Comunidades quilombolas de Brumadinho lançam Protocolo de Consulta destinado à Aedas

Na tarde de sábado (19), as comunidades quilombolas de Brumadinho – Sapé, Marinhos, Rodrigues e Ribeirão – estiveram reunidas na Associação de Moradores do Quilombo Ribeirão, para o Lançamento do Protocolo de Consulta Prévia, Livre e Informada, direcionado aos trabalhos da Aedas (Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social).
A Aedas é a assessoria técnica independente que atua na região, e atendeu ao pedido das comunidades de serem consultadas anteriormente sobre como deveria se dar o Plano de Trabalho e ações da assessoria no território.
Uma das maiores dificuldades da comunidade é a falta de acesso à internet e sinal de telefone. Por isso, em razão da pandemia, uma quantidade limitada de pessoas, tanto da Aedas, quanto dos quilombos, estiveram presentes no lançamento, reafirmando os acordos que estabeleceram entre ambas, e que consta no documento, que foi impresso e entregue às comunidades.
Lucas Vieira, coordenador territorial da Aedas na Região 01, fez um histórico da parceria entre os quilombos e a assessoria, e os compromissos que vêm sendo firmados em relação ao Protocolo. “Nosso primeiro compromisso foi de contemplar as comunidades quilombolas no Plano de Trabalho da Aedas. Depois, de garantir uma equipe específica, que pudesse acompanhar o território e suas demandas de perto, mesmo na pandemia. Hoje, esse trabalho está concretizado com o protocolo, que é a representação das reivindicações de vocês. Agora, o mínimo que podemos garantir, é o máximo de respeito às comunidades; num processo de confiança, diálogo e escuta”, disse.
Em sua grande maioria mulheres (jovens, adultas e idosas), elas falaram do otimismo que é ter o auxílio da assessoria nessa luta, pós desastre da Vale. Olizia Braga, liderança do Quilombo Ribeirão, disse estar feliz com o Protocolo, pois traz a segurança de que o trabalho da assessoria não está chegando de qualquer jeito, mas com respeito aos quilombos. Maria Matozinhos, do Quilombo Rodrigues, agradeceu pelas orientações que têm recebido da Aedas, pela ajuda e compreensão que tem se dado, e disse que espera que continue assim até o fim dessa luta.
Karina Roberta, do Quilombo Sapé, disse que o protocolo é uma forma de proteção, para que as pessoas não entrem mais na comunidade sem respeito. “Era uma coisa que a gente não tinha no papel, agora a gente tem. Queremos que os trabalhos, daqui pra frente, acelerem ainda mais, que possa andar, e acreditamos que o protocolo agora vai acelerar isso. Que nossa parceria não seja só pro trabalho, mas que possamos levar pra vida também”, disse a moradora quilombola, firmando os laços com a assessoria.
Por conta da pandemia de Covid-19, o evento teve que ser bem restrito. Nair Conde, do Quilombo Marinhos, lamentou, pois ela relembra que as quatro comunidades gostam de receber as pessoas com comida, música, dança e muita alegria. O respeito, foi a palavra mais falada na ocasião. “A maioria das pessoas que vêm às nossas comunidades, e dizem estar fazendo um trabalho, “entre aspas” com a gente, não tem nada de respeito, às vezes fazem mesmo é debochar, como se nós não estivéssemos entendendo, como se fôssemos burros. E com vocês, graças a Deus não está sendo assim. A gente quer que vocês estejam com a gente, orientando em todos os trabalhos. Foi bom ver o rosto de cada um sem ser pelo telefone, dá vontade de abraçar, mas infelizmente não podemos por conta da pandemia. Espero que passe logo o isolamento, para que podemos estar fazendo uma celebração das quatro comunidades juntas. Sejam muito bem vindos”, finalizou a liderança.
Para ter acesso ao Protocolo de Consulta, você pode baixar o documento aqui:
Texto: Carmen Kemoly