Comunidades locais se unem em 2000 para resolver problemas de acesso à água, criando uma rede de poços artesianos

Foto: Valmir Macêdo | Aedas

O acesso a água potável e de qualidade é uma das grandes lutas de diversos povos por todo o mundo. Vários especialistas apontam há vários anos que a forma com que diversas ações de grandes empresas, sem nenhuma responsabilidade com o meio ambiente, poluem rios e lagos, desmatam florestas, dentre outros, o que prejudica diretamente o acesso de diversas populações a água e outros recursos naturais.

Os Povos e Comunidades Tradicionais – PCT também são grupos bastante atingidos pelas atividades dessas empresas e lutam para que suas tradições e modos de vida não sejam alterados e consigam utilizar plenamente do seu território. Inclusive, o Decreto 6040/2007 ao definir a política de desenvolvimento sustentável, afirma para os PCT a necessidade do uso equilibrado dos recursos naturais, voltado para a melhoria da qualidade de vida da presente geração, garantindo as mesmas possibilidades para as gerações futuras. Além de que tenham o reconhecimento, a valorização e o respeito à diversidade socioambiental e cultural dos povos e comunidades tradicionais, levando-se em conta, dentre outros aspectos, os recortes etnia, raça, gênero, idade, religiosidade, ancestralidade, orientação sexual e atividades laborais, entre outros.

Buscando a melhoria do seu acesso a água a partir da sua tradicionalidade e aprendizados com seus ancestrais, na cidade de Brumadinho – MG, as comunidades de Sapé, Marinhos, Rodrigues e Ribeirão, juntamente com outras comunidades do entorno, criaram no ano 2000, a Associação da Água Cristalina.

Essa associação teve seu início após os moradores procurarem a prefeitura para que ela resolvesse o problema da água das suas comunidades, mas como não houve resposta, alguns padres da Congregação do Sagrado Coração fizeram várias pesquisas e viajaram para diversos locais, como Brasília e Vaticano para construir essa associação. Houve todo um esforço coletivo das comunidades e foram furados os primeiros poços artesianos nas comunidades de Colégio, Sapé, Marinhos, Ribeirão, Lagoa, Toca, Maricota.

A perfuração desses poços foi realizada pelas próprias comunidades com a ajuda de uma máquina, mas em grande parte a perfuração foi manual.

No início do uso da água dos poços cada casa pagava uma taxa de manutenção de cinco reais e quem não podia pagar ficava isento dela.

O primeiro presidente da associação foi o senhor Antônio Cambão da comunidade de Marinhos. Atualmente o presidente é Leandro da comunidade de Colégio.

Anteriormente a associação, algumas casas eram abastecidas por minas, mas aquelas famílias que não possuíam minas utilizavam a de seus vizinhos. Os moradores relatam que possuíam grandes dificuldades de ter acesso a água e por isso os poços artesianos e a gestão realizada pela associação são fundamentais a melhoria da vida de todos nas comunidades.

Foto: Valmir Macêdo | Aedas

Os pagamentos das taxas realizados pelas comunidades são todos voltados para a manutenção dos poços artesianos. A associação tem contrato com uma empresa para manutenção. Esse contrato foi importante, pois reduziu os gastos da associação. Antigamente, a associação somente buscava uma empresa para prestar um serviço e este era um serviço caro. Hoje eles pagam um valor mensal para essa empresa e quando precisam de uma manutenção, eles a acionam e o serviço é realizado.

Apesar disso, o atual presidente informa que ainda há muita deficiência e problemas para serem resolvidos, pois existem muitas demandas das comunidades que nem sempre eles conseguem atender. O projeto da associação funciona com dificuldades e os moradores das comunidades buscam formas de mantê-lo e continuar com a gestão das suas águas.

O pagamento da taxa das casas muitas vezes não é suficiente para cobrir os gastos na manutenção dos poços artesianos que precisam trocar bombas, furar novos poços em comunidades que somente um já não mais atende aquela população, dentre outros, como pagamento de funcionários. Importante ressaltar que a prefeitura de Brumadinho fornece dois funcionários para trabalhar na associação.

Atualmente a associação considera que, caso uma comunidade deseje fazer parte dela, o projeto não consegue atender por conta das dificuldades enfrentadas.

O projeto da Associação Água Cristalina em 2024 fez 24 anos de existência e é bastante importante para as comunidades que desejam ter o controle e a gestão da água que consomem.

Faz parte da sua tradição e as legislações concedem o direito aos Povos e Comunidades Tradicionais para gerir seus recursos naturais.

É essa a luta diária dessas comunidades!


Texto: Equipe dos Povos e Comunidades Tradicionais da Aedas Paraopeba