Atingidos dos quilombos de Brumadinho falam sobre a participação e dos direitos dos povos e comunidades tradicionais

Para a campanha “Um rompimento – quantos direitos atingidos?”, que visa o enfrentamento à violência e discriminação nos territórios atingidos pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, a Aedas realizou uma entrevista sobre o direito à participação das comunidades Quilombolas no processo de Reparação Integral dos danos causados pelo desastre-crime.

A campanha vem para evidenciar e fortalecer os direitos das pessoas atingidas, sensibilizar e conscientizar a sociedade para a luta por esses direitos e apoiar as pessoas que passam por processos de violência de qualquer natureza, o que significa, também, compreendê-las em suas especificidades territoriais, étnicas, religiosas, geracionais e de gênero.

No vídeo “Direito à participação das comunidades Quilombolas”, as/os quilombolas Nair Conde, Maria Aparecida, Edimar da Silva, Olízia Braga e Matuzinha de Fátima, dos quilombos Marinhos, Sapé, Rodrigues e Ribeirão, em Brumadinho, relatam a importância da luta, união e força no processo da Reparação Justa, Devida e Integral.

Confira o vídeo:

Quilombolas e os impactos do rompimento

Os danos causados aos quilombos Sapé, Ribeirão, Marinhos e Rodrigues, em Brumadinho, atingiram tanto o patrimônio material, imaterial e natural, prejudicando a população quilombola que apresenta, historicamente, vulnerabilidades em seus territórios.

Faz-se imprescindível a compreensão de que as situações de racismo estrutural e de racismo ambiental, aliadas à disputa territorial, às quais essa população está exposta, nos coloca para pensar sobre a reparação justa, devida e integral.

“Para reparação ser de forma integral, todos os atingidos de qualquer região precisam ser ouvidos, respeitados. São os próprios atingidos que vão saber o que precisam”.

Relatou Olízia Braga, da comunidade quilombola de Ribeirão.

Ao olhar para a história das comunidades quilombolas, a luta e a resistência secular perpassam pela sua existência e pela batalha ao acesso por direitos. Sua existência também evidencia a importância dos territórios tradicionais para a reprodução social, cultural e econômica dos povos tradicionais.

Além das questões materiais, as celebrações, religiosidade, manifestações culturais, modos e saberes de vida tradicional sofreram danos decorrentes do rompimento da barragem da Vale S.A, impactando diretamente na educação, meio-ambiente, saúde física e mental, lazer, esporte, cultura, trabalho, renda, transporte e mobilidade.

“Um rompimento – quantos direitos atingidos? Quantos direitos interrompidos? Não tem nem como medir a violência que foi para os Brumadinhenses e a Bacia”

Nair Conde, da comunidade quilombola de Marinhos.

Os quilombos em Brumadinho

Maria Aparecida, Quilombo de Sapé. Foto: Reprodução vídeo.
Quilombo de Sapé

Localizado a 30 km do município de Brumadinho, é considerado a comunidade mais antiga. Foi reconhecido pela Fundação Palmares como comunidade quilombola em 2005. Tem casas concentradas em dois núcleos e uma área autodeclarada de 158,50 hectares. O território quilombola de Sapé é onde se verifica o maior número de sobreposições de propriedades no Cadastro Ambiental Rural.

Matuzinha de Fátima, do Quilombo de Sapé. Foto: Reprodução vídeo.

Quilombo Rodrigues

Localizado a 36 km do município de Brumadinho. Tem um núcleo onde se localizam as casas, com oito casas georreferenciadas. A sua área autodeclarada é de 58,35 hectares. Foi reconhecido pela Fundação Palmares como comunidade quilombola em 2010. O território da comunidade apresenta sobreposição de propriedades do Cadastro Ambiental e do sistema de georreferenciamento do Incra.


Quilombo Ribeirão

Localizado a 25 km do município de Brumadinho, a comunidade tem 66 casas georreferenciadas. Tem a maior área autodeclarada entre os quilombos: 212,65 hectares. Foi reconhecido pela Fundação Palmares como comunidade quilombola em 2010. Foram identificados conflitos sobre partilhas e compra de terras de gente não quilombola e sobreposição de propriedades privadas no Cadastro Ambiental.

Edimar da Silva, do Quilombo de Marinhos. Foto: Reprodução vídeo.

Quilombo Marinhos

Localizado a 28 km do município de Brumadinho, com aproximadamente 50 casas, numa área com tamanho desconhecido pelos moradores. Foi reconhecido pela Fundação Palmares como comunidade quilombola em 2010.

Em Minas Gerais, assim como em outras partes do Brasil, as origens dos quilombos são diversas. Alguns são formados pela compra, troca, doação e herança das terras. Outros foram iniciados por negras e negros que andavam em busca de liberdade e melhores condições de vida, fugindo da fome e da seca que atingiu diversas regiões e grupos sociais. As terras, para além da propriedade privada, eram chamadas de terras soltas, terras livres, devolutas e públicas


Acesse aos outros vídeos, produtos e matérias na página que foi elaborada especialmente para a campanha “Um Rompimento – quantos direitos atingidos?    

Um rompimento: quantos direitos atingidos? – Aedas (aedasmg.org)