Histórias Atingidas traz histórias de mulheres neste mês de março, data do Dia Internacional da Mulher

Patrícia Santos, de 39 anos, nasceu na capital de Minas. Veio de uma família pequena, de baixo poder aquisitivo e cresceu com sua mãe e irmãos.

Hoje é mãe de dois filhos. Bryan, de 19 anos e Brenda, de 16. Também tem uma enteada de 25.

A família de seu marido é toda de Brumadinho, por isso, antes de se mudar definitivamente para lá, saía de BH, desde meados de 2005, e ia todos os finais de semana para a cidade mais pacata com seus filhos ainda pequenos, desenvolvendo uma forte relação afetiva com o local. “Era um lugar de paz e sossego, era um ponto de diversão e descanso”.

A partir de 2017, ano em que se mudou de vez para Brumadinho, Patrícia começou a trabalhar como copeira em um hospital de Betim e tomava quatro conduções para chegar ao trabalho. Apesar do deslocamento e da vida corrida, gostava do que fazia. “Passei a ter mais intimidade com quem precisa de cuidados”, disse.

No dia do rompimento, em 25 de janeiro de 2019, Patrícia disse que “parecia estar vivendo o fim do mundo. “Sabe quando a gente vê as histórias de filme? Não conseguia acreditar”, ouviu de sua casa o barulho de helicópteros sobrevoando.

Desde então, segundo Patrícia, começou o terror e o trauma na vida das moradoras em Brumadinho, que segue até hoje.

Após o rompimento, Patrícia perdeu o emprego no hospital, pois adoeceu psicologicamente “devido ao tamanho crime ambiental”. Alegaram que ela precisava se cuidar. Sua filha também foi adoecendo. “O suporte da família sou eu e comigo adoecida, minha filha adoecendo, tive que cuidar dela e da família, foi um transtorno generalizado”, relata.

“Os moradores de Brumadinho ficaram adoecidos e a demanda pelos serviços de saúde foi muito grande, principalmente pelas mulheres. A procura por médicos de saúde mental e neurológico foi e tem sido muito alta”, afirma.

“Poder ter voz, uma só voz de forma maior, como um grito de socorro de todas nós”

Hoje, Patrícia tem problemas respiratórios. Associa à poeira, mineração e ar poluído. Foi diagnosticada com rinite alérgica crônica. Sua filha tem alergia de pele e usa maquiagem para disfarçar, sintomas estes que não tinham antes do rompimento.

O impacto ambiental também prejudicou seus modos de vida e de seus familiares, que têm medo de tomar a água da cidade e, por isso, compram água mineral.

As mulheres da família de seu marido plantavam e tinham soberania alimentar. Havia trocas de frutas, ovos e outros alimentos entre os quintais. “Atualmente não tem quase nada. Elas plantam, mas não dá frutos e não dá para colher”.

Além disso, Patrícia e sua filha não se sentem mais seguras em Brumadinho, perderam o direito de ir e vir com tranquilidade devido à presença de muitas pessoas que não moravam lá antes do rompimento, e com a presença intensa de trabalhadores e transportes de terceirizadas da Vale.

Patrícia e Brenda se inspiram nas mulheres da Avabrum e afirmam que “juntas são mais fortes” para que a reparação seja justa e garanta as especificidades das mulheres atingidas.

Para Brenda, adolescente, ser mulher atingida “é ter de lutar, juntas, pelos nossos direitos”. Para Patrícia “é poder ter voz, uma só voz de forma maior, como um grito de socorro de todas nós”.

Veja essa e outras matérias na 16ª edição do Jornal Vozes do Paraopeba