Entre os dias 11 e 15 de agosto, o Projeto de Assessoria Técnica Independente para o território de Barra Longa realizou uma formação institucional que marca o início de um novo ciclo de atuação na cidade atingida pelo desastre-crime do rompimento da barragem de Fundão, em 2015.

A atividade reuniu profissionais da Aedas— entre técnicos, técnicas e representantes de movimentos sociais — organizados em eixos estratégicos. O objetivo principal foi preparar as equipes para os desafios técnicos, políticos e metodológicos no trabalho junto à população atingida.

Carlos Henrique Prado, Coordenador de Projetos da Aedas, destacou que a formação representou um espaço de escuta ativa, alinhamento institucional e fortalecimento coletivo. Para ele, a atividade reforça o compromisso da Aedas com uma atuação construída junto ao povo atingido de Barra Longa.

“Durante a formação, discutimos a trajetória da Aedas, o histórico da atuação no território, os conceitos de participação popular e os principais pontos do acordo de repactuação. O foco foi o aprofundamento nas demandas históricas da população: moradia, saúde, povos e comunidades tradicionais e participação efetiva nos processos de reparação”, explicou Carlos.

Maria José de Souza, Coordenadora Geral do Projeto, enfatizou que a formação foi essencial para compreender o novo contexto de atuação na cidade e alinhar estratégias de trabalho.

“Nosso papel é lutar, junto com as pessoas atingidas, por uma reparação justa e garantir todos os seus direitos. É fundamental entender o território, reconhecer o que já foi feito e o que ainda precisa ser conquistado”, afirmou.

Ela também ressaltou a importância de reconhecer os aprendizados do primeiro ciclo de atuação da Assessoria Técnica Independente (ATI) na região.

“Precisamos saber onde estamos pisando. A história da primeira ATI em Barra Longa carrega muitas lições e desafios que agora precisamos enfrentar com ainda mais preparo.”

Histórico de luta e conquista popular

Profissionais que atuaram na cidade entre 2017 e 2021 no território de Barra Longa, compartilharam suas vivências e os desafios enfrentados. A Assessora da Coordenadora Geral do Projeto, Isabel Gonçalves, relembrou o contexto em que a assessoria chegou ao município:

“Foram quatro anos e meio de trabalho com uma equipe reduzida, mas extremamente dedicada. Barra Longa já tinha uma Comissão Territorial de Atingidos organizada com o apoio do Movimento dos atingidos por barragens, além de coletivos de saúde e cultura. Encontramos um povo mobilizado, lutando por seus direitos. Nosso trabalho foi guiado pelas demandas e vozes da própria população.”

Ela também destacou os danos profundos causados pelo rompimento da barragem:

“Barra Longa perdeu seu rio, sua terra e suas referências. A lama invadiu o centro histórico, destruiu quintais produtivos, interrompeu festas tradicionais e colapsou o comércio local. O povo adoeceu física e emocionalmente. E, até hoje, a reparação não chegou de forma justa.”

A professora Karine Gonçalves Carneiro, da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (GEPSA), também participou da formação e destacou o papel fundamental da escuta no processo de reparação:

“Ouvir as histórias das pessoas atingidas, muitas vezes fragmentadas ou silenciadas, é o primeiro passo para reconstruir, junto com elas, os caminhos para uma reparação justa.”

Durante a formação, foram reafirmados os compromissos com os eixos estratégicos definidos coletivamente com a população de Barra Longa: direito à moradia digna, saúde integral, trabalho justo, qualidade de vida e indenização adequada.

Mayara Costa Silva, do Institucional da Aedas também participou da atividade e reforçou a importância da memória na luta por justiça:

“As pessoas ainda vivem o luto da repactuação. Nosso papel é ouvir, acolher e reconstruir com elas suas histórias. Cada anexo do acordo precisa ser compreendido como uma ferramenta de conquista coletiva.”

Com o início deste novo ciclo, a Aedas reafirma seu compromisso com uma reparação integral, construída a partir do protagonismo das comunidades atingidas. A atuação será guiada por escuta ativa, respeito à memória coletiva, justiça social e transformação estrutural.

“Essa formação vai qualificar muito nosso trabalho em campo, trazendo uma compreensão mais clara das urgências e prioridades previstas no acordo. Nosso compromisso é caminhar lado a lado com o povo de Barra Longa”, concluiu Carlos Henrique Prado.

Texto: Emilio Pio, Aedas Barra Longa