Em ofício enviado às Assessorias Técnicas, no último dia 28 de agosto, as Instituições de Justiça solicitaram a indicação de representantes das pessoas atingidas nos espaços de representação do TAC-Gov; Aedas realizará calendário de encontros. 
Para atuar de acordo com o TAC-GOV, as pessoas atingidas deverão escolher representantes em seus territórios – Foto: Cleiton Santos/Aedas

Para garantir a participação das pessoas atingidas nos processos de reparação dos danos deixados pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015, o Sistema de Governança da Bacia do Rio Doce, previsto no TAC-Gov (Termo de Ajustamento de Conduta – Governança), passará por ações de implementação em toda a Bacia do Rio Doce e litoral Capixaba. O Termo foi firmado em 2018, por meio de acordos entre as Instituições de Justiça envolvidas no caso Rio Doce e as empresas poluidoras Samarco/Vale/BHP Billiton. 

Em ofício enviado às Assessorias Técnicas Independentes (ATIs), no último dia 28 de agosto, as Instituições de Justiça solicitaram a indicação de representantes das pessoas atingidas nos espaços de representação do TAC-Gov, que funcionam com objetivo de discutir e definir as medidas de reparação que já estão sendo realizadas na Bacia do Rio Doce e Litoral Capixaba.  
 
O principal objetivo do Sistema é aprimorar a participação das pessoas atingidas dentro da governança estabelecida no TTAC (Termo de Transação de Ajustamento de Conduta) e em acordos firmados em anos anteriores, conferindo-lhes um papel central na dinâmica de controle social e na revisão de ações necessárias para a reparação integral dos danos causados pelo desastre-crime, espaço onde pode ser proposto alterações e modificações para adequação à realidade das comunidades. Isso é alcançado por meio do acesso amplo e adequado à informação e pela garantia da participação e controle social nos projetos, programas e ações de reparação.  

Para atuar de acordo com o TAC-GOV, as pessoas atingidas deverão escolher representantes em seus territórios. A coordenação de mobilização do Leste de Minas da Aedas, Clarissa Machado, comenta que, após o recebimento do ofício pelas ATIs, uma série de atividades será realizada nos territórios. 

 
“As Assessorias Técnicas estão, agora, com a tarefa de levar até as pessoas atingidas o conteúdo dos ofícios enviados pelas Instituições de Justiça para que elas possam entender e a partir desse entendimento decidirem como vão se organizar para escolherem seus representantes para os espaços de participação da Governança”, explica. Clarissa ainda acrescenta que a Aedas proporcionará, durante todo o mês de outubro, espaços de diálogo abertos para as pessoas atingidas que quiserem se informar e participar dessa construção. “Em resumo, o papel da ATI é ajudar nessa construção da organização do povo através do assessoramento técnico no que for solicitado pelas pessoas atingidas”, reforça. 

Atuação da Aedas na governança 

A solicitação das Instituições de Justiça para o sistema de governança é um passo importante na busca pela justiça e reparação integral às comunidades atingidas pelo desastre-crime ao longo da Bacia do Rio Doce.

 A Aedas estará com as pessoas atingidas para auxiliar nesse processo de organização e escolha das representações nos territórios. - Foto: Cleiton Santos/Aedas

É por isso que na visão da Aedas, os representantes devem ser escolhidos pelas próprias pessoas atingidas e entre as pessoas atingidas. Para isso acontecer, é necessário que as pessoas e organizações locais primeiro possam ter conhecimento do TAC-GOV, do Orçamento dos Atingidos e do detalhamento do Ofício, para que, em seguida, se organizem e escolham quais nomes irão representar os seus territórios. 

 A Aedas estará com as pessoas atingidas para auxiliar nesse processo de organização e escolha das representações nos territórios.   

Espaços de representação das pessoas atingidas na governança  

A partir das disposições do TAC-GOV, as pessoas atingidas passarão a ter a oportunidade de atuar em diversas instâncias de governança da reparação. O instrumento apresenta a necessidade da criação de 6 Câmaras Regionais, além da participação de pessoas atingidas no Fórum de Observadores, nos Conselhos Curador e Consultivo da Fundação Renova e até mesmo nas reuniões com a Diretoria da Fundação. Para além do Comitê Interfederativo (CIF) e das Câmaras Técnicas – que já funcionam e preveem a participação de pessoas atingidas.    

Entenda as instâncias de governança:  

  • Comissões Locais Municipais e Distritais são auto-organizações formadas pelas próprias pessoas atingidas que residem nas regiões que sofreram com o rompimento.   
  • Comissões Locais Territoriais de Pessoas Atingidas que organiza a representação das pessoas atingidas a nível de território, de acordo com proposta elaborada pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos. Os territórios acompanhados pela Aedas são: Território 3 (abrange os municípios de Belo Oriente, Bugre, Fernandes Tourinho, Iapu, Ipaba, Ipatinga, Naque, Periquito, Santana do Paraiso, Sobrália; Território 6 (Conselheiro Pena); Território 7 (Resplendor e Itueta) e Território 8 (Aimorés).  
  • Câmaras Regionais tem a função de reunir as demandas de municípios vizinhos em coesão, com constituição e organização independentes e possibilidade de propor modificações e revisões dos programas e ações destinadas à reparação.   

  As pessoas atingidas também terão representação nas estruturas de governança internas da Fundação Renova;  

  • Conselho Consultivo “tem o poder de opinar sobre planos, programas e projetos, além de indicar propostas de solução para os danos causados pelo rompimento da barragem” (Fundação Renova, 2018).   
  • Diretoria Executiva é responsável pela elaboração, proposição, viabilização e execução dos planos, programas e projetos aprovados pelo Conselho Curador. A Diretoria Executiva deve adotar as ações necessárias à implementação dos projetos e programas, além disso é ela quem responde pelas atividades rotineiras da Fundação.   
  • Conselho Curador é o órgão normativo, deliberativo e de controle da administração da Fundação Renova, e tem a competência de aprovar, no âmbito da Fundação, os planos, programas e projetos que devem ser propostos pela Diretoria Executiva.   

   A participação das pessoas atingidas também será garantida nas instâncias e discussões técnicas sobre as ações de reparação;  

  • Fórum dos Observadores de natureza consultiva, como uma das instâncias de participação e controle social, cujo objetivo será acompanhar os trabalhos e analisar os resultados dos diagnósticos e das avaliações realizados pelos experts do Ministério Público e acompanhar os trabalhos da Fundação, podendo apresentar críticas e sugestões.  
  • Câmaras Técnicas são órgãos consultivos instituídos para auxiliar o Comitê Interfederativo no desempenho de sua finalidade de orientar, acompanhar, monitorar e fiscalizar a execução dos programas socioeconômicos e socioambientais geridos pela Fundação Renova.   
  • Comitê Interfederativo é a instância de interlocução permanente com a Fundação Renova, acompanhando, monitorando e fiscalizando os seus resultados, sem prejuízo das competências legais dos entes federativos. O CIF é responsável pela instituição das CÂMARAS TÉCNICAS (CT), dispondo sobre as competências, coordenação, programas relacionados e forma de funcionamento das Câmaras. O CIF funciona como última instância decisória na esfera administrativa. É o Comitê que avalia as notas técnicas enviadas pelas CÂMARAS TÉCNICAS, assegurando a prioridade de questões urgentes.   
Orçamento Atingidos: viabilidade para participação   

Diante de todas essas possibilidades de atuação das pessoas atingidas, o TAC-GOV garantiu a criação do Orçamento dos Atingidos, que assegura o custeio de despesas relativas à infraestrutura e ao funcionamento das Comissões Locais Municipais e Distritais e à participação das pessoas atingidas na estrutura de governança de reparação.   

Isso quer dizer que para qualquer atividade que garanta a participação de atingidos e atingidas, seja no Comitê Interfederativo, Câmaras Técnicas, Câmaras Regionais, Fórum de Observadores e demais espaços de participação, haverá verba de custeio das despesas, incluindo alimentação, transporte, locação de espaço e equipamentos. É previsto, ainda, o custeio de despesas relacionadas à capacitação das pessoas por meio de cursos, visando à sua participação qualificada no processo de reparação.  

As Assessorias Técnicas Independentes trabalharão com o intuito de fortalecer as organizações dos atingidos e atingidas

De acordo com Juliana Pedro, coordenação de mobilização do Vale do Aço, as assessorias técnicas independentes chegaram nos territórios após quase oito anos do rompimento da Barragem do Fundão e durante todo esse tempo as pessoas atingidas se mantiveram organizadas e ativas na busca pelos seus direitos.  

“Isso prova que as pessoas atingidas são plenamente capazes de se auto-organizarem, falarem por si, bem como tomar suas próprias decisões.  É com o intuito de fortalecer as organizações dos atingidos e atingidas, que as Assessorias Técnicas irão propiciar o acesso às informações e assessorar no processo de escolha das representações populares”, afirma.