Irmandade do Rosário da Colônia Santa Isabel se articula para construção da Capela e fortalecimento da tradição
“O rio pra nós é vivo, ele faz parte da nossa tradição”, André Bueno

A Irmandade Nossa Senhora do Rosário da Colônia de Santa Isabel, em Betim, realizou o jubileu de dez anos no último domingo (01). Nos últimos dois anos, os festejos foram suspensos por conta da pandemia do coronavírus. Os congadeiros da irmandade do Rosário ainda tiveram que ver a capela, sede da irmandade, invadida pelas águas do rio Paraopeba durante as chuvas do início deste ano.
O congado é múltiplo, multicultural composto por micro reinos espalhados por Minas Gerais, “cada reino tem sua tradição, a sua forma de zelar pelos conhecimentos antigos e seus ancestrais”, contou o capitão da Guarda de Moçambique, André Bueno.

O Reinado de Nossa Senhora do Rosário é um patrimônio de muita importância sociocultural, que atrai centenas de visitantes de outras cidades e quatro participações fixas de outras irmandades: Santa Luzia, do Quilombo de Pinhões, Guarda de Marujos de Raposos, Moçambique, de Belo Vale e Moçambique de Ouro Preto.
“Esse ano, um ano trágico passando por uma pandemia mortal e agora por uma enchente devastadora. Eu digo devastadora socialmente, ambientalmente, financeiramente, pois retira pessoas dos seus lares, prejudica as comunidades tradicionais. Para nós, nós tivemos a nossa perda material, mas não a imaterial, a nossa fé continua”, contou o capitão da Guarda de Moçambique.



A capela
A festa desse ano marcou a alegria do reencontro, mas também a força que uma comunidade tem quando se organiza para realizar um objetivo comum, como mencionado acima, em janeiro, em decorrência das chuvas, a Senzala, sede da irmandade, foi atingida e sofreu danos graves em sua estrutura. Além disso, a barca que fazia o transporte da imagem de Nossa Senhora do Rosário também foi totalmente destruída nas enchentes e ela tem um valor simbólico importante durante a realização da festa.
Na tradição, a santa é retirada do rio Paraopeba e transportada numa barca e, logo depois, segue em cortejo até a Senzala. Segundo o capitão André, “nossa tradição nesse dia é materializada no mito do Rosário, do aparecimento da Santa nas águas do mar, então pra gente nesse dia, o rio vira mar”, contou.

A capela tem um valor diferente para a irmandade, que resistiu ao tempo, as mudanças culturais e sociais, a invisibilidade institucional, as dificuldades e limitações financeiras, preconceitos e afins, para continuar realizando o que mais gostam que é o congado. Caso você queira ajudar de alguma forma e contribuir e tornar essa construção uma realidade, procure a irmandade e visite a sede.
“A construção da Capela de Nossa Senhora da irmandade é a última etapa de firmamento dessa tradição. Sabendo que historicamente, as irmandades seculares, de 300 anos, principalmente as de Ouro Preto, elas tiveram seus templos religiosos para realizar a louvação dos seus santos orados: Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, que são santos de devoção negra e católica do período colonial”, contou André Bueno.
Texto: Jaqueline dos Santos