Histórias Atingidas: Entre as marcas do passado e as lutas do presente de Kelma
Mãe e conselheira comunitária, ela enfrenta os desafios de um território marcado pelo desastre socioambiental, lutando pelo reconhecimento como atingida

Kelma Araújo, 29 anos, vive há oito anos no Parque da Cachoeira. A região, conhecida como “zona quente”, por ser o epicentro do desastre-crime da barragem da Mina Córrego do Feijão, carrega as cicatrizes de um rompimento que transformou profundamente a vida de seus moradores. Mãe do pequeno Ravi, de dois anos, ela é símbolo de resistência e esperança na comunidade, enfrentando os desafios com coragem e determinação.
“Minha trajetória no Parque foi conhecer os dois lados: a parte boa e a parte ruim. Acordar com poeira no ar e o minério impregnado em todos os cantos se tornou uma constante. Nossas crianças adoecem e o bairro, que antes era um lugar de liberdade, está sendo destruído. Não temos mais a vida de antes”.
As casas ficam impregnadas de partículas de minério: “Você passa o dedo e vê a poeira”, descreve, expondo o impacto direto na sua rotina como mãe solo. “Entre cuidar do filho, Ravi, e manter a casa limpa, o trabalho dobra”.

Antes do rompimento, os moradores do Parque desfrutavam do rio para lazer e celebravam juntos em festejos. Hoje, o cenário mudou: muitos moradores se mudaram e a vida comunitária foi transformada pelo desastre-crime.
Kelma enfrenta a realidade de não ter sido indenizada nem reconhecida como atingida oficialmente, uma luta que já dura anos. Sem acesso ao Programa de Transferência de Renda, ela se vê em uma batalha constante por justiça e dignidade: “Minha luta é pelo reconhecimento enquanto atingida”.
“Aqui no Parque, não fomos contemplados pelo Acordo. Nenhuma obra de política pública chegou até nós, e eu também não recebo o PTR. A esperança que resta está no Anexo I.1”, expressa Kelma.

A atingida se dedica à luta pela reparação, tanto por meio das atividades promovidas pela Aedas quanto em sua atuação como conselheira fiscal da Associação de Moradores da comunidade. Para ela, a resistência coletiva é essencial para alcançar justiça.
“A luta continua. Eu acho que sem luta não há justiça. Se todos não se unirem, a causa não é reconhecida. Mesmo com as nossas diferenças, temos que continuar na busca pela reparação”
Sempre acreditando na força da união e na justiça que ainda precisa ser feita, “O que me motiva é saber que não estamos sozinhos. Enquanto estivermos juntos, a luta vai ecoar”.
Texto e fotos: Felipe Cunha – Aedas
Você pode ler outras Histórias Atingidas clicando aqui