prestação mensal, as negociações individuais. Abri minha casa para receber as reuniões, para que todas as pessoas atingidas pudessem participar e entender nossos direitos. Se não fosse outras atingidas eu teria desistido”,  conta M.S.

Todo o processo de reparação em Itatiaiuçu vem sendo construído coletivamente, com a participação das pessoas atingidas. Desde o acionamento em 2019, as comunidades atingidas tiveram diversas vitórias. A prestação mensal, por exemplo, é uma delas. Com a assinatura do TAC 1, em junho de 2021, todos os núcleos familiares cadastrados pela Aedas e os que estavam a 1km da zona de autossalvamento (ZAS) passaram a receber a prestação mensal. “Com a prestação mensal consegui muitas coisas. Consegui comprar uma geladeira, que eu não tinha. Também agora compro outras coisas que são o básico de alimentação, antes eu recebia muito pouco”, revela a atingida G.P.

A luta das pessoas atingidas de Itatiaiuçu continua. A luta das mulheres atingidas de Itatiaiuçu continua. “Nós nos apoiamos, juntas somos mais fortes e vamos continuar lutando e resistindo, queremos nossa reparação justa e para todos!”, enfatiza a atingida M.S.. A reparação integral e justa transforma vidas e garante direitos.