Governança do Memorial em Brumadinho é um direito dos familiares das vítimas, defende Avabrum
Familiares de vítimas fatais querem gestão do espaço sem interferência da Vale

O adiamento da inauguração do Memorial em homenagem às vítimas do desastre-crime da Vale, em Brumadinho, é resultado de um impasse entre a mineradora e os familiares das joias, conforme explica um comunicado divulgado pela Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum) em 14 de janeiro de 2023.
A abertura do espaço estava prevista para janeiro de 2023 mas, diante das dificuldades nas discussões com a mineradora sobre a governança, os familiares agora lutam para que a inauguração só ocorra após o cumprimento de todos os aspectos legais que garantam a gestão plena de uma Fundação que deverá ser instituída para cumprir essa função.
Sem interferência da Vale

O comunicado emitido pela Avabrum reforça a importância da elaboração de documentos jurídicos, como o Termo de Compromisso/Minuta da Fundação, estabelecendo regras que assegure aos familiares das vítimas o direito de governança do espaço, buscando impedir a interferência da Vale.
“O espaço físico já está pronto, mas precisamos pensar como ele será gerido, governado e administrado. Antes de inaugurar um espaço como este é necessário que a gente tenha uma fundação para exercer essa gestão”, explicou Kenya Lamounier da diretoria da Avabrum.
Kenya trouxe, ainda, um histórico de dificuldade dos familiares das vítimas nas negociações com a Vale para instituir a governança do memorial. “Sempre falamos que este memorial não seria da Vale. A Vale só entrará ali como criminosa. Ou seja, não podemos permitir que ela entre como gestora de um espaço que homenageia 272 vítimas que ela mesma matou”, afirmou.
“Sempre falamos que este memorial não seria da Vale. A Vale só entrará ali como criminosa”
Discussão com apoio jurídico
Neste momento, o debate sobre a governança do memorial é feito em reuniões entre a Avabrum e a Vale, acompanhado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) do governo de Minas Gerais.
“Buscamos meios jurídicos para respaldar ações da fundação na governança. Estamos trabalhando na elaboração de documentos para que a fundação possa existir. As tratativas com a Vale precisam caminhar em conformidade com o desejo e anseios da associação, entendendo que aquele espaço é e será um espaço de memória daqueles que foram vitimados de forma tão vil e cruel”, explicou Kenya.

Além de homenagens
De acordo com a diretora da Avabrum, o objetivo do memorial não será apenas homenagear as joias, mas também contar a história do desastre-crime e preservar a dignidade dessas vidas, alocando segmentos corpóreos e listando o nome das vítimas.
“Sob governança da Vale, esse memorial seria somente um espaço pra honrar as 272 vítimas e ela poderia fechar o memorial a qualquer hora que quisesse”, destacou.
Texto: Rafael Donizete
