Cerca de 6200 carcaças de peixes foram contabilizadas nesse episódio, incluindo espécies como surubins, cascudos, piranhas e pacamã 
Foto: Reprodução WhatsApp

Entre os dias 6 e 10 de setembro de 2025, pessoas atingidas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho relataram à Aedas um novo episódio de mortandade de peixes no Rio Paraopeba, em trechos que passam por Betim, Juatuba e Esmeraldas

Os primeiros peixes mortos foram vistos no sábado (6 de setembro), após a foz do Rio Betim com o Paraopeba, em Juatuba. Segundo os relatos, com o passar dos dias, a mortandade avançou por cerca de 17 quilômetros rio acima, alcançando também as margens de Esmeraldas.  

A estimativa é de que cerca de 6200* carcaças de peixes foram contabilizadas nesse episódio, incluindo espécies como surubins, cascudos, piranhas e pacamã

Representantes de órgãos públicos estiveram em campo fazendo a coleta de amostras de água, sedimentos e peixes para análise, dentre elas o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (CBH Paraopeba), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (SEMAD) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF). 

Segundo informações apresentadas por Rodrigo Ferreira, da SEPLAG (Secretaria de Planejamento e Gestão), a expectativa é que os laudos de análise sobre a mortandade fiquem prontos na segunda quinzena de outubro*.  

Mortandade de peixes já ocorreu antes 

Essa não é a primeira vez que isso acontece. Eventos semelhantes de peixes morrendo têm se repetido, gerando alerta entre comunidades ribeirinhas e pescadores. Em outubro de 2024, centenas de peixes mortos foram encontrados nas margens do Rio Paraopeba, na divisa entre Betim, Juatuba e São Joaquim de Bicas. 

Foto da coleta dos peixes enviada por uma moradora de Francelinos, em Juatuba

 
“Quando isso aconteceu, as comissões de atingidos e atingidas das Regiões 1 e 2 da Bacia do Paraopeba enviaram ofício à justiça, ao Estado e à Vale solicitando transparência e informações detalhadas sobre esse evento”, explicou Mariana Vieira, assessora técnica da Aedas, que acompanha a demanda junto às lideranças.  

O que dizem as autoridades e a mineradora

Em março de 2025, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (SEMAD) respondeu por meio do Relatório Técnico nº 1/SEMAD/GAB ADJ COMITÊ/2025 que a mortandade de peixes no Rio Paraopeba, ocorrida em outubro de 2024, foi monitorada pela Vale e suas terceirizadas por meio do Plano de Monitoramento da Dragagem. As equipes realizam vistorias e manejam diariamente os peixes mortos, acionando o Programa de Atendimento à Mortandade de Peixes (PAMP) sempre que um evento é detectado. 

No relatório consta que a Vale respondeu pela Carta Diretoria de Reparação nº C.EXT.0002/2025, que além do PAMP, a Vale realiza monitoramento constante para avaliar os danos e impactos ambientais sobre o meio biótico por meio de outros programas, como o Programa de Diagnóstico de Danos Ambientais sobre o Meio Biótico (PDD), que inclui monitoramento diário das águas do Rio Paraopeba. A Vale alegou que os peixes recolhidos no episódio de mortandade que aconteceu em outubro de 2024 já estavam em avançado estado de decomposição, impossibilitando a identificação da causa da morte ou a análise de bioacumulação de metais. Os relatórios do programa são enviados regularmente à SEMAD. 

Foto: Reprodução WhatsApp

Estudos apontam presença de metais pesados 

Esses acontecimentos reforçam a preocupação contínua com a qualidade ambiental do Rio Paraopeba e a necessidade de acompanhamento dos impactos sobre a saúde das comunidades e do meio ambiente. Nos anos de 2021 e 2022, estudos contratados pela Aedas nas Regiões 01 e 02 identificaram violações de normas ambientais que podem causar riscos à saúde humana. Entre as matrizes analisadas, estavam água superficial, sedimentos e peixes. Nos compartimentos estudados, foram detectados mais de 12 metais potencialmente prejudiciais à saúde em níveis acima dos permitidos, incluindo arsênio, cádmio, chumbo, cromo, níquel, alumínio e manganês. Acesse os resultados dos estudos socioambientais realizados na Região 2 – Aedas  

Comunidades atingidas cobram respostas 

Essa nova mortandade se soma a uma longa lista de preocupações das comunidades atingidas pelo rompimento das barragens de propriedade da empresa Vale S/A em Brumadinho. Os projetos da reparação socioambiental vêm sendo constantemente questionados pela auditoria quanto a falhas técnicas e de execução, tendo o cronograma de implementação atrasado e falta de transparência com as comunidades atingidas sobre as ações realizadas. Os Estudos de Risco à saúde humana também geram desconfiança nas comunidades atingidas, tanto em relação à nova empresa que assumiu sua execução quanto pelo fato de que, passados mais de seis anos após o rompimento, o estudo ainda não iniciou a fase de coletas ambientais.  

Por fim, a Aedas reforça a recomendação dos órgãos competentes, como o IGAM, de não usar a água bruta do Rio Paraopeba para nenhum fim no trecho que vai de Brumadinho até a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, em Pompéu. A pesca de espécies nativas é proibida em toda a bacia, conforme decretos estaduais e regulamentos de Minas Gerais.  

* Segundo Rodrigo Ferreira Matias, Secretário-Adjunto da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais (SEPLAG-MG), na audiência pública “Ações realizadas com os recursos para a recuperação de Brumadinho – Minas e Energia”, realizada em 16/09/2025 . Disponível em: https://www.youtube.com/live/fPAMj_1KxxA?si=ByxOd5eI0tN6LJ7-&t=8200 

Texto: Mariana Vieira – equipe de Marcadores Sociais das Diferenças