Um dos receios mais comuns entre a população atingida pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão é a contaminação por metais pesados presentes nos rejeitos da lama do Rio Paraopeba. Nas últimas semanas, o medo da contaminação aumentou com as fortes chuvas que causaram o transbordamento das águas da bacia, provocando enchentes em diversas comunidades. Como paliativo, a prefeitura de Brumadinho está oferecendo florais para desintoxicação.

A população atingida tem demandado orientações quanto aos riscos à saúde que está submetida e as ações que devem ser tomadas para evitar a contaminação. Entre as dúvidas, está a eficácia do composto chamado de “FLORAL DETOX”, distribuído pela Secretaria de Saúde de Brumadinho através do NUPIC – Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares.

Em material divulgado na semana passada, o composto é chamado erroneamente de “medicamento” que, supostamente, “possibilita a desintoxicação de metais pesados e outras substâncias nocivas, presentes nessa água”.

Com isso, a equipe de saúde da AEDAS conversou com o Dr. Áureo Augusto Caribé, médico formado pela Universidade Federal da Bahia – UFBA, sobre a oferta do floral para o fim divulgado.

O médico, que atua na Estratégia de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Palmeiras-BA, com larga experiência em Práticas Integrativas e Complementares e que há mais de 30 anos trabalha com Florais de Bach, avalia que foi equivocada a indicação de um floral para a suposta desintoxicação de metais pesados.

Florais para desintoxicação
Florais para desintoxicação são oferecidos pela prefeitura de Brumadinho pós enchentes.

Segundo ele, “metais pesados são substâncias que interferem no metabolismo, nas funções químicas do nosso corpo, intoxicam os corpos e podem trazer danos significativos na saúde da pessoa. E eles são difíceis de ser eliminados do corpo”.

Na verdade, ainda de acordo com o especialista, os florais não são medicamentos e não há evidências cientificas que demostram eficácia de seu uso para tratamento por intoxicação por contaminantes.

A Terapia de Florais é uma prática integrativa e complementar inserida no SUS pelo Governo Federal em 2018, bem como pela Prefeitura de Brumadinho no mesmo ano. Apesar de avaliar como importante e necessária a existência de um serviço de saúde voltado para a oferta de PICS, como é o caso do NUPIC gerido pela Prefeitura de Brumadinho, Dr. Áureo afirma que “não podemos usar nenhuma das PICS considerando que elas, por si só, vão gerar uma desintoxicação.

Avalio como um grave equívoco”, completou.

O médico alerta ainda que a forma que a divulgação foi feita pode gerar descrédito dos florais e das PICS, ao atribuir a eles fins para os quais não são destinados, bem como pode-se levar a população a crer que estão livres da contaminação ao utilizá-los.

Ele sugere que as autoridades de saúde do munícipio garantam o atendimento individual de cada paciente, e que nestes atendimentos o uso de florais para desintoxicação possam ser acionados de forma complementar.

Por fim, o médico propõe uma ação coletiva de saúde pública “uma campanha intensa, com profissionais de publicidade, jornalistas, etc. e trabalhar com aspectos relacionados à alimentação, tentar criar condições para a melhoria da alimentação da população, considerando que sendo de boa qualidade, vai auxiliar o organismo no processo de eliminação. Além de outras ações que serão avaliadas pelos profissionais de saúde que realizarem a avaliação e o acompanhamento dos casos.”

A Aedas compartilha da preocupação das pessoas atingidas quanto a distribuição e eficácia da substância para o fim que se divulga. Neste sentido, solicitou informações à Secretaria Municipal de Saúde de Brumadinho, bem como acionou as Instituições de Justiça para acompanharem o caso.

Reafirmamos a orientação de evitar contato com água, lama e poeira das enchentes, utilizando luvas, botas, máscaras e outros equipamentos de proteção, assim como buscar orientações em uma Unidade de Saúde em caso de qualquer sintoma e verificar a necessidade de se vacinar, especialmente contra Hepatite A e Tétano.

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