As Comunidades Quilombolas da Região 1, atingidas pelo rompimento da barragem da Vale, retomaram neste domingo (20) a tradicional Festa da Consciência Negra em formato presencial, após o isolamento exigido pela pandemia de covid-19. A 15ª edição do evento que celebra o Dia da Consciência Negra foi realizada na Comunidade Quilombola de Rodrigues, reuniu todas outras Comunidades Quilombolas da região e reforçou uma tradição de cultura, religião e resistência.    

Edições itinerantes   

Na tradição de 15 edições, cada uma delas é realizada em uma das quatro comunidades quilombolas da região: Sapé, Ribeirão, Marinhos e Rodrigues. Em 2022, após dois anos de pandemia, Rodrigues foi a comunidade sede do festejo. Um orgulho e uma emoção para os quilombolas da comunidade.   

“Depois de anos de pandemia, com a gente já pensando que nunca mais teríamos a festa, ver a Comunidade Quilombola de Rodrigues recendo outras comunidades, pessoas de Brumadinho, Belo Horizonte e região, contribuindo para a realização do evento é muito emocionante”, contou a quilombola de Rodrigues, Adriana Braga, mais conhecida com Dina Braga.   

A programação de atividade começou no início da manhã de domingo, com café comunitário e cortejo dos Congos e Moçambiques das comunidades quilombolas. Após o almoço, também comunitário, foram realizadas apresentações artísticas locais e regionais, além da presença de quitandas com produtos das comunidades.  Cultura, fé e resistência contribuem para o resgate da ancestralidade e da consciência da luta do povo negro.   

“Eu lembro da 1ª Festa da Consciência Negra que foi no Quilombo Rodrigues que sediou. No começo, naquela época, a gente ficou receoso porque a gente não tinha a noção do que é ser negro. Tudo de ruim era o negro, então eu queria ser negra? Não. Mas com o passar do tempo, eu fui participando, me envolvendo no movimento negro e fui entendendo que ser negro é lindo demais e o lugar do negro é onde ele quiser”, afirmou Dina Braga.   

Tradição de família   

A quilombola Lucilene dos Santos, conhecida em Rodrigues como Lena, declarou a emoção de receber em sua casa a cozinha comunitária que ofereceu café e almoço às pessoas durante o festejo. “É união, a família unida e um ajudando o outro. Eu fico maravilhada e muito orgulhosa de receber essa festa na minha comunidade e poder colocar minha casa, minha família e meus irmãos para ajudar a continuar uma tradição da minha mãe, Eustáquio Vicentino”, declarou Lena.

Além do resgate da ancestralidade e da afirmação da cultura, resistência e religião, a esperança também é um sentimento compartilhado por Lena, que lembra da necessidade de uma reparação integral para as comunidades atingidas pelo desastre-crime em Brumadinho.   

“Essa festa nos traz otimismo para 2023. Nós esperamos dias melhores em que a Vale veja o que ela provocou nas comunidades e repare todos os nossos prejuízos”, reforçou Lena.