Maioria negra (64%) em Brumadinho e grande parte de mulheres não exercendo trabalho remunerado (57%) na Região 2 são alguns dos dados levantados nos dossiês

Os Dossiês Temáticos das Mulheres Atingidas abordam, neste primeiro capítulo, o perfil das mulheres atingidas das Regiões 1 e 2 no âmbito das condições socioeconômicas, de trabalho e renda, na tipificação do perfil etário (idade), racial e na contextualização do acesso à educação, acesso a serviços públicos e moradia.

Nesse caso trata-se de mulheres racializadas, de diferentes idades, escolaridades e arranjos familiares que tiveram suas vidas modificadas pelo rompimento.

Trecho do documento

A compreensão conjunta dos marcadores sociais da diferença que compõem esse perfil será indicativa de quais os pressupostos a serem seguidos para uma reparação justa e integral.


Região 1

Este documento acompanha a subdivisão dos trabalhos da Região 1, Brumadinho, em zonas de atuação e abrangência subdivididas em: ZONA QUENTE, SEDE, RURAIS e QUILOMBOS.

Os dados apresentados pelo Registro Familiar da Aedas indicam que a maioria das pessoas atingidas pelo desastre sociotecnológico da empresa Vale S.A, em Brumadinho, são Mulheres, em que se aproxima do percentual de 51,12%. Deste número registrado, 64% são de mulheres que se autodeclaram negras.

Região 2

Neste Dossiê buscou-se desenhar e apresentar neste capítulo o perfil das mulheres atingidas da Região 2, que abrange os municípios de Betim, Juatuba, Igarapé, São Joaquim de Bicas, Mario Campos e das UTTs (Unidades Territoriais Tradicionais) dos Povos e Comunidades Tradicionais de Religião Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA).

A grande maioria das mulheres atingidas se encontram desempregadas, ou ocupam e exercem trabalhos não reconhecidos, não valorizados e/ou mal remunerados e precarizados. Na Região 02, somente 43% das mulheres exercem trabalho remunerado, enquanto 57% não exerce.

Os dados revelam ainda, que as mulheres que exercem trabalho remunerado estão na reprodução do trabalho doméstico e de cuidado e em trabalhos que reproduzem a divisão sexual do trabalho, intensificando a desvalorização e a precarização do trabalho realizado por elas, gerando dependência econômica de parceiros, familiares e/ou de programas e políticas sociais.

Como os dados foram levantados?

Para a elaboração destes capítulos foi utilizada a tabulação de dados por meio da extração de informações das mulheres atingidas levantadas nas atividades de campo e sistematizadas pelas equipes Aedas. Esta disposição de dados – obtidos por meio da extração dos Registros Familiares – RFs com o aplicativo Power BI2 – permitiu uma visualização e comparação qualitativa e quantitativa adequada às demandas previamente definidas pela equipe de monitoramento de gênero e adaptadas a cada região de acordo com as especificidades e características dos dados levantados.

O que se pode observar até agora?

Foi possível observar, no âmbito dos dados levantados, elementos importantes relativos à caracterização do perfil racial, etário, familiar e de escolarização das mulheres atingidas. Estes dados são imprescindíveis para que possamos pensar conceitos do debate de gênero dentro da materialidade da vida dessas mulheres.

Neste intuito foi possível analisar como as questões gerais e transversais como o racismo ambiental e a interseccionalidade entre gênero e raça se expressa na vida das mulheres atingidas como um todo e como isto reverbera no acesso dessas mulheres a condições socioeconômicas de trabalho e renda, escolarização, moradia e serviços públicos.

Sobre os dossiês

Esse documento é o capítulo 1 do Dossiê Temático de Mulheres, uma produção da Aedas – Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social, que contribui para a matriz de danos que vêm sendo construída de forma participativa pelas atingidas e atingidos com as Assessorias Técnicas Independentes (ATIs) no processo de luta pela reparação integral em Brumadinho, na Bacia do Paraopeba e Represa de Três Marias. Modificações no texto deste documento poderão ocorrer na sua finalização, em especial o acréscimo de dados sobre as mulheres atingidas dos
Povos e Comunidades Tradicionais.

Monitoramento de gênero

Uma das prioridades da Aedas enquanto assessoria técnica independente é o trabalho com as Mulheres Atingidas. Por isso, conta com uma equipe específica de monitoramento de gênero para o acompanhamento das ações do acordo e a análise dos danos na vida das Mulheres
agravados pelo rompimento.

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