Atualização 23/01/2024, às 11h50

Na última sexta-feira (19), moradores de Pedra Corrida se reuniram em frente à Copasa. O momento foi de resposta à não participação da Copasa e Fundação Renova na reunião que ocorreu no dia 08 de janeiro.

Em outra atividade, nesta terça-feira (23), em frente ao escritório da Fundação Renova em Pedra Corrida, os moradores também coletaram assinaturas para um abaixo-assinado, que visa encaminhar uma audiência pública na Câmara Municipal em caráter emergencial. A proposta da Audiência Pública tem como objetivo reunir Copasa, Fundação Renova e autoridades locais para discutir sobre captação de água do poço e esclarecimentos sobre a qualidade da água.

No distrito de Pedra Corrida, pertencente ao município de Periquito, uma preocupante situação envolvendo um poço artesiano, perfurado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), junto à Fundação Renova, como medida reparatória e abastece parte dos moradores; bem como a qualidade da água, também fornecida pela Copasa, levou a população a solicitar uma reunião de emergência.

A reunião, intitulada “ÁGUA, SAÚDE, DIREITO DE TODOS”, aconteceu na quadra da Escola Municipal Dom José Pires, no dia 8 de janeiro de 2024, e debateu abertamente as preocupações que a má qualidade da água no distrito tem causado na saúde das e dos moradores. O problema é resultado do rompimento da barragem de Fundão, de responsabilidade da Samarco/Vale e BHP Billiton, ocorrido em 2015.

Reunião ocorreu na quadra da Escola Municipal Dom José Pires. Foto: Mariana Duarte

A própria comunidade solicitou a reunião e discutiu as preocupações crescentes sobre o tema, contando com a presença de autoridades locais, incluindo o vice-prefeito William Matias e Ronaldo Jandaia, Secretário de Meio Ambiente. A Copasa e a Fundação Renova foram convidadas para estarem presentes, mas não enviaram representantes ou justificativas.

A Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), assessoria técnica independente que atua no Vale do Aço e Leste de Minas, esteve presente no encontro com o intuito de assessorar a população atingida e registrou relatos alarmantes sobre a água que, de acordo com a população, apresenta vestígios de contaminação.

Elexandre Marques Pereira, membro da Comissão Local de Pedra Corrida e comerciante, compartilhou sua preocupação: “A água tem uma qualidade variável. Em alguns dias, ela vem clara, mas em outros, vem suja, com uma cola que fica no corpo e não sai. Pela manhã, chega turva e suja nas torneiras, apresentando um teor muito alto de produtos químicos”, analisou.

A população atingida expressou suas angústias, destacando também outros problemas de saúde relacionados ao consumo da água fornecida. Lucimar Vieira afirmou: “A população está se sentindo maltratada. Estávamos sem saber a qualidade da água, e essa reunião é pra ajudar a demanda chegar até a Renova, que foi convidada para estar presente e não mandou nenhum representante. A Copasa também não esteve presente, e a população teve a oportunidade de interagir com representantes do poder Legislativo e Executivo”, comenta.

Pessoas atingidas durante andamento da reunião sobre a água. Foto: Mariana Duarte

O poço artesiano, perfurado pela Copasa junto à Fundação Renova, foi tema de bastante discussão. Moradores alegam que a proximidade do rio Doce pode ter contaminado a água. Além disso, o secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Periquito, Ronaldo Jandaia, expôs uma situação irregular sobre esta captação da água para o distrito.

“O poço não era pra ser usado única e exclusivamente no abastecimento em Pedra Corrida, a água era pra ser coletada do rio e feito o tratamento como é feito em outros locais. Foi em uma vistoria que descobrimos que eles [Copasa] estavam usando só o poço. Então, estamos juridicamente vendo como vai ficar isso, que órgãos vamos acionar”, afirmou o secretário.

Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Periquito, Ronaldo Jandaia. Foto: Mariana Duarte

Os moradores, que participaram ativamente da reunião, relataram outros problemas com a água, destacando a aparência, cor, textura, cheiro e desabafando o temor sobre uma possível contaminação por metais. Temor que foi confirmado ainda durante a reunião pela coordenadora de Vigilância Epidemiológica e Sanitária de Periquito, Valdirene Arantes. Ela alertou que nas análises de qualidade da água, desenvolvidas pela Prefeitura do município de Periquito, foi encontrado o metal bário, elemento químico tóxico. Além disso, nas análises fisioquímicas também foram encontradas grandes quantidades de cloro total e vermes.

“A preocupação é com o metal pesado, bário, que foi detectado em análises da água realizadas em agosto. É um tipo de material pesado que deve ser monitorado. Recebemos uma notificação do Comitê Interfederativo (CIF) em dezembro, dando um prazo de 15 dias para a Copasa se manifestar, mas até o momento não houve retorno”.

Valdirene Arantes, coordenadora de Vigilância Epidemiológica e Sanitária de Periquito

Entre os encaminhamentos da reunião, ficou decidido que nos próximos dias será marcada reunião com a Prefeitura de Periquito. Além disso, população e Prefeitura acordaram reunir evidências que demonstrasse o descaso sobre a água em relação à Copasa e Fundação Renova. Enquanto isso, a comunidade segue aguardando respostas e ações imediatas das empresas para solucionar esse grave problema que afeta a saúde e a qualidade de vida dos moradores de Pedra Corrida.

A coordenadora de Mobilização da Aedas no Médio Rio Doce, Sarah Suzan, aproveitou a oportunidade para falar sobre a realização de uma Audiência Pública para tratar sobre os assuntos com as empresas, que deve acontecer em data futura. Além disso, parabenizou a disposição da população para lutar pelo acesso à água e denunciar o descaso que o distrito vem sofrendo.

“Não há conquista de direitos sem diálogo, sem reunião. A gente sabe que é responsabilidade do Legislativo fiscalizar o Executivo, e o Executivo fiscalizar as empresas que prestam serviço no município, isso é um processo de combinados e acordos. Nós, juntamente com a Comissão, já solicitamos uma audiência pública a esses poderes, para que esses assuntos possam ser tratados, temos que levar o debate pra esse espaço. Então devem chamar a Copasa e a Fundação Renova, porque quando a população chama, eles não vêm, não, que é isso que aconteceu aqui hoje”, apontou.


Texto: Glenda Uchôa e Mariana Duarte/ Equipe de Comunicação da Aedas no Médio Rio Doce