Aedas apresenta resultados de levantamentos de danos ambientais para comunidades da Região 2
Campanhas de coletas foram realizadas em 2021 e 2022 em seis municípios da Bacia do Paraopeba

Primeiro encontro foi realizado em Mário Campos, no dia 17 de agosto | Foto: Diego Cota/Aedas
Atingidas e Atingidos dos municípios da Região 2 participaram da etapa comunitária para devolutivas do levantamento de danos socioambientais e à saúde realizado pela consultoria EcoEnviroX e do estudo sobre a recuperação do Rio Paraopeba feito pela Probiota, contratadas pela Aedas. Foram promovidos quatro encontros, entre os dias 17 e 24 de agosto, para diálogo e exposição dos resultados das amostras coletadas na R2, que compõe o território atingido pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão.
Os encontros intermunicipais contemplaram Mário Campos e São Joaquim de Bicas, no sábado (17/08); Betim, na segunda-feira (19/08); Igarapé e Juatuba, na quarta-feira (21/08); e as Unidades Territoriais Tradicionais que integram o coletivo dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA), no sábado (24/08). As devolutivas foram elaboradas pela equipe de Marcadores Sociais da Diferença (MSD), da Aedas.




Registros dos quatro espaços, respectivamente: Mário Campos/São Joaquim de Bicas, Betim, Juatuba/Igarapé e PCTRAMA
Entre os objetivos dos estudos esteve o de identificar e quantificar os possíveis danos ambientais relacionados aos contaminantes presentes no rejeito, que podem ter como origem o rompimento da barragem, ocorrido em 2019. A gerente geral do Eixo de Diretrizes da Reparação da Aedas, Nina de Castro, destacou que o acesso aos resultados fortalece as percepções de risco das pessoas no território e ajuda a embasar as demandas das pessoas atingidas.
“É muito importante que a população tenha conhecimento desses dados. Então, a gente sabe como estava naquele momento (2021 e 2022), entende um retrato e pode usar isso para requerer outras coisas, como coletas dos órgãos estaduais, requerer um monitoramento, ficar atentos aos programas do SUS de vigilância do ar, do solo e da água. É uma base de estudo para as pessoas atingidas terem ideia sobre a vida delas nos territórios”, explicou.

Nina de Castro, da Aedas | Foto: Lucas Jerônimo/Aedas
Para a atingida Michelle Rocha, da comunidade Monte Calvário, município de Betim, o estudo vai contribuir na luta pela criação do Protocolo de Saúde destinado para as pessoas atingidas pela mineração, especialmente pelos desastres-crimes como o de Brumadinho. “Para nós da Bacia do Paraopeba é muito importante e muito esperado, apesar do tempo, mas sabemos da importância que tem a partir da chegada dele e o que vamos fazer em cima de tudo que foi apresentado”, disse.
“Estávamos na espera desses estudos, porque a gente já sabe de algumas contaminações, mas a partir dele vamos fazer a luta em cima do Protocolo de Saúde, saber lidar com as mudanças e com a saúde das pessoas atingidas. Ele vai ser o nosso instrumento para muita coisa que a gente ainda tem que lutar, apesar de já ter cinco anos do crime”, afirmou.
Resultados reforçam percepção das pessoas atingidas
Desde o rompimento da barragem em 25 de janeiro de 2019, a população atingida da Bacia do Paraopeba e Represa de Três Marias tem vivenciado alterações ambientais e impactos à saúde. Porém, são poucos os estudos realizados que abordam os níveis de contaminação do meio ambiente e que possibilitem visualizar o grau de exposição das pessoas aos danos provocados pelo desastre-crime.
Entretanto, a percepção das atingidas de que as condições mudaram para pior é uma constante que, inclusive, motiva a luta das pessoas pela reparação socioambiental e por um atendimento à saúde específico para quem reside nessas regiões. A atingida Margarida Teixeira, da comunidade Funil, município de Mário Campos, conta que os dados apresentados já eram vivenciados nos territórios.
“A árvore frutífera na beira do rio não prospera mais e a criação morre. A saúde do povo está muito mal. É tanta doença que apareceu! E agora, com isso aqui, eu tirei a conclusão do que é. A gente teve uma resposta de uma coisa que a gente esperava há muito tempo. E aí a gente fica muito triste, porque nós estamos vivendo em cima de uma terra germinada, porque os riscos agora ficam pior. A gente tem que tomar mais cuidado ainda”, lamentou.
Já a atingida Marta Matilde de Oliveira, da comunidade Francelinos, de Juatuba, destacou que os resultados apresentados na devolutiva confirmaram as suspeitas que a comunidade tem sobre as condições do território. “O povo atingido vem sofrendo com as crises respiratórias, com as crises alérgicas, dores no corpo. E devido às enchentes no final de 2021 para 2022, a saúde dos atingidos só piorou. A gente tem notado muito a piora na qualidade da água”, disse.
O dado de contaminação de solo superficial apontado a partir de amostra coletada no município de Mateus Leme surpreendeu o atingido Babá Edvaldo, do Ilê Axé Alá Tooloribi, UTT que integra o PCTRAMA. “Vamos dizer então que Francelinos, que é o meu bairro, onde tem a minha UTT é toda contaminada. Se Mateus Leme está, então toda a comunidade ali está e eu vejo que continuam casas na orla do rio. Que exposição terrível as pessoas estão passando, nós estamos passando uma exposição muito grande”, afirmou.

Babá Edvaldo, do PCTRAMA | Foto: João Paulo Dias/Aedas
Para o atingido Wilivis Lemos, da Colônia Santa Isabel, em Betim, o estudo chega para fortalecer a percepção das pessoas e informar sobre as condições do território. “Sem o estudo é muito vago, porque fica como se fosse só uma fala. Então ele veio para fortalecer a comunidade, para ter ciência de fato que não pode consumir os peixes e criar animais em certos lugares contaminados, como nas regiões próximo à área da Bacia, onde foi inundado nas enchentes e próximo dos poços que estão contaminados devido ao fluxo da água dentro do solo”, disse.
Como foram os estudos das consultorias
Foram duas as consultorias contratadas pela Aedas, ainda em 2021. A EcoEnviroX realizou um estudo majoritariamente quantitativo, a partir da coleta e análise de amostras nos municípios Mário Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Igarapé, Juatuba e Mateus Leme. A Probiota, por sua vez, promoveu um estudo qualitativo a partir da pesquisa de dados secundários.

Boletim Informativo da consultoria EcoEnviroX foi apresentado aos atingidos | Foto: Lucas Jerônimo/Aedas
As coletas e análises da EcoEnviroX foram feitas entre setembro de 2021 e agosto de 2022. Nesse estudo foram coletadas amostras ambientais, como solo, sedimento, particulados (ar), água, plantas e peixes, além da realização de entrevistas com as pessoas atingidas. Foram quatro campanhas de coletas ao longo do período em campo, sendo a última realizada em agosto de 2022, a única após as enchentes daquele ano.
Os materiais coletados foram enviados e analisados nos laboratórios de origem dos pesquisadores que integraram a equipe da consultoria. Após as análises, os pesquisadores apresentaram para a equipe técnica da Aedas os relatórios com as percepções em relação às substâncias químicas encontradas, suas concentrações e os possíveis danos ambientais que viriam daquela concentração.
O estudo teve como substâncias de interesse aquelas que apareceram de forma mais frequente nas amostras. São elas: arsênio, cromo, chumbo, manganês, cádmio, níquel, ferro, cobalto, alumínio, mercúrio, bário, zinco e cobre.
A consultoria da Probiota também foi realizada em quatro etapas, mas cada uma delas sendo orientada por um tema e uma resposta específica, que foram elaboradas a partir da pesquisa de estudos já feitos. Foram produzidos quatro relatórios, respectivamente: diagnósticos socioambientais do território em relação à qualidade e a quantidade de água disponível; mapeamento dos usos do Paraopeba e de seus afluentes; avaliação da segurança hídrica nos municípios; e reflexões em relação às possibilidades de governança das águas do Rio Paraopeba.

Segurança hídrica nos municípios atingidos da Região 2 foi abordada pela consultoria Probiota | Foto: Felipe Cunha/Aedas
Questão socioambiental e da saúde são demanda das comunidades atingidas
São mais de cinco anos vivendo em um cenário de incertezas e convivendo com as diversas queixas sobre a saúde e dúvidas sobre as condições socioambientais propícias para viver, cultivar e exercer o direito de existir e resistir no território atingido. As devolutivas realizadas pela Aedas, a partir dos estudos independentes, destacam a lacuna por informações que as pessoas precisam acessar.
Os Estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana e Risco Ecológico (ERSHRE), que são os estudos oficiais da reparação e que devem indicar os caminhos para a Reparação Integral, ainda está em sua primeira fase e, até o momento, não ofereceu informações concretas sobre as condições ambientais dos municípios atingidos. Em julho, os Compromitentes anunciaram que será feita a contratação de uma nova entidade para prosseguimento dos Estudos.
A participação na Reparação Socioambiental é, por sua vez, uma demanda das pessoas atingidas. O Acordo de Reparação, firmado em 2021 entre Governo de Minas, Instituições de Justiça e Vale não garantiu a participação das atingidas e atingidos nessa esfera da reparação. Na edição de agosto do Jornal Vozes do Paraopeba é abordado como a Reparação Socioambiental deve ser prioridade na vida das pessoas atingidas.
Aedas vai promover seminário em outubro
Está prevista para outubro a realização de um seminário para apresentação pública dos resultados obtidos nas consultorias contratadas pela Aedas. As informações de data, horário e local ainda serão divulgadas.
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Encontro com atingidas e atingidos de Mário Campos e São Joaquim de Bicas, no sábado (17/09), em Mário Campos | Fotos: Diego Cota/Aedas




Encontro com atingidas e atingidos de Betim, na segunda-feira (19/08) | Fotos: Lucas Jerônimo/Aedas




Encontro com atingidas e atingidos de Igarapé e Juatuba, na quarta-feira (21/08) | Fotos: Felipe Cunha/Aedas





Encontro com atingidas e atingidos do PCTRAMA, no sábado (24/08) | Fotos: João Paulo Dias/Aedas
Texto: Diego Cota
Reportagem: Diego Cota, Lucas Jerônimo, Felipe Cunha e João Paulo Dias