“As crianças têm direito de brincar, de saúde, de nadar, de lazer e de ir ao parquinho” 

Silvinha e sua irmã mais nova, Pyetra, posam para a foto em uma rede no quintal de casa. | Foto: Felipe Cunha – Aedas

Quem é a Silvinha? Pergunto. Com os olhos brilhando e o peito cheio de orgulho, ela sorri e responde: ‘A Silvinha sou eu!’, como se o mundo todo coubesse na simplicidade de ser quem é.   

Silvinha Neves tem 8 anos e nasceu em São Joaquim de Bicas. Ela tem quatro irmãos, incluindo a Pyetra, que estava presente durante a entrevista. Está no terceiro ano e vai para a escola de ônibus escolar, mas precisa caminhar um pouco para pegá-lo.   

Entre suas atividades favoritas, gosta de andar de bicicleta, aprender coisas novas e jogar futebol. Ela é muito curiosa e não tem uma matéria preferida na escola. Com o coração cuidadoso, Silvinha já entende os segredos da natureza: “Não pode sujar o mundo, não pode arrancar as plantas, tem que regar e cuidar”.    

Silvinha fala da Ciranda da Aedas com o encantamento do novo: “É uma das coisas que mais gosto de fazer, lá tem brincadeiras, aprendemos sobre direitos. As crianças têm direito de brincar, de saúde, de nadar, de lazer e de ir ao parquinho”.   

No entanto, ela observa que, em sua comunidade, as condições são diferentes: “Aqui no Fhemig, não temos direito a nadar, direito a brincar, nem à saúde, porque está tudo empoeirado”.   

Com um olhar que mistura a pureza da infância e um acontecimento triste que atravessou sua vida, Silvinha comenta sobre o rompimento: “Tinha uma barragem cheia de ‘lixo’, aí rompeu e o ‘lixo’ foi para o rio Paraopeba. Agora, não tem mais peixes não dá para nadar no rio ou pescar”.

Ela expressa seus desejos sonhando por um mundo mais gentil:

“Eu queria que parassem de queimar as árvores, porque os macaquinhos perdem suas casas. Também queria que arrumassem as ruas – o ônibus já deveria estar parando no ponto aqui. Queria mais clínicas veterinárias, mais parques, porque a gente tem que ir de carro ou a pé para chegar ao parquinho mais próximo. E que houvesse mais plantações”.   

Silvinha, sempre criativa, imagina como seria se fosse uma super-heroína. Seu superpoder seria o poder água, para apagar incêndios. Sua irmã Pyetra, presente na conversa, faz sua intervenção e diz que gostaria de ter o poder do vento, para refrescar o mundo. Assim, Silvinha seria a heroína da água e Pyetra, a heroína do vento.   

Quando perguntada sobre o que mudaria no mundo, Silvinha responde: “Mudaria a temperatura da Terra, porque os adultos estão ‘desevoluindo’. Eu diria também para quem cuida da mineração cuidar mais do rio, ao invés de pegar só as coisas raras e deixar o povo mais pobre. A Vale não ouve, nós, crianças”.   

Silvinha conclui: “As crianças devem estudar para fazer o futuro e ajudar os pais na luta, como ir aos espaços da Ciranda. Lá, saímos com saberes para fazer um futuro melhor!”.   

Por fim, ela revela um sonho: “Quero ser fotógrafa. Eu gosto de fotografar o mundo, olhar pelas lentes e capturar, eu me sinto feliz”.    


Texto e Fotos: Felipe Cunha – Aedas