As pessoas atingidas apresentaram suas demandas em relação aos temas de Governança Popular, Plano Participativo, Fluxo de Projetos e Programa de Crédito e Microcrédito

Encontro com Entidade Gestora reuniu representantes dos cinco municípios da R2 | Foto: Felipe Cunha – Aedas

No último sábado (27/04), a Aedas acompanhou o encontro entre as lideranças das comunidades atingidas e Agentes Multiplicadores (AGMs) da Região 2 da Bacia do Rio Paraopeba com a Entidade Gestora responsável por gerir parte dos recursos do Anexo I.1, conhecido como Projetos de Demandas das Comunidades Atingidas. O encontro foi realizado na região do Citrolândia, em Betim, e faz parte o Momento 2 para a construção coletiva da Proposta Definitiva para gestão dessa parte do Acordo Judicial de Reparação. 

A coordenadora da equipe do Anexo I.1 na Aedas, Juliana Funari, destacou a importância da realização do espaço. “Nós da Aedas estamos aqui para apoiar no processo logístico, na mobilização e na organização da plenária junto com vocês. Este é um momento muito importante para colher os frutos do trabalho que realizamos ao longo desses anos em relação ao Anexo I.1. Que possamos nos inspirar em nossa trajetória com vocês e em tudo que discutimos até o momento”, disse. 

O evento teve início com a apresentação da equipe da Entidade Gestora, composta pelas organizações Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, líder do consórcio gestor, Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB), Instituto Conexões Sustentáveis (ConexSus) e Instituto E-dinheiro Brasil.

Em seguida, as lideranças atingidas dos cinco municípios da Região 2 entregaram um documento contendo diretrizes e propostas sistematizadas e desenvolvidas em colaboração com a Aedas, que abrangem as especificidades da região e expressam suas aspirações em relação à futura execução do Anexo I.1.

Entrega de documento com propostas da R2 para representantes da Cáritas e da ANAB | Foto: Felipe Cunha – Aedas

A atingida Michelle Rocha, da comunidade Monte Calvário, de Betim, explicou o empenho das comissões para a elaboração do documento. “Estamos entregando à Entidade Gestora tudo o que foi discutido com a Assessoria Técnica Independente. Esperamos que seja avaliado com cuidado. Foram muitos momentos de esforço, abdicando de nossa rotina para nos envolvermos neste processo, buscando algo que realmente aconteça nas comunidades com respeito e transparência”, apontou. 

Para a atingida Joelisia Feitosa, da comunidade Satélite, de Juatuba, o documento busca fortalecer a construção feita pelas comissões ao longo dos anos. “Queremos tentar direcionar nossa discussão para avançar de forma mais eficaz, especialmente quanto à participação nas comissões responsáveis por decidir sobre as regras, garantindo espaços de diálogo para que os projetos sejam implementados nas comunidades”, disse. 

“É fundamental que as comissões avaliem e aprovem os projetos para evitar repetir os problemas enfrentados nos anexos I.3 e I.4. Precisamos estar cientes dos projetos que serão aprovados ou rejeitados para garantir que atendam às necessidades de nossas comunidades”, completou Joelisia. 

Para o assessor técnico da Entidade Gestora, pela Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB), Bruno Kassabian, o documento contribuiu para o desenvolvimento do diálogo. “A gente teve uma discussão muito boa hoje, um momento muito rico, com muitas sugestões das pessoas atingidas. A gente percebe que o pessoal chegou muito preparado. A gente recebeu logo no começo da reunião um documento com propostas muito bem elaboradas e organizadas. Isso ajudou muito o debate”, disse. 

Grupos dialogaram sobre propostas e encaminharam consensos 

Após a entrega do documento pelas lideranças, foi realizada uma breve apresentação sobre o tema da Governança Popular, Plano Participativo e Fluxo de Projetos. A parte da manhã foi focada nessas esferas de gestão do Anexo I.1 e os atingidos foram divididos em três grupos para dialogarem de forma mais aprofundada sobre as indicações da Proposta Prévia e das sugestões do documento entregue. Já na parte da tarde, o assunto abordado pelos grupos foi o Fluxo de Crédito e Microcrédito.

Grupos discutiram os temas na parte da manhã e durante a tarde | Fotos: Felipe Cunha e Diego Cota

A divisão teve como propósito permitir que a Entidade Gestora ouvisse de forma mais direta as pessoas atingidas, suas demandas e contribuições para a elaboração da Proposta Definitiva. Essa proposta será futuramente validada em uma assembleia popular com representantes das cinco regiões atingidas da Bacia do Paraopeba e Represa de Três Marias. 

Em um dos grupos de diálogo, a atingida Cristina Maria da Silva, da comunidade Tereza Cristina, de São Joaquim de Bicas, reforçou a importância da garantia de recursos específicos do anexo para ações de reparação com foco nas mulheres. “Eu tenho essa opinião que as mulheres deveriam ter essa prioridade, porque a gente sofre um impacto em dobro do homem. Por ser dona de casa, é mais serviço doméstico e aumenta os problemas psicológicos que a gente enfrenta em torno do rompimento. A carga é duplicada”, afirmou. 

Projetos e fundo específico para linhas de crédito e microcrédito para mulheres foram propostas encaminhadas nesse Momento 2. Essa demanda já havia sido colocada no primeiro encontro com a Entidade Gestora, realizado no início de abril

Para o atingido Rodrigo Alves Maciel, da comunidade Funil, de Mário Campos, a construção coletiva do Anexo I.1 e sua futura atuação no território vai contribuir para a reparação de danos. “É um dos grandes projetos esse Anexo 1.1, porque ele viabiliza a reconstrução da vida do atingido, criando crédito e criando condições verdadeiras dele melhorar de vida ou tentar uma coisa nova. Então acho que é fundamental”, disse. 

Para a atingida Josiane Ribeiro, da comunidade Fhemig, de São Joaquim de Bicas, o Anexo I.1 deve alcançar de forma ampla o território afetado pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. “Hoje estamos reunidos com a Entidade Gestora e esperamos sinceramente que esses projetos sejam capazes de atender às necessidades de todas as comunidades atingidas”, disse.

Ciranda da Aedas promoveu atividade com as crianças atingidas | Foto: Felipe Cunha – Aedas

Momento 4 será o próximo espaço regional para construção da Proposta Definitiva 

O Momento 2 teve como objetivo a discussão de sugestões da Proposta Prévia e das propostas e questões entregues pelas lideranças atingidas no início do encontro. Durante o dia, os grupos elaboraram seus encaminhamentos sobre os temas debatidos. Bruno Kassabian, da Entidade Gestora, explicou os próximos passos. 

“Agora a gente faz esse tratamento de organizar essas sugestões, analisar cada uma delas individualmente com o tempo, respeitando o esforço das pessoas. A gente precisa verificar se está dentro da lei, das regras do edital e do termo de referência. A gente tem que analisar essas sugestões olhando para outras sugestões das pessoas atingidas. E a gente vai fazer o esforço de construir os consensos possíveis, uma proposta que ao máximo agregue tudo o que está vindo das regiões”, disse 

Com base nesse trabalho da Entidade Gestora, um novo texto com os consensos levantados pelas regiões será apresentado para as lideranças atingidas no Momento 4, que será realizado em maio. Será a última etapa regional antes do Encontro Inter-regional, que vai reunir representantes das cinco regiões da Bacia para aprovação da Proposta Definitiva.

Texto: Diego Cota e Felipe Cunha