Em defesa do Rio Paraopeba e denunciando os novos danos decorrentes das enchentes na região, atingidos e atingidas se reúnem em marcha pelos caminhos da lama  nesta quinta-feira (27). A atividade acontece na Colônia de Santa Isabel, com ponto de concentração na Praça Matriz da comunidade. A comunidade deve partir em marcha por pontos críticos atingidos pela lama e pelas enchentes de 2022. 

Foto: Rurian Valentino

Para Thiago Flores, morador da comunidade de Santa Isabel, as enchentes de 2022 trouxeram novamente a insegurança para a população em relação à qualidade da água e desconfiança com a lama do rio e o medo de contaminação. “As casas das pessoas da Colônia Santa Isabel foram invadidas por essa lama de minério de ferro que possui inúmeros metais pesados, que são extremamente nocivos à saúde da população. Então, estamos falando aqui de um novo crime da Vale que, apesar de assinar um acordo com órgãos ambientais, com a justiça e com o Estado de Minas Gerais, não limpou o rio Paraopeba. A lama dela saiu do Córrego do Feijão e escoou pela calha do rio e ficou depositada no fundo do rio e com as enchentes de 2022, essa lama invadiu as casas”, acredita Thiago. 

Convivendo com a lama há semanas, o morador da Rua Padre Damião, na entrada da Colônia de Santa Isabel, Laerte Ramos. reafirma que a enchente ainda não acabou. “A lama continua aqui nos nossos quintais, o que vai ser da gente na próxima enchente?”, questiona.

Foto: Rurian Valentino

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) atestou que as águas do Rio Paraopeba não são apropriadas para uso e consumo, devido à presença de contaminantes dos rejeitos de mineração. Assim, tendo em vista que os metais pesados advindos do rejeito da mineração podem trazer riscos à saúde humana, se tem intensificado a preocupação com a saúde da população que foi atingida com as cheias em toda a Bacia do Paraopeba. 

Ainda sobre as consequências do contato das pessoas com a lama, Thiago Flores cita alguns sintomas que as pessoas da região têm reclamado: “o contato com a lama é inevitável para as pessoas que moram na Colônia e que tiveram a casa invadida, porque precisamos entrar em casa, limpar, retomar nossas vidas e esse contato com a lama ele traz coceira, traz diarréia, manchas pelo corpo”. 

Estão presentes na marcha o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Movimento SOS Vargem das Flores, Associação de Moradores da Colônia de Santa Isabel e Citrolândia e representantes da assessoria técnica da Aedas. 

DESBLOQUEIO DO PAGAMENTO EMERGENCIAL

A marcha também serviu como espaço para as pessoas que seguem bloqueadas no Programa de Transferência de Renda pedir respostas e atualizações a esse respeito. A faxineira autônoma Edinalva Rodrigues, está com o pagamento bloqueado desde 2019. Ela é mãe de 10 filhos, sete deles ainda moram com ela e são dependentes da renda familiar. A atingida cobra agilidade no processo de desbloqueio do pagamento emergencial, que, com as enchentes, se tornou ainda mais necessário.

Foto: Rurian Valentino

Moradora de Citrolândia, Geneci Rosa dos Santos, 51 anos, é repositora em uma empresa automobilística. Ela mora junto com a mãe e a filha, que recebem R$500 de pagamento emergencial. Morando na mesma casa, Geneci está com o pagamento bloqueado. “Eu preciso ser desbloqueada.Tenho meus gastos com saúde. Ontem mesmo tive que gastar, em um dia, R$ 200 em medicação”, lamentou.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) informou que os pagamentos bloqueados e suspensos serão analisados caso a caso a partir dos critérios estabelecidos pelas Instituições de Justiça com olhar cuidadoso e tratamento humanizado. É importante destacar que a FGV comunicou que manterá o bloqueio nos casos em que a pessoa não tinha direito ao pagamento emergencial, conforme os critérios estabelecidos. Todos os atingidos e atingidas que, ao final desta análise citada pela FGV, tiverem os bloqueios mantidos, terão direito a pedir reanálise, de forma a assegurar um tratamento justo a todos e todas.