Josefa viu a lama fazer redemoinhos, animais e vidas sendo atingidas
Josefa Braga tem sua história marcada pela mineração. No início dos anos 2000, mudou-se com a família para o Córrego do Feijão por ocasião da transferência de seu pai de uma mineradora de Itabirito para Brumadinho. Na comunidade ela conheceu seu marido, com quem hoje tem três filhos.
A vida que antes era tranquila, com encontros diários entre a vizinhança para desfrutar o entardecer na pracinha do Córrego, hoje é marcada por um intenso tráfego de caminhões e obras de reparação.
No dia 25 de janeiro de 2019, Josefa estava em casa com seus filhos. Morava bem próxima à barragem rompida. Ouviu um barulho estrondoso e sem saber o que tinha ocorrido pensou: “me falaram que a barragem tava segura”. Não fazia muito tempo que perguntara a um funcionário da Vale se a Mina do Córrego do Feijão estava segura e obteve a resposta de que sim.
“Agora não espera mais aquela tarde, mas outras tardes de sol”
Ao saber do rompimento, Josefa e seus filhos correram para o alto, em direção contrária da simulação feita pela própria Vale. Essa atitude garantiu que ela e sua família se salvassem. Josefa viu a lama fazer redemoinhos, animais e vidas sendo atingidas.
Josefa perdeu 20 amigos residentes do Córrego do Feijão, trabalhadores/as da pousada Nova Estância e da mineradora. Seu pai, que trabalhava no vagão dessa mineradora, não foi trabalhar no dia e a pessoa que estava em seu lugar não conseguiu sobreviver.
Ela ficou dois anos sem conseguir trabalhar, devastada pelo trauma e pelas memórias daquele dia. Atualmente trabalha com aromaterapia em um grupo do Córrego com mais dez mulheres, além de dedicar seu tempo para a costura. Não se arrepende de ter ficado no Córrego do Feijão. Refaz sua vida e sonha que o Córrego volte a ser o que era antes. Agora não espera mais aquela tarde, mas outras tardes de sol.
Texto: Felipe Cunha
Essa e outras histórias foram destaque da 14ª edição do jornal Vozes do Paraopeba. Clique aqui para acessar.
