Mulheres: a força dos territórios no Vale do Jequitinhonha e Região do Rio Pardo
Encontro de Mulheres atingidas por barragens, realizado em Virgem da Lapa, promove discussões sobre o desenvolvimento local e sobre o projeto Veredas Sol e Lares (D0632)
No dia 08 de março de 2018, cerca de 350 mulheres atingidas por barragens encheram o auditório do Palácio da Liberdade (Belo Horizonte, MG) para acompanhar a cerimônia que marcava o nascimento do projeto Veredas Sol e Lares (P&D0632). A data não foi por acaso: a assinatura do projeto no dia internacional de luta pelos direitos das mulheres era símbolo do protagonismo feminino na defesa do direito à água, à energia e ao território.
Assim, a organização e participação das mulheres do Vale do Jequitinhonha e Região do Rio Pardo foi uma das forças que alavancou o sonho de implantação de uma usina solar fotovoltaica flutuante, com gestão popular, na PCH Santa Marta em Grão Mogol/MG.

Mulheres se encontram e debatem desenvolvimento local
Setembro de 2022 marca mais um capítulo na construção de uma rede feminina na defesa dos territórios no Vale do Jequitinhonha e Região do Rio Pardo. Nos dias 10 e 11, o município de Virgem da Lapa/MG sediou um encontro de atingidas por barragens da região, reunindo 21 mulheres que vivem em meio aos impactos socioambientais provocados pela usina de Irapé (município de Grão Mogol), pela barragem de Setúbal (município de Jenipapo de Minas), pela barragem de Berizal (região do Rio Pardo de Minas) e pela de Calhauzinho (região de Araçuaí).
O intuito do encontro foi dialogar sobre propostas de desenvolvimento a partir do olhar das mulheres residentes naqueles territórios. Sendo assim, o projeto Veredas Sol e Lares (D0632) atravessou o debate, retratado como uma conquista que pode contribuir nas possibilidades de maior autonomia para as comunidades e suas moradoras.
O espaço também contou com a presença e contribuição de Lori Figueiró, fotógrafo que dedica seu trabalho a registrar a vida no Vale do Jequitinhonha. Além de criar registros do evento, o artista presenteou as atingidas com seu livro “Mulheres do Vale: Substantivo Feminino”. A obra retrata a cultura das mulheres na construção das identidades do Vale, e foi ponto de partida de um diálogo sobre os significados de ser mulher no semiárido mineiro.

Arpilleras: uma metodologia de participação popular
O objetivo do encontro foi discutir a questão do desenvolvimento sob o olhar das mulheres e refletir como o P&D0632 poderia contribuir nesse processo. O diálogo sobre se deu a partir das percepções das mulheres sobre violações de direitos e as condições de vida em meio às barragens da região. Para retratar essas as percepções, foi utilizada a metodologia da construção de Arpilleras: bordados que ilustram narrativas sobre problemas cotidianos e propostas de superação dos mesmos.

As principais denúncias debatidas e bordadas pelas mulheres dizem respeito:
- À falta de água para consumo doméstico e produtivo, assim como, sua relação com as monoculturas de eucalipto;

- À má qualidade ou não acesso à energia elétrica, que provoca danos a aparelhos eletroeletrônicos e impedem seu uso.

- À má qualidade das estradas, que provoca o isolamento de comunidades inteiras e inviabiliza o acesso a serviços públicos básicos como saúde e educação.

O projeto Veredas Sol e Lares também ganhou uma Arpillera, que o representa como uma possibilidade de melhoria de vida através do abatimento nos gastos de energia e fortalecimento das atividades produtivas. O D0632 também foi tema de uma carta escrita pelas mulheres presentes, que diz:
“Existe uma enorme satisfação dentro dos nossos corações, um sonho a ser concretizado, uma força que nos faz acreditar, que o Veredas vem a beneficiar todas as famílias atingidas. É com muita alegria, esperança e fé dentro de nós que esperamos com ansiedade receber essa energia que beneficiará as atingidas do Jequi e Rio Pardo.
Enfim, nossos sonhos deixaram de ser apenas linhas e retalhos e passaram a ser realidade.”

O projeto Veredas Sol e Lares (D0632) é realizado via Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL. A entidade proponente e cooperada é CEMIG e sua execução é realizada pela AEDAS, pela CEMIG Sim, AXXION e pela PUC Minas. A iniciativa ainda conta com as parcerias do Movimento dos Atingidos por Barragens e do Observatório dos Vales e do Semiarido Mineiro, da UFVJM.