Tudo na vida é mudança, nada permanece igual e o ‘Aprendendo no Quintal’ é nosso mundo. Devemos levar essa consciência para outras comunidades e mulheres


Íris (à esquerda) e Margareth (à direita) posam com um de seus adoráveis animais de estimação | Foto: Felipe Cunha – Aedas
Íris da Piedade Moreira, 50, e Margareth da Piedade Moreira, 54, são irmãs, nascidas e criadas em Piedade do Paraopeba, comunidade de Brumadinho, onde aprenderam os valores transmitidos por seu pai e sua mãe no quintal de casa.
Após a perda de sua mãe, há cerca de 7 anos, Margareth recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Depois de vencer essa batalha, ela e sua irmã Íris refletiram sobre o propósito de suas vidas. Sentindo a necessidade de ajudar os outros, abriram as portas de sua casa para oferecer atividades voltadas para sustentabilidade e segurança alimentar de crianças, adolescentes, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Assim nasceu o projeto ‘Aprendendo no Quintal’.
Além de motivar e destacar a importância da alimentação saudável, as irmãs valorizam o reaproveitamento de alimentos e cascas de frutas, verduras e legumes, oferecendo aulas de culinária como parte das atividades do ‘Aprendendo no Quintal’.

Neste quintal encantado e acolhedor, frutas, ervas e flores se convertem em amor e experiências memoráveis, como a que tive. No quintal, você encontra taioba, ora-pro-nóbis, limão, coco da Bahia, maracujá, uva, romã, jabuticaba, framboesa, suculentas, cactos, mandacaru e uma variedade de ervas que, pelas mãos das irmãs Íris e Margareth, se transformam em temperos e sais aromáticos.
No quintal de modelo agroflorestal, plantam e colhem de tudo. Margareth relembra como começou essa história ao lado da sua irmã: “Íris fazia as covas e eu plantava as sementinhas. Colhemos muito e a partir disso criamos o projeto. Uma vida sem criação é uma vida morta. O que está em nossa mente precisa ser compartilhado com o mundo”.
Uma das delícias das irmãs são os sorvetes de mandioca, graviola, batata-doce, pimenta biquinho e cará. Pretendem também fazer de jabuticaba e manga. É um verdadeiro espetáculo de sabores.


A agrofloresta no fundo do quintal de Íris e Margareth surgiu porque antes só havia árvores, como eucaliptos. Com o projeto, as irmãs demonstraram que é possível aprender no próprio quintal.
Além disso, elas realizam trabalhos sociais nas cidades localizadas na Bacia do Paraopeba e estão planejando criar um viveiro de mudas, em parceria com escolas e empresas, para fins pedagógicos. Buscam promover a agroecologia tanto no campo quanto na cidade. Além disso, no quintal, também apresentaram uma peça de teatro, como O Teatro da Pedra.
As irmãs possuem uma estrutura de cozinha no próprio quintal com o objetivo de criar um espaço experimental para aprendizado, oficinas e convivência, onde as pessoas poderão colher e torrar café ali na hora, aprender a fazer sal aromático com ervas finas, produzir farinha com folhas de mandioca e casca de frutas, além de participar de cursos sobre alimentação saudável. Além disso, fazer farinha nutritiva para crianças abaixo do peso.
As irmãs apontam que os projetos do Anexo I.1 devem ter diretrizes e abordagens específicas, especialmente voltadas para as mulheres, garantindo que todos possam realizar seus projetos e sonhos. O objetivo é fomentar a renda local por meio do aprendizado e da troca de experiências. “Esperamos recursos do Anexo I.1 para aplicar e investir no ‘Aprendendo no Quintal’, visando a melhoria da estrutura”, comenta Íris.


Sobre a mineração, Íris afirma: “A mineração deveria ser mais consciente dos danos que causa ao ser humano e ao meio ambiente. Deveria agir de forma completamente diferente, priorizando mais o cuidado com o local onde opera. O que ganhamos com isso? Ela contamina as nascentes. Se não mudarmos, daqui a algum tempo, não teremos mais saúde. Há uma quantidade excessiva de poeira. Quando olhamos para cima [as montanhas no horizonte], tudo está coberto pela poeira do minério”.
Margareth complementa: “Há o lado da dependência econômica da mineração, mas ela leva embora nossa riqueza. Gera riqueza para alguns e retira a nossa. Afeta o físico, o emocional, o psicológico. Perdemos as plantas, os rios, os peixes, os animais, os amigos que trabalharam e foram atingidos pela mineração. São mudanças drásticas demais.”
Sobre o impacto dos danos da mineração na renda, Íris destaca: “Antes do rompimento, havia muitas festas, comemorações e turismo. Participávamos de atividades com as crianças e vendíamos nossos produtos nos festivais de inverno e feiras.”


“Depois do desastre-crime, o festival deixou de acontecer, o que teve um impacto. Está voltando aos poucos. Recentemente, servimos um risoto de pato.’ Íris reforça: ‘Após o rompimento, tivemos que contratar um agrônomo, pois as plantas começaram a produzir um pólen preto. Não utilizamos agrotóxicos, tudo é natural”, completa Margareth.
Sobre a desigualdade de renda entre homens e mulheres, Íris destaca: “Ainda há muito a mudar em relação à diferença de renda entre homens e mulheres. O machismo produz essa situação. Muitas vezes, somos subestimadas e nossa força não é reconhecida. Eu me considero uma mulher guerreira, forte, uma leoa.”
Margareth acrescenta: “Tudo na vida é mudança, nada permanece igual e o ‘Aprendendo no Quintal’ é nosso mundo. Devemos levar essa consciência para outras comunidades e mulheres. Sempre priorizamos o aspecto social. Não devemos jamais desistir da luta. Temos que ser guerreiras e sempre acreditar!”
Íris reforça a importância da participação e perseverança das mulheres na luta pelos seus sonhos: “É importante que as mulheres participem mais ativamente. Elas devem ter garra, pois na vida é preciso ter garra. Devemos persistir até o fim para alcançarmos nossos objetivos. Criatividade é essencial. Uma vida sem criar é uma vida sem propósito.”
APRENDENDO NO QUINTAL, APRENDENDO PRA VIDA!






Fotos e texto: Felipe Cunha | Comunicação
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