Consultoria contratada pela Aedas aponta altos níveis de substâncias como arsênio, cromo, chumbo, manganês e cádmio

Vista do município de Juatuba, na Região 2 | Foto: João Paulo Dias – Aedas
Posso consumir as plantas do meu quintal? Por que meus animais estão morrendo? É seguro usar a água da cisterna? Esses são exemplos de perguntas frequentes que demonstram a incerteza de comunidades atingidas em relação à saúde e ao meio ambiente após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.
A partir dessas preocupações, a Aedas contratou consultorias para realização de estudos socioambientais que revelam impactos nos municípios da Região 2 (Betim, Mário Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Mateus Leme).
O estudo conduzido pela consultoria EcoEnvirox realizou coletas de amostras entre setembro de 2021 e agosto de 2022, analisando mais de cerca de 888 amostras de diversos compartimentos ambientais, como poeira, água, solo, peixes e plantas.
Os resultados indicaram a presença de cerca de 13 substâncias químicas potencialmente prejudiciais à saúde humana que violaram os limites de referências estabelecidos por normativas ambientais. Substâncias como arsênio, cromo, chumbo, manganês e cádmio são os exemplos mais preocupantes, já que passaram dos limites máximos dos valores de referência para diversas amostras analisadas.
Outro destaque foram os altos níveis de manganês nas águas do Paraopeba após a confluência com o ribeirão Ferro-Carvão, sugerindo uma relação direta com os rejeitos provenientes do rompimento da barragem da Vale.
“Apesar de ser um ‘retrato’ pontual do período analisado, o estudo sugere a necessidade de monitoramento contínuo para entender as mudanças ao longo do tempo”, afirma Kalahan Battiston, engenheiro hídrico e técnico da equipe de Marcadores Sociais das Difereças (MSD) da Aedas.
É importante destacar que os estudos foram pontuais, não têm caráter de perícia ambiental oficial e não estabelecem nexo de causalidade entre adoecimentos e contaminação, apesar de apontarem para um risco adicional à saúde humana.
A divulgação dos estudos acontece em um momento de luta pela implementação do Protocolo de Assistência à Saúde aos Casos de Exposição a Substâncias Químicas da Mineração, proposto pela Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a partir da reivindicação dos territórios atingidos. Esse protocolo, que ainda não integra as diretrizes do SUS, traz a preocupação com metais como arsênio, manganês e mercúrio, que estão entre os que violaram os parâmetros no estudo contratado pela Aedas.
Qualidade do Ar é preocupante na Região 2

Atingido utiliza dispositivo para coleta de partículas no ar | Foto: Rurian Valentino
A equipe de Marcadores Sociais das Diferenças (MSD) da Aedas avalia que a qualidade do ar é crucial para entender o potencial de contaminação do rejeito vindo do rompimento da barragem, já que os metais encontrados (arsênio, cádmio, mercúrio, manganês, entre outros) prejudicam a saúde humana e afetam diretamente o ambiente.
“Esses metais podem ser transportados pela atmosfera e se acumularem no solo e nas águas superficiais por meio das chuvas ou deposição seca. No solo, os metais podem escoar para os rios ou serem absorvidos pelas plantas, o que compromete seu crescimento e a saúde de quem as ingere”, explica Kleiton da Silva, assessor técnico da equipe de MSD.
Os elementos investigados no estudo estão presentes nos rejeitos, de acordo com dados de 2019 da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).
Outro fator importante é a falta de regulamentação ambiental brasileira específica que determine o limite máximo aceitável de concentração de metais no ar, o que causa lacunas e limitações para avaliar contaminações ambientais e estudos de risco a saúde humana. Por esse motivo, foram usados valores de referência de legislações internacionais, orientados pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
Mapa da Região 2
O mapa apresenta 28 amostras, coletadas em 21 locais diferentes, onde foi analisada a Qualidade do Ar. De todos os pontos, apenas um não registrou a presença de metais acima dos parâmetros estabelecidos pelas normas. Ao todo, foram 47 violações em relação aos valores de referência para arsênio, manganês e mercúrio.

Veja abaixo infográficos dos dados da consultoria


Importante destacar

Aedas apresentou resultados para as comunidades
A Aedas realizou reuniões com as pessoas atingidas para compartilhar as informações do levantamento de danos socioambientais e à saúde. Foram quatro encontros, entre os dias 17 e 24 de agosto, para diálogo e exposição dos resultados das amostras coletadas, com o objetivo de permitir que as comunidades compreendam os resultados e possam discutir ações para mitigar os impactos junto aos órgãos públicos.
Nos encontros, foram apresentadas as recomendações após o estudo, entre elas está o fomento aos programas de monitoramento (como VigiÁgua, VigiSolo e VigiAr), o controle social na implementação dos recursos do Anexo 1.3 para a área da saúde, a participação social na construção da Política de Atenção Integral à Saúde de populações atingidas e a regulamentação da Política Estadual dos Atingidos por Barragens (Peab).
Após a etapa de reuniões com as comunidades, foram realizadas duas reuniões com os poderes públicos municipais durante o mês de setembro.
Depoimentos das pessoas atingidas da Região 2

Texto: Diego Cota, Júlia Rohden e Equipe de Marcadores Sociais da Diferença (MSD)
Leia essa e outras matérias na 34ª edição do Jornal Vozes do Paraopeba
Vozes do Paraopeba – 34ª edição: Saúde e exposição a metais da mineração na Região 2