Conhecer as comunidades, entender o território, saber as necessidades. Com este intuito a organização sem fins lucrativos Peabiru veio de São Paulo para trabalhar junto às comunidades atingidas na construção de uma reparação coletiva digna. A consultoria da organização Peabiru foi contratada pela Aedas para auxiliar na elaboração dos Planos Populares que envolvem obras, como o centro comunitário. 

A Peabiru ficou quase 7 dias caminhando pelas ruas das comunidades de Vieiras, Lagoa das Flores e Pinheiros e visitando algumas famílias atingidas para escutar suas histórias e sonhos para o futuro. No final da visita foram realizadas duas reuniões ampliadas, uma em Pinheiros e outra em Vieiras.

Durante as reuniões ampliadas foi elaborada uma linha do tempo das comunidades resgatando as festas culturais, as tradições e as datas marcantes para as comunidades. As pessoas atingidas levaram fotos para contar a história de Itatiaiuçu e narraram momentos importantes para a vida, não só das famílias atingidas, mas para as comunidades. “A ideia da atividade é juntar as pessoas, se misturando um pouco e a partir disso, construir a memória das comunidades a partir das fotografias”, relatou Caio Santo Amore da Peabiru.

Diversas memórias estiveram presentes durante o encontro. As pessoas atingidas relembraram como era a vida nas comunidades. “Nesta foto eu tinha 12 anos de idade e me formei nesta escola, em 1992. É muito importante colocar para as pessoas de fora como vivemos e sobrevivemos no local. A memória é importante para conseguir trazer melhorias para a comunidade”, contou o atingido José Roberto, o Zezé, da comunidade de Vieiras.

As pessoas atingidas ainda relembraram como era o antigo centro comunitário, resgatando as festas que aconteciam. “Muita coisa boa acontecia no antigo centro comunitário, como festas de aniversário de crianças, inclusive o aniversário de dois anos da minha neta, festa de 15 anos. Era um espaço muito bom, devemos lutar por um novo lugar como o que tínhamos”, enfatizou o atingido Geraldo. A atingida Maria Francisca recordou dos bailes mensais que tinham no espaço: “eu já ganhei um concurso de lambada lá”.

As reuniões ampliadas e a construção da linha do tempo coletiva reforçou a importância da união e como eram realizadas atividades coletivas que unificavam a vida nas comunidades atingidas. A linha de tempo foi usada como ferramenta de resgate das tradições e manifestações culturais que vai apoiar a construção do Plano Popular das medidas de reparação coletiva que envolvam obras e mudanças nas comunidades atingidas. É o início de um novo capítulo, um novo futuro, mesmo com uma lama invisível que ainda assombra as comunidades atingidas de Itatiaiuçu.