Moradores de Cachoeira Escura denunciam desabastecimento e dificuldades para acessar água potável
Em assembleia, Comissão de Atingidos e Atingidas discutiu o assunto com moradores e autoridades locais

A Comissão de Atingidas e Atingidos de Belo Oriente, realizou, na noite da última sexta-feira (12), na Quadra da Escola Municipal Hilda Morais, no distrito de Cachoeira Escura, uma assembleia geral com moradores para denunciar e debater o desabastecimento de água potável. Membros da Comissão convidaram, além da população atingida, representantes da prefeitura de Belo Oriente, legislativo municipal, Copasa e Fundação Renova. Nenhum representante da Prefeitura, Copasa ou Fundação Renova compareceu ao evento.
Após o desastre-crime de Mariana, centenas de pessoas atingidas deixaram, em algum momento, de ter acesso à água potável. Dados do Registro Familiar (RF), produzidos pela Aedas, assessoria técnica independente que atua nos municípios do Vale do Aço e Leste de Minas, apontam que 70,38% da população atingida pelo rompimento da barragem de Fundão, de responsabilidade das empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, sofreram com a interrupção no fornecimento de água após o rompimento.

Luciano Gonçalves, membro da Comissão de Atingidos e Atingidas de Belo Oriente, aponta que os ciclos de falta de água são frequentes e chama atenção para a quantidade de dias sem acesso à água potável. “A frequência e a quantidade de dias de falta d’agua me deixam indignado. São sete ou cinco dias sem água [sempre que falta água na região]. Trata-se de um absurdo! Quando a Prefeitura se predispôs à distribuição de água, contratou a COPASA, que entrou numa furada para fazer o tratamento de uma água que está contaminada. Eles perderam uma oportunidade grande de estarem aqui e explicar o motivo [da falta de água na região]”, desabafou.

O frequente desabastecimento que tem ocorrido na região também foi lembrado por Itamar Coelho, morador do bairro Astrogildo e membro da Comissão de Atingidos. Para ele, colocar mais reservatórios de água pela cidade reduziria os danos de acesso à água. “Quem tem mais quantidade de caixa, tem água por mais tempo. Se na Codestra [bairro], tivesse mais um reservatório, como no Astrogildo, teria água por mais tempo para o Centro, por exemplo. Nós temos que falar a mesma língua, nós temos que correr atrás, nós temos que nos unir. Por isso coloco como reinvindicação mais reservatórios nos bairros”, destaca.
Alerta à qualidade da água
A qualidade da água fornecida pela Copasa também foi questionada pelos moradores presentes na assembleia. De acordo com os dados do Registro Familiar, cerca de 93,93% das pessoas atingidas também não confiam na qualidade da água do Rio Doce, que é a fonte de abastecimento do distrito de Cachoeira Escura.
É o caso de Maria Rosa, professora aposentada e membra da Comissão de Atingidas e Atingidos do município. “A bomba que faz a captação para o reservatório da Copasa, ela fica diretamente dentro do Rio Doce. Quando o rio está assoreado vai uma máquina lá para mover a areia, para tirar a areia, para entrar água para captar. Então pega aquela água barrenta e aquela água ali é decantada… e depois levada para a nossa residência. Cheia de minério! Como confiar?”, questiona.

Os laudos apresentados por representantes do poder público sobre a qualidade da água e contaminação de alimentos foram lembrados pela professora. “A nossa água foi contaminada com o rompimento da barragem de Fundão e hoje nós temos laudos que dizem que não só a água está contaminada, como as terras estão contaminadas, os gados que bebem da água também ficam contaminados… A nossa água não é própria para consumo humano e muito menos para consumo animal ou para irrigação”, comenta Maria Rosa.

A dona de casa Maria Aparecida, moradora do centro de Cachoeira Escura, também faz coro com o desabafo de Maria Rosa. “Confiar nessa água aí a gente não confia. A gente usa a água da rua [Copasa] só mesmo para lavar roupa e dar para as plantas. Mas nem isso mais tá sendo possível porque elas tão morrendo. Eu plantava e hoje nem planto mais, entendeu?! Tinha horta e hoje não pode mais. As plantas tão tudo morrendo”, afirmou a moradora.
Propostas e reivindicações
Para superar os danos causados pela falta de acesso à água potável, Maria Rosa apresenta propostas defendidas pela população de Cachoeira Escura. “A sugestão que nós temos para resolver a solução dessa água é a captação da água do rio que fica a 3 km daqui, para resolver a questão da qualidade da água. Nós temos ainda a reivindicação de fornecimento de água mineral para a população até que faça a captação alternativa para o povo não ficar tomando essa água contaminada já que essa água ela vem do Rio Doce.”, afirma.
Os e as participantes da assembleia aprovaram como reivindicações os seguintes pontos:
– Alterar o lugar de captação da água distribuída pela Copasa aos moradores de Cachoeira Escura – deixando de usar a água do Rio Doce;
– Fornecimento de água mineral para as pessoas atingidas enquanto não houver alteração da captação de água do Rio Doce;
– Construção/Distribuição de reservatórios de água no distrito de Cachoeira Escura;
Texto: Thiago Matos – Equipe de Comunicação Médio Rio Doce