“Quem nos atingiu quer nos dispersar, e isso não pode acontecer”

Foto: Felipe Cunha | Aedas Paraopeba

“O Meio Ambiente e Nós, Somos Todos Um!” Esse não é apenas o nome do evento idealizado por Cristina Maria da Silva, 53, mas também um lema que reflete sua visão sobre o mundo. Para ela, a relação entre o ser humano e a natureza é indivisível. “À medida que você tem consciência de que tudo o que faz para o meio ambiente também impacta a si mesmo, você muda sua postura”, explica.

Nascida e criada em Contagem, Cristina encontrou na moda sua paixão ainda nos anos 90, quando começou a desenhar figurinos. Seu sonho inicial a levou a aprofundar-se no mundo da modelagem e da costura, cursando corte e costura e, posteriormente, uma faculdade de moda. “Isso ampliou meus horizontes”, conta. Depois de morar em São Joaquim de Bicas, hoje reside em Igarapé, onde continua seu trabalho com moda e sustentabilidade.

Seu caminho profissional começou de fato em 2013, após sua graduação. No início, criava modelos e buscava seu espaço no mercado. Durante anos, dedicou-se à moda festa, vestindo noivas e criando peças casuais. Mas, em 2024, sua trajetória tomou um novo rumo: a moda sustentável.

“Diante de tantos desastres climáticos, que são consequência das ações humanas, percebi que precisava contribuir de alguma forma”, afirma. Um dos eventos que mais a impactaram foi o rompimento de barragens, um desastre-crime que evidenciou para ela a irresponsabilidade ambiental do ser humano.

Cristina promoveu dois desfiles de moda sustentável, como os que realizou em São Joaquim de Bicas. Cada coleção que exibe carrega uma mensagem sobre sustentabilidade ambiental, econômica e social. Materiais descartáveis se transformam em arte: papel higiênico, papel crepom, jornais, copos plásticos, coadores de café, sacos de lixo, tampinhas de garrafa e lacres ganham nova vida nas passarelas. “O desfile é educativo. Mostramos que esses materiais não precisam ser lixo; podem se tornar bolsas, acessórios, artesanato. Basta saber reutilizar“.

Para Cristina, a moda sustentável é um ato de resistência e conscientização. “Muitos podem achar que é apenas uma gota no mar, mas cada gota faz diferença”, enfatiza. E é essa ideia que move seu trabalho: transformar pequenas ações em grandes mudanças para o planeta.

A Mulher e os Danos da Mineração

Foto: Felipe Cunha | Aedas Paraopeba

A mulher é aquela que administra o lar. “Temos que dar conta de várias funções: escola dos filhos, limpeza da casa, trabalho externo, múltiplas jornadas. É uma constância. Não há como fugir das responsabilidades, e o dano à mulher é muitas vezes maior porque recai sobre nós“.

Na luta pela reparação, a maioria é mulher. “Queremos entender o que está acontecendo. Por que estamos adoecendo? Tenho amigas que faleceram sem um diagnóstico claro. O que aconteceu com elas? Estamos com alergias que nunca tivemos antes. A casa vive coberta de poeira. São danos mentais, materiais e à saúde física“.

Cristina espera que a reparação priorize as mulheres e a população mais vulnerável, especialmente na área da saúde. O Anexo I.1, por exemplo, traz essa expectativa. “Esperamos que sejam criados projetos e que eles comecem logo, especialmente com a profissionalização das mulheres”. Para isso, Cristina está disposta a contribuir, oferecendo cursos de moda, corte e costura para pessoas atingidas, unindo seu projeto de moda aos recursos do Anexo I.1.

O Que é Ser Mulher Atingida?

Foto: Felipe Cunha | Aedas Paraopeba

“Ser mulher atingida é ter consciência de que precisamos lutar sempre, nos reinventar. Se alguém disser que nossa luta não vai dar em nada, a participação informada é essencial. Mulher atingida é uma guerreira constante (…) Não podemos desistir. Precisamos lembrar que tudo começa por nós, mulheres. Não desanimem! A mudança depende de nós. Vamos à luta, criar possibilidades, buscar nossos direitos, entender quais são eles e nos manter unidas. Quem nos atingiu quer nos dispersar, e isso não pode acontecer”, finaliza a entrevista.

Texto e fotos: Felipe Cunha | Aedas

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