A Comissão de Atingidos e Atingidas do Tejuco, em Brumadinho, contratou uma consultoria especializada para analisar a qualidade da água da nascente que abastece o reservatório da comunidade. A consultoria Acquaveras Análise de Águas constatou que há presença de alumínio, ferro e manganês acima dos limites permitidos pelo Ministério da Saúde, tornando a água imprópria para o consumo humano. O documento será enviado às Instituições de Justiça para os procedimentos judiciais ou extrajudiciais cabíveis.

O relatório afirma que a quantidade de ferro presente na água alcança quase cinco vezes o limite máximo. O alumínio, duas vezes mais. Em diálogo com a comissão, uma equipe técnica da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) fez a leitura da análise produzida pela Consultoria, para uma linguagem acessível e compreensão do que significam os dados trazidos.

A Aedas esteve na comunidade, no último sábado (23), para dialogar com os moradores a respeito dos resultados do laudo que apontam que água é imprópria para o consumo humano. “Três elementos estavam bem acima em termos de metais pesados: ferro, manganês e alumínio. A turbidez e a coloração também estavam bem escuras. Falamos sobre as implicações disso para a saúde humana e também em termos ambientais”, explica Thomas Parril, coordenador da área temática Socioambiental da Região 01.

De acordo com Parril, seguindo o princípio da precaução, o laudo indica que não seria adequado o uso da água. “Orientamos que, com base nos resultados e nesse princípio, o uso de água pode ser perigososo e que fossem feitos novos estudos e monitoramento. Seguimos sem acesso aos resultados da análise da água realizados pela mineradora da Vale que ainda não foram entregues à comunidade”, prosseguiu.

Desde o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, e sendo cercados por atividades minerais e obras de reparação, a comunidade vive insegura com o uso da água. Essa insegurança agravou-se em 05 de dezembro, quando a Vale executou uma obra de reparação na nascente que abastece o reservatório com a retirada de lama e minério. Ainda segundo os moradores, a limpeza foi realizada sem equipamentos apropriados e isso provocou a contaminação com sedimentos (lama e minério) do reservatório, da tubulação e das caixas d´água das casas das pessoas atingidas.

“Eles seguem sendo abastecidos pela Vale de uma forma intermitente. Às vezes tem, às vezes não tem. Muitas pessoas ainda estão com coceira e dor de estômago por causa do consumo da água. As famílias relataram também que a água fornecida pela Vale, em garrafas, para algumas famílias atende, para outras não”, continuou Parril.

Em Brumadinho (R1), 84% das pessoas atingidas gostariam que fosse realizada uma análise independente da água

De acordo com a Matriz de Medidas Emergenciais Reparatórias da R1, 62% das pessoas atingidas apresentam insegurança quanto ao uso da água da Copasa. A insegurança está diretamente relacionada à percepção de que a água da Copasa apresenta má qualidade (59%), sendo que apenas 17% das pessoas percebem a água da Copasa como de boa qualidade. O restante não soube responder, reforçando a percepção de insegurança e falta de informação. 84% das pessoas acreditam que seja necessária a análise independente da água distribuída pela Copasa.

Relembre: Sem água por 48 horas

No dia 5 de dezembro de 2020, cerca de 700 famílias, moradoras do bairro Tejuco, ficaram sem acesso à água devido a contaminação do reservatório que abastece a localidade após obras de reparação realizadas pela mineradora Vale. A denúncia chegou ao conhecimento da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) que encaminhou no mesmo dia uma solicitação de fornecimento de água mineral para toda a comunidade do Tejuco.

O coordenador territorial da Região 01 (Brumadinho), Lucas Vieira, explica que desde maio de 2019, a mineradora é obrigada a fornecer água potável para consumo humano em casos emergenciais no prazo máximo de 48 horas.

“Todos os moradores ficaram sem água no sábado pois só saía lama das caixas d’água. Então os moradores pediram a ajuda da Aedas e entraram em contato com a Vale solicitando que houvesse fornecimento de água mineral e caminhão pipa para limpeza da tubulação. A situação é muito séria, a gente vê lama no reservatório e na tubulação.”, comentou Lucas Vieira, na época.

“Estamos tendo que lidar com essa situação. Você acha que 700 famílias merecem isso? Passou a sair lama das torneiras, as pessoas estão sem água para fazer comida e lavar roupa”, conta o atingido Evandro França de Paula.

O reservatório fica localizado às margens de uma estrada de chão batido com intenso tráfego de caminhões da Vale. Obras de proteção também foram feitas para tentar minimizar e segurar sedimentos da estrada para evitar que contamine o reservatório que abastece toda a comunidade, mas a estrutura não resistiu e cedeu.