Atividade realizada em agosto e setembro visa contribuir com a construção do Anexo I.1 nos territórios

As listas de ideias de projetos por região foram encaminhadas para a Entidade Gestora do Anexo I.1 | Foto: Diego Cota/Aedas

O Anexo I.1, parte do Acordo Judicial de Reparação que prevê os Projetos de Demandas das Comunidades, segue em construção nos territórios atingidos pelo desastre-crime do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, ocorrido em 2019, no município de Brumadinho. Em agosto e setembro, a assessoria técnica independente Aedas promoveu dois encontros com lideranças atingidas das regiões 1 e 2 para listagem de ideias para projetos locais e regionais.

Os espaços participativos foram realizados no sábado (16/08), na Escola Municipal Ildeu Gabriel de Resende, em São Joaquim de Bicas, para as lideranças da R2, e no sábado (06/09), no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário, em Brumadinho, para as lideranças da R1. Participaram comissões de atingidos e atingidas, conselheiras e conselheiros e agentes multiplicadores (AGMs) do Anexo I.1. Os encontros foram organizados e conduzidos pela equipe técnica da Aedas.

Lideranças atingidas de Brumadinho se reuniram com a Aedas no dia 6 de setembro | Foto: Isis Oliveira/Aedas

Como resultado das atividades, foram organizadas listas de ideias de projetos por região que foram encaminhadas em setembro para a Entidade Gestora do Anexo I.1 – liderada pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais e composta pela Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB) e Instituto E-dinheiro Brasil.

A coordenadora da equipe do Anexo I.1 da Aedas, Juliana Funari, explicou o objetivo da atividade. “Foi partilhar as ideias de projetos que as lideranças, as comunidades, as comissões já vinham levantando ao longo desse processo, junto à comunidade ou ideias mais individuais. A partir desse levantamento prévio das ideias de projeto, a gente fez uma partilha dessas ideias para pensar o que pode ser regionalizado e o que a gente tinha de panorama de ideias locais e regionais”, disse.

O atingido Evandro França de Paula, Vandeco, da Comunidade Quilombola Sanhudo, de Brumadinho, avaliou o espaço participativo. “Está sendo muito importante que a gente está discutindo a respeito dos projetos que vai aderir a nossa população em geral. Esperamos também, temos confiança, que isso vai chegar até a Entidade Gestora, que é de fato a responsável por tudo isso. Esperamos que eles sejam transparentes, como a Aedas está sendo, e que possa realmente atender todas as nossas expectativas”, afirmou.

Fotos: Isis Oliveira/Aedas

A atingida de São Joaquim de Bicas, Mãe Kymazandê, do Centro de Umbanda Maria Conga de Aruanda, que integra o PCTRAMA, destacou a diversidade de pessoas que participaram da listagem das ideias. “Eu acho que foi 10, foi um complemento maravilhoso e foi muito bom. Eu espero que os nossos projetos sejam muito bem aceitos, que foram muito bem planejados, muito bem escolhidos. Tivemos uma diversidade muito grande de religiões, de pessoas, de comunidades”, contou.

Fotos: Diego Cota/Aedas

As lideranças foram divididas em agrupamentos de comunidades, que listaram as ideias a partir de quatro blocos temáticos: Bloco 1 – Reparação e desenvolvimento em produção coletiva, economia solidária e renda; Bloco 2 – Reparação e desenvolvimento em espaços de comercialização e estruturas de produção; Bloco 3 – Reparação e desenvolvimento em educação e profissionalização; e Bloco 4 – Reparação e desenvolvimento em fortalecimento comunitário e partilha de saberes.

Atingida da comunidade Córrego do Feijão, em Brumadinho, Ana Paula dos Santos Assis destacou a importância da divisão em agrupamentos, proposta pela metodologia do espaço, para refletir melhor as necessidades das comunidades de Brumadinho. “Eu acho que esse debate sobre o Anexo I.1 é muito importante para todas as comunidades, porque é uma maneira de discutir qual projeto abrange melhor cada comunidade com suas reais necessidades. Foi importante essa divisão dos grupos para que cada realidade da região seja discutida, seja votada de uma maneira que os projetos sejam bem aproveitados de acordo com a realidade de cada comunidade”, explicou.

Atividade realizada em São Joaquim de Bicas, com lideranças da Região 2 | Fotos: Diego Cota/Aedas

A gerente geral da Aedas Paraopeba, Ranuzia Netta, explicou sobre a centralidade do trabalho da ATI na sistematização das propostas de projetos das comunidades. “O processo de organização das ideias que vêm das pessoas atingidas tem uma grande centralidade no trabalho técnico para sistematizar, por bloco, quais são os projetos voltados a um processo da educação, quais são os de renda, de economia solidária, de pesca, de produção de hortaliça, de projetos de cooperativas. Então, a função e a atribuição técnica têm uma grande importância nesse momento”, disse.

Ela reforça a importância da garantia do direito à ATI para as pessoas atingidas no processo de reparação. “A assessoria técnica faz-se necessária para que as demandas do território atingido sejam sistematizadas tecnicamente e encaminhadas para os atores responsáveis, tanto para a execução do Anexo I.1, mas para os atores também que são responsáveis pelo processo da reparação, tendo a centralidade do direito garantido em lei, tanto na PEAB quanto na PNAB”, completou Ranuzia.

Atividade realizada na sede de Brumadinho, com lideranças da Região 1 | Fotos: Isis Oliveira/Aedas

Ver as ideias em prática nos territórios atingidos é o que deseja a atingida Genessi Rosa dos Santos, da comunidade Vila Nova, em Citrolândia, Betim. “A gente quer ver isso acontecendo não só no nosso bairro, mas em todas as cidades que foram atingidas, porque, querendo ou não, todo mundo foi atingido. Então, o que a gente debateu aqui, se for para a prática, vai ser melhor para nós”, afirmou.

As crianças atingidas também desenvolveram suas ideias de projetos na Ciranda da Aedas

Reportagem: Diego Cota e Isis Oliveira

Texto: Diego Cota